sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Preço de medicamentos para a pele dispara


The New York Times News Service / Sindicat

Estes são os produtos básicos da maioria dos consultórios de dermatologia: cremes e pomadas genéricas que tratam de tudo, de erupções cutâneas a pé-de-atleta e sarna. Muitos médicos prescrevem esses medicamentos sem pensar duas vezes, mas alguns dermatologistas afirmam que os pacientes estão reclamando cada vez mais de um recente, rápido e misterioso aumento em seu preço.

Veja o exemplo do dipropionato de betametasona, pomada utilizada para aliviar coceiras na pele: em 2008 um tubo custava 18,17 dólares. Agora, o remédio custa 71,28 dólares, de acordo com a Red Book, que registra os preços de venda de medicamentos. A permetrina tópica, que combate os ácaros da sarna, custava 29,25 dólares em 2008, mas saltou para 71,08 dólares hoje.

O repentino aumento de preços deixou médicos e pacientes perplexos.

"Parece que alguma coisa está acontecendo, mas não temos os detalhes do processo", afirmou o Dr. Steven R. Feldman, professor de dermatologia no Centro Médico Batista de Wake Forest, em Winston-Salem, Carolina do Norte. "Nunca imaginei que esses antigos medicamentos genéricos pudessem ficar tão caros."

Com os preços mais altos, o dinheiro extra aumentou o faturamento das poucas empresas que fabricam esses medicamentos, e apareceu até mesmo entre os números da conflituosa aquisição de uma dessas fabricantes pela Sun Pharmaceuticals, uma empresa farmacêutica com sede na Índia.

Esse fenômeno permite entrever o obscuro e muitas vezes ilógico processo de precificação dos medicamentos, onde os valores nem sempre são ditados pela simples regra da oferta e da demanda.

"Na maioria dos mercados, a economia básica diria que quanto menor o preço, maior o volume", afirmou Les Funtleyder, o gestor de fundos médicos da Poliwogg, um fundo de hedge e de investimento em participações. "Mas o mercado dos cuidados com a saúde não faz parte da economia tradicional."

Além dos gestores de lucro da indústria farmacêutica, responsáveis pelos planos de venda dos medicamentos controlados, poucas outras pessoas no setor tomam decisões baseadas no custo de fabricação, afirmou Funtleyder. Quando os médicos prescrevem um medicamento, eles frequentemente não pensam em seu preço. E, uma vez que o plano de saúde de muitos pacientes cobre os gastos com medicamentos prescritos, eles também ignoram os valores de venda. Essa situação oferece uma grande oportunidade de lucro para algumas empresas, especialmente em áreas de menos destaque no setor, como a dermatologia, onde o aumento de preços pode não atrair tanta atenção.

"Existe muita gente por aí que sente coceira, mas muitas dessas pessoas conseguem viver tranquilamente", afirmou Funtleyder. "Erupções cutâneas não são uma emergência de saúde pública."

Ainda assim, alguns médicos afirmaram que esses preços são inaceitáveis. “Os pacientes reclamam a cada consulta", afirmou o Dr. Mark G. Lebwohl, presidente do conselho médico da Fundação Nacional de Psoríase e chefe de dermatologia no Mount Sinai Medical Center, em Manhattan. "Eu acho um absurdo que o custo de uma pomada genérica – ou de qualquer outra pomada – seja superior ao de uma consulta médica."

A maior parte dos cremes e pomadas genéricas fabricadas nos Estados Unidos é feita por três empresas: a Perrigo, a Taro e a Fougera, que foi recentemente comprada pela Sandoz, a divisão de genéricos da Novartis. É um negócio especializado, que exige os medicamentos certos e o conhecimento certo. Antes de receber autorização para fabricar um medicamento, as empresas precisam demonstrar à Administração de Medicamentos e Alimentos (FDA, sigla em inglês) que as pomadas são absorvidas pela pele nas mesmas quantidades que os medicamentos de marca, o que é mais difícil de comprovar do que em relação às pílulas genéricas.

