Laboratório pede aprovação de cannabis medicinal no Brasil
02/05/2011 - 15:53

Já aprovado no Canadá, nos EUA e em alguns países da Europa, o medicamento, que serve para tratar a esclerose múltipla, pode chegar ao Brasil em breve. A lei do país não permite remédios que tenham extractos da cannabis na sua composição, mas existem brechas para casos específicos.
A GW Pharmaceuticals, fabricante do Sativex®, inclusive já iniciou discussões com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), entidade que regula os medicamentos no Brasil, no fim do ano passado, para a venda do remédio no Brasil, mas até ao momento não houve a aprovação.
De acordo com o professor de farmacologia da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Gilberto da Nucci, a eficiência do uso de princípios da cannabis no combate à dor já está comprovada, mas ainda não se sabe exactamente como ela age no cérebro.
"A Cannabis sativa é utilizada como analgésico há mais de 5 mil anos. Foram identificados canabinóides endógenos que actuam em receptores específicos no cérebro em sistemas de processamento de dor", diz. "Os canabinóides orais, tais como tetrahidrocanabinol, canabidiol e nabilona demonstram eficácia analgésica em dor neuropática periférica ou central, artrite reumatóide e fibromialgia", explica.
"Não é conhecido o mecanismo de acção dos canabinóides no cérebro. Foram identificados receptores para canabinóides endógenos, entretanto, não se sabe ainda a importância dos mesmos na acção da cannabis", pondera.
Ainda assim, Da Nucci considera que há pouco risco. "Não há evidências de que o uso por período curto de tempo cause malefícios aos pacientes. Esta substância já está liberada para ensaios clínicos, assim como em vários outros países, mas não no Brasil. Vários estados americanos aprovaram leis estaduais permitindo a venda e o uso da cannabis para uma variedade de indicações terapêuticas", diz.
Mesmo quanto ao uso terapêutico na forma de cigarro, liberado em alguns estados americanos, como a Califórnia, por exemplo, Da Nucci faz avaliação positiva. "Um estudo recente demonstrou que a inalação da cannabis três vezes ao dia, por cinco dias, reduziu a intensidade da dor e melhorou a qualidade do sono em pacientes com neuropatia periférica. A inalação da cannabis foi bem tolerada", diz.
Para o professor, as pesquisas com cannabis podem mostrar à medicina um novo campo de acção, com novas substâncias sintéticas sem os efeitos indesejáveis do THC (princípio activo da droga), que poderiam ser úteis no tratamento de várias doenças. "São exemplo as doenças de origem cognitivas, a dor, problemas gastrointestinais e doenças neurológicas. É neste campo que se concentram, hoje, a maior parte dos cientistas que estudam os compostos canabinóides", diz.
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