segunda-feira, 25 de março de 2013

Laboratórios dão descontos de até 68% em medicamentos

Consumidor precisa se cadastrar nos programas das empresas

Colaborou Andrea Freitas
Publicado:23/03/13 - 17h52.

Grandes laboratórios farmacêuticos oferecem descontos de 20% a 68% sobre os preços de alguns medicamentos, sobretudo aqueles de uso contínuo que costumam ser os mais caros. É o caso por exemplo, do Lipitor 20mg, da Pfizer, que custa R$ 171,84 a caixa com 30 comprimidos e pode ser comprado por R$ 54,99, ou do Exelon, da Novartis, cujo valor pode passar de R$ 515 para R$ 262,65. Embora a prioridade dos programas sejam os remédios para doenças crônicas, é possível encontrar também produtos de uso mais corriqueiro, como o Cataflam, anticoncepcionais e até medicamentos contra impotência, como Viagra e Cialis.

Para ter direito aos descontos, os consumidores precisam se cadastrar em programas de apoio à saúde mantidos pelos laboratórios. Mas muita gente nem sabe que eles existem. O acesso aos programas é simples. Não há nenhum critério de renda, idade ou mesmo tipo de doença. A única exigência das empresas é que o paciente tenha uma receita médica. E são unânimes em afirmar que o principal objetivo desses programas é garantir a continuidade dos tratamentos e disseminar informações sobre saúde.

— O paciente é uma montanha-russa. No caso do colesterol, por exemplo, ele começa a tomar o remédio, faz novos exames, a taxa baixa e ele interrompe. E, como é uma doença sem sintomas, pouco tempo depois, ele está com os níveis altos de novo. Com o programa, observamos que o tempo médio de tratamento passou de três para seis meses — diz Vagner Pin, diretor Comercial e de Desenvolvimento de Negócios da Pfizer, que já cadastrou mais de um milhão de pessoas em dois programas, o primeiro iniciado em 2006.

O sistema dos laboratórios funciona assim: a pessoa entra no site ou liga para um Serviço de Atendimento ao Consumidor (SAC), faz o cadastro, informa o CRM do médico que prescreveu o remédio e verifica se o produto está na lista dos que têm desconto. Se estiver, verifica as farmácias credenciadas e, depois, é só ir a uma delas, com receita médica, identidade ou número de inscrição no programa e comprar o remédio.

Propaganda dos descontos é proibida

A parte mais complicada é saber quais são os medicamentos cobertos pelos descontos. Os laboratórios não podem fazer uma divulgação ostensiva dos produtos com redução de preço, sob pena se serem punidos pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), órgão que regula o setor. “A propaganda de medicamentos sujeitos à prescrição médica para o público leigo é vedada pela Lei 9294/96. Mesmo a propaganda indireta, como merchandising, por exemplo, é vedada pela legislação”, informou a Anvisa, em nota, ao ser consultada sobre os programas.

Na maior parte das farmácias, mesmos as credenciadas, também não há informações sobre os programas e o desconto só é dado quando o cliente já chega cadastrado. Outra fonte de informação para os pacientes são os médicos, mas o Conselho Regional de Medicina do Rio (Cremerj) condena a prática.

— Não é papel do médico indicar que o medicamento tem desconto. Por mais que seja um benefício para o paciente, isso colocaria o médico numa situação, no mínimo, desconfortável. Afinal, se o laboratório pode cobrar R$ 200 de quem se cadastrou no site, por que precisa cobrar R$ 300 dos outros? — indaga Márcia Rosa Araújo, presidente do Cremerj.

O executivo da Pfizer rebate:

— Quando uma pessoa se cadastra no programa, ela recebe uma série de informações sobre a própria saúde, empenha-se no tratamento e é nisso que as empresas fazem um investimento.

Polêmicas à parte, para o consumidor é vantajoso investigar se o remédio que tem que usar é alvo de desconto. Foi o que fez a empresária Adejaci Ribeiro. Aos 65 anos, hipertensa, ela toma cinco medicamentos de uso contínuo que, pelo valor de tabela, sairiam por R$ 486,92 por mês.

— É um gasto de mais de meio salário mínimo — reclama.

Por isso, inscreveu-se em dois programas. O Onglyza de 5mg, para diabetes, passou de R$ 208,71para R$ 99,66, queda de 52%. Já o Lipitor de 10mg baixou de R$ 141,84 para R$ 55,31, 61% menos. Só com estes dois, ela deixou de gastar R$ 195,58 por mês, ou R$ 2.346,96 por ano.

E a busca de economia ficará ainda mais necessária, já que depois do dia 31, haverá o reajuste anual dos medicamentos. O percentual não foi fixado.
 
Nota de C&T:
Até aqui nenhuma novidade, faz anos que as Indústrias Farmacêuticas oferecem descontos e outros benefícios, aliás, o tema correto é  só benefícios, nada de descontos, este termo pode trazer problemas éticos ferindo relações de compliances. Não há divulgação direta, mas indireta existe e em grande quantidade. Durante tempos milhares de médicos receberam cartões provisórios que entregavam aos pacientes em mãos, até aí nada demais, pelo contrário, pacientes devidamente documentados com uma prescrição médica tinham em mãos tais cartões orientados na maioria das vezes pelos seus médicos de confiança. E exigência da ANVISA de proibir envolvimentos de médicos nestes programas é um exagero, uma falta do que fazer, um desserviço a sociedade, pura hipocrisia. O pior é deixar o paciente nas mãos dos competentes operadores de marketing, excluindo o médico desta relação. A propaganda chega de qualquer forma ao conhecimento dos pacientes, muitas vezes errada.
Não seria melhor a ANVISA através de sua câmara especializada identificar as razões pelas quais as Indústrias oferecem tantos descontos, sem limites de quantidades e tempo de uso de seus produtos envolvidos nos programas? Qual é a justificativa da Indústria lutar por aumentos anuais em média de 6% e oferecer descontos de até 68% para o consumidor final?Imaginem todos os custos embutidos e mesmo com estes descontos para os consumidores estes produtos ainda dão lucros.
Quanto aos reais interesses das Indústrias com estes programas poderemos discutir em outra oportunidade, podendo inclusive ser nos comentários.

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