quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

"A caralluma revelada" mais uma mentira ou verdade?

Nota:
O que tem fiscalização da ANVISA nem sempre é confiável, imaginem o que não tem. Acredito que está na hora da ANVISA de forma pró-ativa (medida rara), buscar detalhes sobre esta planta (droga fitoterápica) em benefício da sociedade, pelo menos para garantir que não faz mal. Cuidado com os oportunistas de plantão.
O texto abaixo na íntegra foi publicado no site da ALANAC (Associação dos Laboratórios Farmacêuticos  Nacionais) dado como fonte a Folha de São Paulo.

Fonte: Folha de São Paulo.
14/12/2010 - Duas cápsulas de caralluma por dia não salvam o verão. O fitoterápico da vez, superpopular na internet, pode até ajudar na dieta, mas o efeito não chega nem perto das promessas aclamadas em dezenas de sites.
"A caralluma revelada". Os anúncios estão estampados em redes sociais, links patrocinados e pop-ups. Sem falar em sites falsos, com depoimentos idem. A febre é tanta que, nos últimos 12 meses, houve um aumento de 800% nas buscas do termo "dieta caralluma" no Google.
"Dieta milagrosa ou fraude?", questiona uma das páginas. Entre os resultados prometidos, fim da compulsão alimentar e 11 quilos a menos em um mês.
Até a cantora Ivete Sangalo teria se beneficiado com as propriedades milagrosas do produto. Segundo sua assessoria de imprensa, não passa de propaganda enganosa.
Há muitos mitos e poucas verdades por trás da Caralluma fimbriata, planta asiática parecida com um cacto.
Reza a lenda -e o principal trabalho feito sobre a planta- que ela era usada na Índia para diminuir a fome e ajudar populações a suportar períodos com pouca comida.
"Pesquisas dizem que glicosídeos (derivados de açúcar) da planta inibem o mecanismo sensorial da fome e "enganam" o cérebro", afirma Edson Credidio, nutrólogo e pesquisador da Unicamp.
Essa ação no sistema nervoso é bem menor do que a dos remédios sintetizados, mas ainda assim interessante, de acordo com o farmacêutico Luis Carlos Marques, doutor pela Unifesp.
"Ajuda a mudar o perfil de alimentação sem efeitos colaterais conhecidos."
No estudo mais famoso, feito por um grupo de pesquisadores da Índia e dos EUA e publicado na revista "Appetite", em 2007, 50 homens e mulheres entre 25 e 60 anos foram divididos em dois grupos: um tomou um grama de extrato de caralluma e o outro, medicamento placebo.
Todos receberam aconselhamento nutricional. Depois de 60 dias, foram feitos testes de peso e de apetite. Não houve diferença de perda de peso entre os grupos, mas quem tomou o extrato relatou mais sensação de saciedade e menos apetite.
"Os próprios autores concluem que as diferenças entre o grupo placebo e o grupo controle não são significativas. Não se pode falar em eficácia desse produto", questiona Cid Aimbiré de Moraes Santos, presidente da Sociedade Brasileira de Farmacognosia (parte das ciências farmacêuticas que estuda princípios ativos naturais).
Efeito placebo ou não, a enfermeira Cássia Valieri, 36, emagreceu 26 quilos em quatro meses com uma fórmula contendo caralluma.
Fechou a boca também, mas garante que não teria conseguido sem o fitoterápico. "Perdi a fome. Tinha que programar o celular para lembrar de comer."

ORIGEM DESCONHECIDA
Marília Pacheco dos Reis, 58, secretária, não teve a mesma sorte. Pagou US$ 61 por 30 cápsulas na internet.
Na embalagem, além do nome "Caralluma Actives", havia endereço de um site em inglês e um folheto explicativo: tomar uma cápsula 30 minutos antes das refeições.
"É como se eu estivesse bebendo água. Não senti diferença." E não se livrou de nenhum grama dos cinco quilos que quer perder.
O responsável pelo site da Caralluma Actives no Brasil é o empresário Thales Prado. A marca não tem registro na Anvisa e é anunciada na rede com fotos de celebridades que teriam usado a fórmula. Sobre isso, ele diz: "Os depoimentos podem até ser falsos, mas os resultados, não."
De acordo com Prado, os fabricantes estão nos Estados Unidos. "Como o produto já vem com as informações de uso, qualquer um pode tomar sem acompanhamento", ele diz.
Não há nenhum medicamento fitoterápico registrado na Anvisa com Caralluma fimbriata. A agência não tem informações sobre a planta.
A única forma autorizada é a manipulada, que só pode ser vendida por farmácias registradas na vigilância sanitária e com prescrição de um profissional habilitado.
"O grande problema da caralluma são as propagandas enganosas e os produtos de origem desconhecida, vendidos pela internet", diz a nutróloga Marcella Garcez Duarte, diretora da Abran (associação de nutrologia).
A matéria-prima do fitoterápico manipulado no Brasil é importada. A empresa Pharma Nostra é uma das importadoras e vende para cerca de 7.000 farmácias de manipulação. Segundo a empresa, o produto vem de "fornecedores credenciados e qualificados, de países que produzem o ativo vegetal".

