terça-feira, 16 de abril de 2013

Médicos agora miram anti-inflamatório.

Após fechar cerco aos antibióticos, sociedades médicas defendem mudança na forma de prescrição, com retenção de cópia da receita. Lígia Formenti / BRASÍLIA Um dos campeões de vendas nas farmácias e da automedicação, os anti-inflamatórios estão na mira das sociedades médicas. Com aumento de complicações e atendimentos de urgência provocados pelo uso inadequado, algumas entidades passaram a defender uma mudança na forma da prescrição. A proposta é que todos os medicamentos dessa classe sejam vendidos com a retenção de uma cópia da receita.“É preciso fazer algo. Boa parte dos atendimentos de urgência, como hemorragias e lesões agudas gástricas, é provocada pelo uso exagerado do remédio”, afirma o presidente da Federação Brasileira de Gastroenterologia, José Roberto Almeida. “Somos uns dos campeões mundiais no uso dessa classe de medicamento. Eles são importantes, úteis,mas quando usados de forma adequada”, afirma o diretor médico do Centro de Assistência Toxicológica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), Anthony Wong. Um dos principais erros, diz Wong, é usar anti-inflamatórios como ferramenta para reduzir a dor. “O remédio não foi desenvolvido com essa finalidade.” Ele atribui a grande incidência de complicações ao desconhecimento das interações que o medicamento pode trazer. “Geralmente esse tipo de remédio é usado por pessoas idosas, que já têm outros tipos de problemas.” Aideia, portanto é estabelecer como regra geral para todos os anti-inflamatórios o que já acontece com alguns medicamentos da classe e todos os antibióticos. O presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária(Anvisa), Dirceu Barbano, afirma que pedidos de regras mais rígidas já chegaram à agência. “Por enquanto temos outra prioridade. Não acreditamos que o comportamento possa ser mudado só com o aumento de restrições.” Barbano diz que a agência quer encontrar mecanismos para fazer valer uma regra antiga, mas que raramente é respeitada: a necessidade da apresentação da receita para remédios de tarja vermelha. Em fevereiro, a Anvisa publicou pela segunda vez um edital para interessados em participar de uma força de trabalho encarregada de estabelecer medidas para estimular o uso racional de medicamentos. Cerca de 120 inscrições foram feitas. A expectativa é a de que até o fim do ano uma política já esteja traçada. A intenção é alertar a população sobre os riscos da automedicação, chamar a atenção dos locais de venda para a necessidade do cumprimento das regras e reforçar a vigilância. “Vamos alertar todos os setores envolvidos, discutir estratégias de tal forma que, quando a cobrança começar a ser feita, ninguém possa dizer que não estava preparado.” O presidente do Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos no Estado de São Paulo( Sindusfarma), Nelson Mussolini, considera acertada a estratégia da Anvisa. “Toda venda de medicamento com tarja deve ser feita mediante a apresentação da receita.” Para ele, a automedicação tem de ser reduzida não com mais burocracia, mas com a criação de campanhas de esclarecimento. Carlos Lopes, presidente da Sociedade Brasileira de Clínica Médica,concorda. “É preciso exigir receita, mas também garantir o acesso da população a atendimento médico”, disse.“Enquanto o acesso for difícil, as pessoas vão recorrer ao palpite da vizinha ou aos medicamentos sugeridos nas farmácias.” Roberto Almeida diz que atividades educativas são imprescindíveis. “Se isso não funcionar, é preciso pensar em algo mais restritivo.” Vendas. Em 2012, 129.279 caixas de anti-inflamatórios foram vendidas no País, segundo o levantamento feito pelo Sindusfarma e IMS Health. Essa classe de medicamentos, representa 4,9% da movimentação do setor. Em 2010, haviam sido vendidas 106.043, ou seja, uma alta de 21,9% em dois anos. “Houve um aumento, mas equivalente ao crescimento que ocorreu no mercado neste período”, diz o presidente do sindicato. Em 2012, foram vendidas no País 2.587.868 caixas de remédios, uma alta de 25% em comparação ao total de 2010 (2.069.607).
FONTE: O ESTADO DE SÃO PAULO – SP

Nenhum comentário:

Postar um comentário