"Demora muito tempo e custa caro receber a aprovação para esses medicamentos", afirmou Brian Sheehy, diretor da IsZo Capital, sócia minoritária da Taro, que afirmou que o aumento da fiscalização dos processos de fabricação pelo FDA elevou os custos e fez com que algumas empresas interrompessem a fabricação de determinados medicamentos. Portanto, mesmo com o aumento dos preços, "ainda não é lucrativo fornecer esse tipo de medicamento ao mercado".

De forma geral, os preços de mais de uma dúzia de medicamentos dermatológicos genéricos aumentaram significativamente desde 2010, de acordo com o distribuidor Cardinal Health, que registra as mudanças de preço em medicamentos genéricos. A Express Scripts, uma gestora de lucros da indústria farmacêutica, descobriu que o total gasto com medicamentos dermatológicos cresceu 18,2 por cento nos primeiros cinco meses de 2012, em comparação com o ano passado, principalmente em função do aumento do custo das receitas médicas individuais.

Jim Grossman, executivo de relações públicas em Nova York, afirmou ter ficado surpreso quando a farmácia Target recentemente cobrou 24 dólares por uma pomada fungicida de nistatina e triancinolona feita pela Taro, que ele usa há anos. O medicamento já esteve na lista de genéricos que a Target vendia por quatro dólares.

"Eu entendo que o preço dos produtos aumente, mas não que aumente seis vezes da noite para o dia", afirmou Grossman. Ele acrescentou que a Target cobrou apenas quatro dólares pela pomada, depois que ele reclamou.

James Kedrowski, o executivo chefe interino da Taro, afirmou que a empresa fez o máximo possível para oferecer preços justos ao consumidor. Mas, segundo ele, o preço de muitos de seus produtos estava tão baixo que outras empresas farmacêuticas "estavam abandonando o mercado porque não conseguiam mais ganhar dinheiro".

Isso não quer dizer que as empresas não estejam se beneficiando com o aumento dos preços. Em uma mensagem telefônica sobre lucros, em maio, o gerente e diretor executivo da Perrigo, Joseph C. Papa, informou os investidores que o "ambiente de preços favorável" para os medicamentos controlados da empresa era a principal razão para o aumento bruto de 84 por cento nas vendas de medicamentos controlados durante o último trimestre.

A Perrigo e a Sandoz se negaram a comentar suas estratégias de precificação. Entretanto, em um comunicado de imprensa, a Sandoz afirmou que "acreditamos que nossos genéricos dermatológicos complexos e difíceis de fabricar continuam a oferecer uma excelente relação de custo-benefício para os pacientes e consumidores dos Estados Unidos".

Ainda não se sabe se esse aumento de preços irá durar. Kedrowski afirmou que em alguns casos os preços começaram a cair novamente, à medida que os concorrentes que haviam parado de fabricar determinados medicamentos viram uma oportunidade e retornaram ao mercado. Até recentemente, a Taro era a única fabricante de nistatina, afirmou, mas agora a empresa possui quatro concorrentes. Contudo, o preço da pomada utilizada por Grossman, uma mistura de nistatina e de triancinolona, continua alto.

"Acreditamos que o mercado vai se resolver basicamente sozinho", afirmou Kedrowski. Outro analista tinha a mesma opinião, afirmando existirem sinais de que os preços de alguns medicamentos já começaram a cair, mesmo que isso ainda não apareça nos últimos dados sobre os preços do setor, uma informação incrivelmente vaga.

Mas nem todo mundo concorda. Saber se os preços continuarão altos tornou-se um importante ponto de disputa entre a Sun Pharmaceuticals, que é proprietária de dois terços da Taro, e os acionistas minoritários, que afirmam que as ações valem mais do que a Sun está querendo pagar. Em julho, um comitê especial do conselho diretivo rejeitou a oferta de aquisição feita pela Sun, afirmando que ela é inadequada.

Sheehy, da IsZo Capital, se opôs à venda, argumentando que os preços permanecerão altos. "É uma situação estranha, porque todos esses produtos são pequenos, individualmente, mas, em conjunto, eles são muito significativos", afirmou.

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Fonte original: http://noticias.r7.com/economia/noticias/preco-de-medicamentos-para-a-pele-dispara-20120823.html

Um comentário:

  1. Gostaria de informar um site que descobri que lista os preços de medicamentos das farmácias online de todo o brasil.

    http://www.maispreco.com

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