segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Direito à tristeza

Estudo realizado em 30 países pelo European College of Neuropsychopharmacology revela que 38% da população européia sofrem de algum tipo de desordem mental como depressão, ansiedade, insônia e fazem abuso de substâncias (drogas lícitas e ilícitas, remédios...).
A OMS prevê que em 2020 a depressão será o segundo maior problema de saúde no Ocidente. Os números em países como Estados Unidos e Brasil já devem estar comprovando esta tendência.

Para uma indústria farmacêutica pode ser (é) um grande negócio. Para a humanidade é mais um sintoma de que “vida sustentável” não é sinônimo apenas de preservação ambiental.

- Como, em que estado, as pessoas chegam no seu trabalho?

Fiz esta pergunta a uma de minhas filhas. Ela trabalha num CAPS - Centro de Atenção Psicossocial, local de atendimento público (SUS) que tenta ser uma esperança para a alma daqueles que de alguma maneira já não suportam as várias vozes dentro da cabeça, o confinamento no labirinto dos pensamentos conflitantes e o isolamento social onde quase sempre tudo isso começa e onde certamente isso tudo acaba.

- O que buscam?

“Buscam apoio, saída... e a maioria busca algum remédio. Sabem todos os nomes dos medicamentos. Já não sabem lidar com o diálogo incessante da mente. Já não sabem ficar com os sentimentos e deles aprender. Lutam contra seus sentimentos” – me respondeu sem obviamente querer traçar um diagnóstico da complexa questão que é a saúde mental e seu atendimento.

- Se enchem de remédio?

“Não no que depende da orientação do CAPS. Mas, sim muita gente está viciada em remédio. É essencial que exista medicação, mas as pessoas estão cheias de remédio e vazias de vida. A pessoa fica triste e acha que não pode, ou não deve ficar triste... então, remédio!”.

- Remédio pra espantar a tristeza!?

“Há um ambiente de ´proibição à tristeza`. As pessoas deveriam aprender a ficar tristes e da tristeza saber tirar a lição que precisam. Deveriam também aprender com a alegria... Mas, se de maneira geral não aprendemos a observar nossos pensamentos e sentimentos, no caso da tristeza as pessoas se culpam e são estimuladas a escapar dela: é a amiga que diz ´para com isso, vamos ao cinema´; o amigo que prega ´deixa disso, vamos sair, você tem é que se divertir´. Ou então... remédio!”

Suprimida, anestesiada, a tristeza vai estar sempre presente, à espreita, pano de fundo onde a vida vai se tornando um fardo.

Nada de receitas fáceis, mas aqueles que praticam a meditação aprendem a arte de olhar para dentro de si mesmos e assim conhecem os caminhos para estar em paz com todos os ciclos emocionais e a olhar com desidentificação o fluxo de pensamentos. Talvez um pouco mais de meditação e um bocado menos de medicação...

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