segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Estou me vendendo. Alguém quer?

Por Alessandro Lyra Braga em 08/09/2013
É isto mesmo: estou à venda! Afinal, todos os dias recebo inúmeros e-mails onde tudo me é oferecido: de remédio para impotência sexual à viagens aos mais exóticos paradeiros. Já vi de tudo, inclusive vender-se virgindade. Mas até hoje não vi alguém, literalmente, vender-se. E quando digo “vender-se”, não digo sexual ou profissionalmente, não. É vender-se por inteiro.
Quem me comprar terá que me conservar dentro das especificações técnicas, senão perderá a garantia, que, devido à minha idade, não mais terá como ser muito estendida. Logicamente que terá que evitar que eu entre em fadiga, para não gerar estragos. Terei que ser bem acomodado, de preferência numa suíte master em algum hotel cinco estrelas. Minha alimentação terá que ser balanceada e nos horários certos. Enfim, dará trabalho me conservar.
O mais difícil de explicar é para que eu serviria, porque só me comprariam por algum motivo prático, é lógico. Pensando assim, faço agora uma auto-análise: é fato que ultrapasso todos os limites socialmente aceitos para afirmar que tenho um corpinho em forma. Na verdade, meu corpo está em forma de bola, o que talvez até sirva em época de Copa do mundo. Também já ultrapassei aquela fase que os hormônios pululam com todo fervor, menosprezando a lei da gravidade. Assim, sobra-me me ofertar como um ser pensante. No entanto, como ser pensante, na atual sociedade em que vivemos, de shopping centers cheios e bibliotecas vazias, minha cotação cairá vertiginosamente, embora eu tenha consciência que ela já não estava tão alta assim.
É triste, mas estou vendo que talvez seja meio difícil eu conseguir algum dinheiro me vendendo como um ser pensante. Talvez a opção mais lucrativa seja me vender a peso, não sei se como sucata ou toucinho, mas mesmo assim à peso. Que vida!
Meus leitores devem estar achando que estou doido em querer me vender (Na verdade, jamais estive à venda!), mas estou apenas traduzindo aquilo que vemos no dia-a-dia. Vivemos de comprar ou vender seja lá o que for, até nós mesmos. Poucas são as pessoas que fazem alguma coisa que não seja em troca de algo material ou fisicamente prazeroso. O “fazer pelo outro” quando é feito, na maioria das vezes, é apenas por mesquinhos interesses políticos. Pessoas que se aproximam de nós pelo que somos ou passamos de imaterial são raridade. Viramos produtos e aceitamos sermos vendidos apenas na ilusão de sermos aceitos.
Realmente, não sei quem me compraria caso eu fosse posto numa vitrine. Mas aviso que não há Código de Defesa do Consumidor que possa garantir a qualidade de um ser humano que esteja à venda. Um ser humano que aceite ser comprado deve ser produto falsificado, coisa do Paraguai.
 
*Alessandro Lyra Braga é carioca, por engano. De formação é historiador e publicitário, radialista por acidente e jornalista por necessidade de informação. Vive vários dilemas religiosos, filosóficos e sociológicos. Ama o questionamento.
 

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