sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Laboratórios pagaram formação a médicos

09/12/2011 - 09:37
O dinheiro do fundo criado, em 2003, com as doações de laboratórios farmacêuticos ao médico Machado Cândido, enquanto investigador principal de neurologia e neurofisiologista do Hospital de São José, serviram para financiar a formação das equipas que participavam nas investigações, afirmou o clínico, na manhã de quarta-feira, na segunda sessão de julgamento, que decorre no Campus da Justiça, em Lisboa, avança o Correio da Manhã.

O Ministério Público acusa Machado Cândido dos crimes de burla qualificada e falsificação de documentos.

Perante o colectivo de juízes, Machado Cândido afirmou que “quem geria o fundo era a administração hospitalar”.

Machado Cândido afirmou que a “percentagem do dinheiro do fundo variava entre 10% e 40% para o hospital, para pagar os exames, a TAC (tomografia axial computorizada) e as angiografías, e outra parte era para pagar o trabalho médico”.

Em resposta à inquirição da procuradora do Ministério Público, o neurologista chegou mesmo a irritar-se com as perguntas. “O dinheiro não era só meu e vinha também da criação da Unidade Cérebro-Vascular. Esse dinheiro servia para pagar o material para a investigação (ensaios clínicos) e para a formação dos médicos e enfermeiros”.

A procuradora ironiza: “E os jantares no restaurante Lagar do Azeite, à volta das azeitonas, também entra aí a formação das pessoas? Jantares com 70 pessoas? Então a sua equipa não era composta por 30 pessoas? Quem são as outras 40?”

Machado Cândido alega que “os jantares têm que ser integrados na formação. Fazia parte. Havia o Dia do AVC e convidámos toda a gente, todos os empregados de limpeza participaram no jantar, voluntários no trabalho”.

Eduardo Allen, advogado de defesa do arguido, que ainda se encontra a trabalhar no Hospital de São José, afirmou ao CM que “o fundo foi criado para que houvesse transparência e não polémica”.

O advogado referia-se às alegadas ligações entre os laboratórios farmacêuticos e os médicos, suspeitos de subornos com viagens, férias e artigos de luxo a troco da prescrição de medicamentos.

O advogado afirmou desconhecer porque é que “Machado Cândido está a ser julgado uma vez que o processo foi arquivado pelo Departamento de Investigação e Acção Penal (DIAP) em Julho de 2007”.

No entanto, Eduardo Allen lembrou que “uma segunda carta anónima, assinada por Zé Povinho”, denunciava os alegados crimes de burla cometidos por Machado Cândido, designadamente cópias de declarações de IRS em que declarava valores na ordem dos 300 mil euros.

O CM apurou que a antiga ministra da Saúde, Ana Jorge, decidiu suspender a pena de suspensão de 240 dias ao médico, uma pena aplicada pela Inspecção-Geral das Actividades em Saúde (IGAS).

O processo de investigação da IGAS foi remetido para o Ministério Público.

A próxima sessão de julgamento de Machado Cândido está marcada para o dia 4 de Janeiro de 2012.


Nota de C&T:  Não importa a que classe social pertence, a verdade é que todo ser humano tem um preço.  O que irá acontecer com os envolvidos acima?

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