terça-feira, 21 de agosto de 2012

Governo paga mais por remédio do Farmácia Popular

O Ministério da Saúde paga por uma cartela de anticoncepcional vendida no Programa Aqui Tem Farmácia Popular até 163 vezes mais do que municípios desembolsam pelo mesmo produto, distribuído gratuitamente nos postos de saúde de todo o País.

Levantamento feito pelo Estado com base em dados de um banco público de compras mostra que o ministério pagou mais por 17 dos 21 itens analisados. A diferença entre o que saiu do caixa do governo federal e o menor preço encontrado no mercado, em compras feitas este ano no programa, ultrapassa meio bilhão de reais (R$ 504, 5 milhões).
O coordenador do Programa Aqui Tem Farmácia Popular, Marco Aurélio Pereira, admite a diferença e diz que o ministério economiza em outros gastos que teria se a compra não fosse feita dessa forma.
Apesar da grande movimentação no mercado, Aurélio Pereira afirma que, em relação aos preços, fica difícil de competir com compras públicas. "São as farmácias que fazem a negociação."
O dinheiro investido, no entanto, é considerado extremamente alto por quem acompanha a política de assistência farmacêutica. "Se o governo pode gastar em média dez vezes mais em cada tratamento, porque esse investimento não foi feito antes na própria rede pública?", questiona o professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Augusto Afonso Guerra Júnior.
O vice-presidente da Associação Brasileira do Comércio Farmacêutico (ABCFarma), Álvaro Silveira Júnior, atribui as críticas a uma visão pouco abrangente. "Com o programa, o governo não se preocupa com a logística, não tem nenhuma surpresa com ineficiência no sistema, como dificuldades de licitação ou atrasos na entrega", disse. Além disso, o governo tem a disposição uma rede de farmácias com grande capilaridade, disponível para os usuários todos os dias da semana.
O promotor de Justiça Nélio Costa Dutra Júnior identifica um outro efeito do Farmácia Popular. "Como os preços pagos pelo governo federal são mais altos, fica desinteressante para o setor privado participar de disputas de compras nos Estados e municípios." Algo que, em sua avaliação, pode levar, no curto prazo, a um aumento do preço do remédio adquirido nas licitações. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Comentários de C&T:
O assunto não é novidade, desde o primeiro dia de existência do programa que é do conhecimento de quem conhece do mercado farmacêutico a possibilidade de furos desta natureza. O governo não tem capacidade de gestão sobre o que está sob seu comando, imaginem na rede privada que é muito mais capaz do que o Estado em matéria de gestão.
Não poderia se esperar outro comentário do Vice-presidente da Associação Brasileira do Comércio Farmacêutico (ABCFarma), Álvaro Silveira Júnior. A rede privada está sendo beneficiada enquanto os cofres públicos sofrem o impacto da má gestão do poder público. Por outro lado ele tem toda razão quando afirma que a logística oferecida pela capilarização das farmácias faz com que reduzam falhas que certamente ocorreria se toda responsabilidade logística fosse do próprio Estado. O Estado é incompetente na matéria gestão em alguns setores.
Não se justifica o Brasil pagar um preço tão alto por este programa assistencialista mesmo repassando para iniciativa privada a responsabilidade da capilarização. Não existe este custo tão elevado para fazer chegar o produto nas mãos dos necessitados. Redes de drogarias, distribuidoras e algumas indústrias farmacêuticas estão faturando uma fortuna com este programa.
A justificativa do coordenador do Programa Aqui Tem Farmácia Popular, Marco Aurélio Pereira, é uma prova cabal do seu desconhecimento da matéria. Jamais se pode justificar uma falha dessa natureza por razões subjetivas. Não vamos aqui falar de pacientes fantasmas, farmácias repassando os produtos para pontos não credenciados, etc.
Todo município tem um ponto de fornecimento do Programa Aqui Tem Farmácia Popular? Porque os mesmos medicamentos que tem no Programa continuam sendo vendidos normalmente nas farmácias que não estão no programa? Será dinheiro sobrando da população ou falta de conhecimento que ali ou em outro ponto da cidade tem aquele mesmo medicamento gratuitamente? O MPF tem que ficar atento.
O dinheiro é do Estado, portanto o controle tem que ser do Estado. Adquiram capacitação para fazer logística eficiente e economizem o dinheiro público, é isto que o Estado tem que fazer. Ajudem a rede privada com uma reforma tributária eficaz, por exemplo.
Comentário de Edson Teófilo Fernandes (representacoesnonordeste@uol.com.br)

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