terça-feira, 4 de outubro de 2011

Sibutramina continua no mercado. Será que teremos fiscalização adequada para seu uso?

Anvisa proibe venda no Brasil de inibidores de apetite
Derivados de sibutramina estão liberados, mas com restrições
Mariana Londres, do R7, em Brasília

A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) decidiu nesta terça-feira (4),em reunião aberta da diretoria do órgão em Brasília, proibir a fabricação e venda no mercado brasileiro dos remédios para emagrecer que atuam no sistema nervoso central e são derivados de anfetamina (femproporex e dietilpropiona). O mesmo vale para o mazindol, inibidor de apetite que age diferente dos outros dois remédios.

A sibutramina, o medicamento para emagrecer mais usado no Brasil, continua no mercado, mas algumas condições precisam ser respeitadas para seu uso: o remédio não pode ser prescrito por um período superior a 60 dias, o paciente tem de ter IMC (Índice de Massa Corpórea) acima de 30, o que indica obesidade, e ele também terá de assinar um documento em que confirma estar ciente de todos os riscos.

Segundo a decisão, a sibutramina poderá ser usada apenas pelos seguintes grupos de pacientes:

- Obesos sem história de doença cardiovascular que não conseguem aderir a programas de emagrecimento;

- Paciente com diabetes ou intolerância à glicose;

- Dislipedêmicos;

- Hiperuricêmicos;

- Mulheres com ovários policísticos;

- Pacientes com hepatite não alcoólica;

Além disso, serão mantidos o controle e responsabilização dos médicos que prescrevem e obrigatoriedade de extensa orientação aos pacientes sobre os riscos do uso da sibutramina.

Também continua liberado para o tratamento da obesidade no Brasil o orlistate (Xenical), que atua diretamente no intestino, reduzindo em cerca de 30% a absorção de gordura.

A Anvisa é a última instância nesse tipo de decisão, mas empresas podem recorrer à Justiça.

A retirada do mercado dos emagrecedores à base de anfetaminas já era dada como certa, uma vez que a equipe técnica da Anvisa e a Cateme (Câmara Técnica de Medicamentos) da agência, formada por especialistas que assessoram o órgão, concordaram em relatório que os riscos superam os benefícios. Já a retirada da sibutramina do mercado ainda era dúvida.

A câmara técnica que assessora o órgão defendia a proposta de também banir do mercado a sibutramina, por apresentar riscos à saúde superiores aos benefícios. Existem estudos que indicam que a sibutramina pode aumentar o risco de problemas cardíacos em pacientes com fatores de risco.

No mês de agosto, após reunião fechada, os diretores da agência optaram por deixar a votação sobre o tema para o encontro público de hoje.

Estudos

De acordo com a Anvisa, estudos analisados pela agência apontam que o consumo de sibutramina aumenta o risco de problemas cardíacos. Em função disso, desde o ano passado a Anvisa impôs novas regras e endureceu seus critérios de venda: a sibutramina deixou de ser vendida como medicamento comum e passou a integrar a categoria dos anorexígenos, que exigem receita especial.

O principal argumento da agência para defender a proibição é que os benefícios do uso da sibutramina e os chamados anfetamínicos não superam os riscos. Segundo as revisões científicas feitas pela agência, não há estudos suficientes sobre a eficácia dos medicamentos: os realizados até agora apontam que a perda de peso ocorre apenas no curto prazo. Os maiores riscos dos medicamentos são cardiovasculares, de dependência e problemas psiquiátricos.

Reação médica

A proposta de proibir os emagrecedores causou reação imediata de médicos endocrinologistas que atuam no combate à obesidade. Entidades médicas defendem que a medida vai deixar cerca de 15 milhões de pacientes sem opção de tratamento.

As entidades médicas questionam os estudos usados pela Anvisa para embasar a sua decisão. De acordo com os médicos, os estudos foram feitos com um grupo de pacientes de risco, para os quais os medicamentos não seriam indicados. Não faria sentido, portanto, a proibição do uso.

Além disso, de acordo com os médicos, para alguns pacientes é preciso indicar medicamentos que atuam no sistema nervoso central, uma vez que o controle da fome e da saciedade ocorre no cérebro. Esses pacientes, portanto, não conseguem perder peso com tratamento clínico convencional, que inclui reeducação alimentar e exercícios físicos.

O CFM (Conselho Federal de Medicina) é contra a proibição dos emagrecedores no Brasil. O órgão diz que a medida tira a autonomia dos médicos na escolha de métodos terapêuticos e que os profissionais têm o direito de, “dentro de práticas reconhecidas e segundo a legislação vigente”, prescrever o tratamento adequado.

Nenhum comentário:

Postar um comentário