NÃO É MILAGRE
De acordo com Roberto Boorhem, presidente da Associação Brasileira de Fitoterapia, é difícil falar em emagrecimento só com caralluma. "Perder peso depende muito mais da qualidade do alimento que a pessoa ingere do que da quantidade."
A relações-públicas Érika Lovatte, 34, começou a tomar o fitoterápico há um mês, com prescrição. Perdeu dois quilos, mas também passou a comer mais salada, baniu o chocolate e trocou arroz branco por integral.
"Sem a dieta passada pela nutricionista, sei que não conseguiria."
Para a nutricionista Fernanda Pisciolaro, da Abeso (associação para estudo da obesidade), apesar de não haver efeitos colaterais conhecidos, é preciso cautela.
"Caralluma ou outro fitoterápico não deve ser prescrita para qualquer um. E o efeito pode ser tão sutil que o custo não vale a pena."
Jornalista: Juliana Vines
Jornalista: Hélio Schwartsman
14/12/2010 - "Não faz mal, não. É natural!". Embora o uso de fitoterápicos caia muitas vezes no guarda-chuva da chamada medicina alternativa, ervas contêm substâncias químicas que podem produzir efeitos dramáticos sobre o corpo.

Ao contrário das ultradiluições da homeopatia, que eliminam qualquer possibilidade de princípio ativo, a ingestão de vegetais pode até matar (e às vezes curar).

Venenos poderosos como a cicuta e o curare são apenas uma "plantinha". O mesmo vale para classes de alucinógenos e anestésicos.

O que difere um fitoterápico de um remédio comum é que só neste último sabemos mais ou menos o que estamos tomando e quanto.

O problema é a padronização. Uma planta contém centenas de compostos. Sabemos que a erva X é boa para a moléstia Y, mas não significa que tenhamos identificado a substância responsável pelo efeito. É possível que não seja um único composto.

Para agravar o quadro, as proporções entre os princípios ativos contidos em cada planta mudam conforme solo, clima, insolação, colheita, armazenagem e preparo.

A variabilidade nas quantidades de um dado princípio ativo entre diferentes lotes ou até cápsulas fica além do aceitável. Assim, pressupostos fundamentais da medicina, como fixar a dose terapêutica, tornam-se difíceis, para não dizer impossíveis.

O que de melhor se pode dizer dos fitoterápicos é que eles são um excelente ponto de partida para pesquisar e desenvolver remédios.
Jornalista: Juliana Vines

14/12/2010 - Não tem caralluma que me faça almoçar na hora certa ou tire a vontade de comer chocolate. Foram só cinco dias tomando o fitoterápico. Pode ser pouco, mas deu para ter uma ideia dos efeitos.

Não sei se fui influenciada pela enxurrada de anúncios que vi durante a semana, mas senti menos fome e, às vezes, até esqueci de comer.

No primeiro dia, tive dificuldades em prever o horário que iria almoçar. Afinal, é preciso tomar a cápsula mais ou menos uma hora antes. O problema é que nunca sei a hora que vou comer.

No segundo dia, tomei o remédio às 11h30 e esqueci completamente de almoçar às 12h30. Não tive fome. Quando ela voltou, por volta das 14h, estava maior ainda.

À tarde, lembrei de procurar lanche no horário certinho, mas não tive vontade de comer um sanduíche de queijo com presunto. Preferi um chocolate com amêndoas, bem mais atrativo.
No terceiro dia, tomei a caralluma às 12h43 e fiquei olhando no relógio de cinco em cinco minutos. Fui almoçar um pouco antes da hora e, por hábito, fiz o mesmo prato de sempre.
À noite, fiz um esforço e comprei um sanduíche. Só consegui comer metade, mas, antes, tinha beliscado uma fatia de panetone e bolachas (mesmo sem fome).

Não vou continuar tomando. Não me convenci de que o conteúdo da cápsula (encomendada em farmácia de manipulação, sem receita) é mesmo o extrato de uma planta importada da Índia

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