sexta-feira, 24 de junho de 2011

"Quais as consequências da interferência da indústria no desempenho do profissional da saúde?"

Médico expõe riscos da relação com indústrias farmacêuticas

Flávio Castro
Da Assessoria de Comunicação do HUB

Quais as consequências da interferência da indústria no desempenho do profissional da saúde? Este é um dos principais tópicos da palestra “Conflito de interesses no resultado do trabalho médico”, que ocorre na terça-feira (21), no auditório I do Hospital Universitário de Brasília.
O evento dá início à série de palestras em comemoração aos 40 anos do Hospital Universitário de Brasília, que culminará em uma grande festa. Daqui até fevereiro de 2012, o dia 21 será marcado por um grande acontecimento no hospital da UnB.

Leopoldo Luiz dos Santos Neto éprofessor de Clinica Médica da Universidade de Brasília, com mestrado em Clínica Médica e doutorado em Patologia Molecular, ambos, pela UnB. E é ele quem inicia o ciclo de palestras, com um assunto que o preocupa há mais de uma década.
- A medicina alcançou uma evolução fantástica em termos de tecnologia, de atenção à saúde. Hoje temos que levar em conta os avanços, mas também os desafios. Um deles, do século 21, é o conflito de interesses na remuneração do contato entre profissionais da saúde e a indústria farmacêutica. É uma preocupação de pesquisadores europeus e norte-americanos que se volta para a interferência dessa relação na tomada de decisão do profissional da saúde.

O médico adianta que não é pesquisador desta área, mas que trará dados significativos a respeito do tema que vêm sendo discutido em países desenvolvidos.

- Vou expor dados de literatura. Não temos estatística do Hospital Universitário a respeito desta realidade, que tem demandado estudo em paises desenvolvidos, cujo ponto central está no conflito de interesses. No Brasil, o Código de Ética Médica é um avanço tremendo nesta matéria, porque obriga o profissional a declarar o seu conflito, mas precisamos avançar, sobretudo no que diz respeito ao tipo de remuneração e quanto o profissional recebe nesta relação com a indústria farmacêutica.
A apresentação terá três momentos. No primeiro haverá um enfoque histórico sobre o problema, seguido de uma exposição dos principais pesquisadores que apontam como este mecanismo ocorre e, por último, uma perspectiva de solução para o conflito de interesses, com a apresentação de medidas já implementadas e outras em discussão.

Agonia e êxtase
Professor Leopoldo explica que esta relação está presente na prática de todo profissional médico. “É a agonia e o êxtase da medicina no século 21”, diz.
- Sabemos que muitos colegas não têm independência a não ser o juízo pessoal nos seus atos médicos por conta, talvez, desta relação com o laboratório. As indústrias podem promover o desenvolvimento científico ou atrapalhar, no momento em que algumas pessoas, por questões comerciais, priorizam esta relação que interfere no seu contato com o paciente.
Leopoldo esclarece que a preocupação com o tema surgiu do exercício da atividade médica e do espaço que o tema alcançou em publicações de grande importância para o profissional médico. “Sou uma pessoa interessada nos temas da atualidade e este é um assunto que pode não ser popular, mas é atual. Minha inquietação se cristalizou quando vi o volume de textos sobre o tema em revistas de grande impacto na medicina, entre elas a New England Journal of Medicine, uma das maiores do mundo. Nos últimos dez anos esta situação tem sido identificada como uma epidemia nos paises desenvolvidos, mas acredito que no Brasil ainda estamos caminhando para esta realidade”.

Um comentário:

  1. Este assunto sempre me encantou. Será que um médico que tem desvio de conduta precisa de uma Indústria Farmacêutica para ganhar dinheiro? O que os críticos de plantão à Indústria Farmacêutica e médicos que recebem patrocínios dizem a respeito da formação ética e moral de seus colegas? Como pode médico fazer cirurgias desnecessárias, utilizar matériais inadequados, utilização de órteses e próteses de determinados fabricantes previamente negociadas as comissões? Quem não tem caráter formado na base, morre sem adquiri-lo.
    Será que os defensores da moral e da ética médica conhecem todas as formas de conflitos de interesses? Cito alguns para reflexão:
    1. Comissões que chegam até 40% sobre o valor líquido dos materiais utilizados nas cirurgias que utilizam OPME (próteses, pinos, parafusos, válvulas, stents e outras endopróteses metálicas),
    2. Exames complementares desnecessários, porém alguns recebem incentivos dos laboratórios de análises.
    3. Médicos donos de laboratórios de exames que são diretores de planos de planos de saúde que se beneficiam diretamente ou via outras influências.
    4. Médicos donos de distribuidoras de materiais cirúrgicos.
    5. Cooperativas que cartelizam serviços.
    6. Padronizações de medicamentos em serviços públicos, entre outros.
    O assunto é sério e tem muita gente importante envolvida, inclusive muitas autoridades públicas.

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