domingo, 13 de abril de 2014

Genéricos de má fama

A maioria dos insumos da indústria farmacêutica vem da Ásia. Serão eles 100% confiáveis? Por Riad Younes

por Riad Younes— publicado 13/04/2014 00:18, última modificação 13/04/2014 09:40
 
Os remédios dividem-se em duas categorias: originais e genéricos. Os primeiros são desenvolvidos e comercializados por um laboratório farmacêutico, público ou privado, enquanto seus genéricos são produzidos por outros laboratórios, geralmente após o fim da patente exclusiva. Do ponto de vista de médicos e pacientes, não importa se os medicamentos são originais ou genéricos, eles devem ser eficientes, conter as doses do princípio químico ativo exatamente como divulgado na caixa, e ser livres de impurezas tóxicas. Para farmácias, hospitais e órgãos governamentais, ambos deveriam ser estáveis e suportar armazenamento em condições normais. Por outro lado, espera-se que os genéricos sejam bem mais baratos.

Os genéricos, que de início aderiam a todos os preceitos citados, adquiriram fama e distribuição ampla em todo o mundo. Milhões de pessoas com baixo poder aquisitivo tiveram acesso a medicamentos pela primeira vez. No entanto, estudos e escândalos revelados nos últimos meses têm alertado a comunidade médica para o risco da disseminação descontrolada de medicamentos de qualidade questionável. Um dos perigos desse comércio ilícito, além de maus-tratos aos doentes, é a difamação dos genéricos. Estudo publicado na revista International Journal of Tuberculosis demonstrou que 9% dos remédios contra a tuberculose distribuídos em países em desenvolvimento não atingiram os mínimos níveis de eficiência. E, dependendo do país, os remédios falsificados ou abaixo do padrão atingiram mais de 16% (na África) e 10% (na Índia). No Brasil, os pesquisadores estimaram que 4% dos medicamentos para tuberculose sejam menos eficientes que o recomendado.

Atualmente, a Organização Mundial da Saúde, as Nações Unidas e a FDA estão focando atenção e recursos para combater a epidemia de remédios de qualidade duvidosa. Estima-se hoje que a maioria dos remédios comercializados nos Estados Unidos, e no Brasil provavelmente, assim como os insumos básicos para sua produção, é fabricada na Ásia. Uma das maiores indústrias farmacêuticas na Índia, a Ranbaxy, foi condenada a pagar multa de 500 milhões de dólares por falsificar dados e produzir drogas abaixo do padrão recomendado, escândalo que trouxe incerteza e pânico a doentes de todo o mundo. Pior, medicamentos produzidos em alguns países da Ásia foram proibidos, por seus respectivos governos, de ser administrados a pacientes no próprio país, mas sua exportação segue permitida.

A ONU reconhece que não existem órgãos e recursos suficientemente adequados para controlar a cadeia de produção e a qualidade de cada medicamento. A Anvisa, considerada uma das mais rigorosas do mundo, tem problemas semelhantes. Na semana passada, a FDA lançou um programa ambicioso para testar sistematicamente os medicamentos genéricos comercializados nos EUA, garantir sua segurança terapêutica e sua equivalência em relação aos originais.

O doutor Harry Lever, do departamento de cardiologia da Cleveland Clinic, de Ohio, deixa clara sua preocupação: “Perdemos o controle sobre o que as pessoas estão ingerindo de remédios”. A pressão dos médicos e da indústria farmacêutica (e a insegurança dos pacientes) certamente crescerá nos próximos anos contra as indústrias produtoras de drogas genéricas. Essas, porém, são na sua maioria sérias e fundamentais para o acesso dos pobres a tratamentos adequados. Infelizmente, a má prática de alguns produtores inescrupulosos está difamando os tão importantes genéricos.

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