quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Médicos mais do que suspeitos de beneficiarem Indústrias Farmacêuticas em nome da ciência.


Nota de C&T:
A matéria abaixo, postada na íntegra, foi publicada hoje na Folha.com, está excelente, trata-se de uma discussão polêmica e que merece muita atenção da sociedade.
O Poder Público, através do Ministério Público, deveria está acompanhando este assunto. Trata-se de um assunto de interesse social. São conflitos de interesses expressivos e impactantes na vida dos ciadadãos,  que envolvem muito dinheiro.
A priori não podemos afirmar que os consensos clínicos (diretrizes) estão todos corrompidos, não, longe disso, mas se têm suspeitas. Nestes casos, temos que investigar com rigor e colocar tudo às claras.
Prescrever um medicamento de uma Indústria que o patrocina, é uma decisão privativa do médico, sua relação com o paciente não se discute nesse fórum, mas criar diretrizes, que não só influencia outros médicos, como também os obrigam a seguir determinadas condutas, é um fator relevante.
Este tipo de profissional que opina em favor do seu patrocinador, ou até mesmo em causa própria como investidor (acionista) de determinadas Indústrias Farmacêuticas, tem que ser tomada uma providência urgente. Temos leis de sobra no Brasil para se aplicar a estes casos e proteger a sociedade dos "abnegados profissionais" secos por dinheiro, poder e fama.
Nota postada por Teófilo Fernandes

Médicos ligados à indústria ditam regras de conduta
Médicos brasileiros responsáveis por elaborar diretrizes clínicas possuem conflitos de interesse com os laboratórios farmacêuticos.
CLÁUDIA COLLUCCI

Diretrizes são orientações que padronizam a conduta para determinada doença. Feitos por entidades profissionais, esses documentos definem, por exemplo, qual a taxa de colesterol ou o nível de pressão arterial aceitáveis e quais as classes de remédios que devem ser usadas no tratamento dos pacientes.

A Folha pesquisou 11 diretrizes de algumas doenças -hipertensão, obesidade, hepatites B e C, diabetes, artrite reumatoide, tromboembolismo venoso, disfunção erétil, artrose e climatério.

Dos 111 profissionais que fizeram o documento sobre hipertensão, 63 (56,7%) declararam que, nos últimos três anos, fizeram estudos, receberam ajuda, deram palestras ou escreveram textos científicos patrocinados por laboratórios. Dois deles têm também ações da indústria.
A situação se repete na diretriz sobre climatério e doenças cardiovasculares. Dos 33 médicos que a assinam, 16 (48,5%) são patrocinados pela indústria. Dois têm ações de laboratórios.
Na diretriz de disfunção erétil, todos os cinco médicos têm conflitos de interesse.

A questão é polêmica, embora não seja ilegal. Nos EUA, há um movimento médico crescente que considera inaceitável esse tipo de conflito. Apontam que, ao terem ligação com a indústria, os médicos podem favorecê-la prescrevendo mais remédios, minimizando os riscos das drogas ou distorcendo dados sobre a eficácia delas.

O CFM reconhece a situação "conflituosa", mas diz que não há hoje nenhuma restrição que médicos ligados a indústria participem de consensos. "Não tínhamos pensado nisso, mas é preciso rever essa situação. É difícil adotar diretrizes com pessoas comprometidas com a indústria. Pode perder a credibilidade", afirma Roberto D'Ávila, presidente do CFM.
O médico Wanderley Marques Bernardo, coordenador do "Projeto Diretrizes", da AMB (Associação Médica Brasileira), afirma que a diretriz segue uma metodologia rígida e que é baseada em fortes evidências científicas.

Segundo ele, há um grupo isento que faz uma revisão final. "Se houver ainda algum problema ou interesse, seja ele deliberado ou não, a gente corrige", diz ele.

O cardiologista Jadelson de Andrade, coordenador das diretrizes da SBC (Sociedade Brasileira de Cardiologia), argumenta que médicos de ponta geralmente são chamados pela indústria para participar de estudos e dar consultorias ou palestras.

Para ele, o ideal seria que o governo destinasse uma verba para a produção de diretrizes clínicas formuladas por pessoas isentas de conflitos.

Para Inez Gadelha, coordenadora do departamento de atenção especializada do Ministério da Saúde, "o ideal não existe". "É muito difícil não ter conflito. Uma coisa eventual, um jantar, uma viagem, não compromete. A questão é o grande conflito."

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