quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Especialistas: Endocrinologista e Cardiologista, divergem sobre a proibição dos medicamentos pela Anvisa. Quem estará com a razão?

Especialistas divergem sobre a proibição dos medicamentos pela Anvisa.
16 de fevereiro de 2011 | 0h 00
Fernanda Bassette - O Estado de S.Paulo
''Chegamos a conclusões opostas às da agência''
Ricardo Meirelles, PRESIDENTE DA SOCIEDADE. BRASILEIRA DE ENDOCRINOLOGIA E METABOLOGIA
QUEM É : Formado pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, é presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia e diretor-geral do Instituto Estadual de Diabete e Endocrinologia Luiz Capriglione.

Para o endocrinologista Ricardo Meirelles, proibir o uso dos medicamentos usados no tratamento da obesidade é uma medida extrema da Anvisa.

Por que a Sbem é contra a proibição do uso dessas drogas?
Porque atualizamos as diretrizes de tratamento de obesidade no final de 2010 e chegamos a conclusões opostas às da Anvisa. Esses remédios, quando bem prescritos, são úteis, bem tolerados e trazem bons resultados. Ruim é quando são usados sem critério. Tirar do mercado é como proibir usar carro porque eles causam acidentes.
A Anvisa diz que há estudos comprovando que essas drogas não trazem benefícios.
Não tivemos acesso a esses estudos. Quando pedimos para ter acesso, disseram que eram estudos confidenciais. Na ciência, nada pode ser confidencial.
A Anvisa diz que está seguindo uma tendência internacional.
O Brasil não tem de imitar ninguém. Temos de nos basear em evidências científicas. Se elas forem de qualidade, nós vamos concordar em tirar o medicamento do mercado. Mas não podemos partir de ideias preconcebidas. Nós, endocrinologistas que lidamos diariamente com a questão da obesidade, não fomos ouvidos previamente pela agência. Fomos comunicados.
Esses medicamentos são realmente eficazes e seguros?
Sim, para determinados casos de pacientes que não respondem mais ao tratamento convencional e não tenham problemas cardíacos. A nossa intenção era de que o Sistema Único de Saúde (SUS) colocasse esses medicamentos à disposição na rede pública. Esses medicamentos são um sucesso terapêutico porque, além da perda de peso, também ajudam a controlar o diabete e a hipertensão.
***
''Governo está na linha exata da proteção do paciente''
Marcelo Ferraz Sampaio, CHEFE DO LABORATÓRIO DE BIOLOGIA MOLECULAR DO DANTE PAZZANESE

QUEM É : Doutor em ciências pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, é chefe do laboratório de biologia molecular do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia e vice-diretor clínico do Hospital Oswaldo Cruz.
Para o cardiologista Marcelo Ferraz Sampaio, a proibição deve ser total.
A Anvisa quer proibir o uso de todos os emagrecedores. Qual a sua avaliação?
Concordo plenamente. Antes, qualquer médico prescrevia, sem nenhum critério. E o uso indiscriminado dessas drogas continuou mesmo depois da restrição imposta pela agência. Os riscos de complicações cardíacas são muito grandes, mesmo em pacientes sem histórico.
De que maneira continuou o uso indiscriminado?
Há muita solicitação pessoal. A pessoa é amiga do médico e pede uma receitinha, sem fazer a consulta. Ele prescreve, não pede nenhum exame e não faz o acompanhamento necessário. O acesso continua fácil.
Endocrinologistas reclamam que não foram ouvidos antes.
É papel da Anvisa cuidar disso. Sou a favor de que a nossa agência se aproxime da FDA (agência reguladora americana). Na hora em que a FDA impôs restrições, elas devem ser seguidas.
Quais são os problemas desses medicamentos?
Eles podem causar efeitos colaterais potencialmente graves. Podem provocar arritmias, taquicardias e até enfarte.
É possível emagrecer sem remédio?
Sim. Eu mesmo já prescrevi muita sibutramina. Há dois anos, depois dos resultados mostrando os riscos, só trato meus pacientes com dieta e exercícios físicos. Remédio é uma grande muleta. A pessoa toma a medicação pensando que vai poder continuar comendo de tudo. A Anvisa está na linha exata de proteção do paciente e não dos interesses da indústria farmacêutica.

Fonte: http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20110216/not_imp680092,0.php

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