quinta-feira, 18 de outubro de 2012

O farmacêutico brasileiro no século XX


O que se escuta é que no geral o trabalho de varejo não é tão reconhecido; as indústrias cobram especializações e cursos de pós-graduação; os hospitais e clinicas são disputados... Enfim, todos querem um profissional que já tenha experiência, que fale outras línguas, que domine conhecimentos mercadológicos, que sejam lideres, pro ativos, e por uma aí segue uma lista interminável de exigências, impostas pelo mercado de trabalho.

Por: Marcus Vinicius de Andrade

Mediante tal perspectiva, existem dois tipos de reações dos profissionais farmacêuticos:

1º Há aqueles que ainda acreditavam ser a faculdade um sinônimo de "riqueza", que quando se depararam com as realidades, entram em "parafuso". Tudo o que consegue ver é a desvalorização profissional, a falta de reconhecimento por parte de empresários e consumidores, a falta de condições mínimas de trabalho e os baixos salários. Estes mesmos indivíduos não perdem tempo e também não economizam posts nas redes sociais para falar o que sentem e o que vêem. Anos depois você olha para este tipo de profissional e ele continua o mesmo: mal empregado ou às vezes, até mesmo, disponível no mercado de trabalho.

2º Existe, também, aqueles que em contato com a realidade ao invés de verem um problema, vêem um desafio. Estes, em sua maioria, mesmo antes de terminar a faculdade, já estão no mercado de trabalho, aprendendo como se faz na prática. Esse perfil de profissional não economiza em investimentos no conhecimento mercadológico, em cursos de línguas, em especializações e em oportunidades de crescimento profissional. Anos após formar-se na faculdade você olha para estes indivíduos e constata que eles são diretores, gerentes, pesquisadores e coordenadores de indústria – são empresários e empreendedores, profissionais bem sucedidos no mercado.

Pessoalmente já conheci muitos profissionais farmacêuticos com ambos perfis citados acima. Mas, nos últimos dias, lendo alguns depoimentos sobre a profissão farmacêutica em redes sociais, lembrei-me de um farmacêutico, empreendedor e empresário – que como muitos de sua geração – batalhou e foi em busca de seus sonhos...
Antes de conhecê-lo pessoalmente, em um treinamento sobre liderança, já ouvira falar muito sobre o empresário que fez uma das maiores redes de farmácia em Goiás e que, também, construiu uma indústria farmacêutica de sucesso no estado.

Historias de sucesso inspiraram líderes

Evandro Tokarski, natural do norte do Paraná, chegou a Goiás na companhia de 11 irmãos, atraídos pela chamada "Marcha para o Oeste". Desembarcou em Goiânia em 1974, disposto a concluir o segundo grau e ingressar na universidade. E, assim, fez. Estudou nos Colégios Lyceu, Colu e no Carlos Chagas, onde concluiu o segundo grau em 1976.

No ano seguinte, ingressou na Universidade Federal de Goiás, no curso de Farmácia. Na época, o Brasil vivia uma situação política completamente atípica e diferente de hoje. Os militares governavam com mão de ferro o país. Os movimentos populares não tinham voz. A sociedade civil estava silenciada. Toda espécie de manifestação contrária ao Regime Militar era rechaçada com violência.

Foi nesse ambiente asfixiante que Evandro ingressou na Universidade. Ele tinha que optar entre ser um estudante alienado, alheio aos problemas do seu povo, ou ingressar no movimento estudantil –, que começava a ser reconstruído, com todos os riscos impostos pela repressão política. Ele não titubeou: escolheu o caminho da luta. Ombreou-se aos jovens contestadores que lutavam por liberdade, contra as injustiças sociais e por eleições livres e democráticas.

Evandro mal entrou na UFG, tornou-se liderança. Foi eleito secretário geral do Diretório Acadêmico das Ciências Biológicas. Ajudou a reconstruir o primeiro Centro Acadêmico da Universidade, que foi denominada CA Prof. Marinho Lino de Araújo. Foi, também, o primeiro presidente desta entidade, no ano de 1978.

Ainda no movimento estudantil, participou em Ouro Preto do 1º Encontro dos Estudantes de Farmácia, também em 1978. Liderou greves pela preservação do Curso de Farmácia até o ano de 1979. Fez parte ativa da criação do Diretório Central dos Estudantes. Ainda em 1979, participou da recriação da União Nacional dos Estudantes (UNE), que aconteceu em Salvador (BA). Foi presidente da Comissão de Formatura da turma de Farmácia. Colou grau em 1980.

Nesse mesmo ano, fez estágio na Farmacotécnica, farmácia do irmão Rogério, em Brasília. Também em 1980, estagiou na farmácia do Hospital das Clínicas, em São Paulo. Em 10 de maio de 1981, portanto, há 31 anos, fundou com o apoio do irmão Rogério, a Farmácia Artesanal. Quando surgiu, tinha um único colaborador. A empresa gera hoje 300 empregos diretos e mais de 1000 indiretos.

No ano de 1984 em que milhões de brasileiros saíram às ruas para exigir Eleições Diretas para Presidente da República, lá estava Evandro novamente empunhando esta bandeira. É quando começa a vislumbrar uma nova seara de atuação: a atividade sindical. É assim que, em 1985, foi fundador e presidente da Anfarmago – Associação dos Farmacêuticos Magistrais do Estado de Goiás.

Em 1987, assumiu a presidência da Associação dos Deficientes Físicos de Goiás. Como havia contraído paralisia infantil aos 08 meses de idade por falta da vacina que ainda não existia, fazia questão de participar de diversos encontros nacionais pela inserção e direitos dos portadores de necessidades especiais.

Já em 1999, criou com o irmão Rogério, a indústria de medicamentos TKS. Naquele mesmo ano fez pós-graduação em Gestão Empresarial. Elegeu-se, em 2001, presidente da Anfarmag, entidade nacional dos farmacêuticos magistrais que congrega mais de 5 mil associados. Conquistou, também em 2001, o título de especialista em Farmácia Magistral Alopática emitido pelo Conselho Federal de Farmácia e pela Anfarmag...

Quando olho para a história de Evandro Tokarski me pergunto, quantos farmacêuticos como ele, existem hoje no Brasil? Quantos farmacêuticos estão dispostos a olhar para o mercado, para os problemas da profissão e encarar tudo como um desafio, como uma oportunidade de crescimento? Por que mesmo diante deste e de vários outros exemplos de farmacêuticos bem sucedidos, ainda existem aqueles que insistem em viver uma vida profissional de derrotas, culpando o país, a classe profissional e a sociedade?

Também não sei as respostas para minhas perguntas. O que sei é que não haverá nunca uma "profissão perfeita" em nenhum campo profissional do mercado. E na farmácia não será diferente. O sucesso de uma carreira profissional está nas mãos e no desejo de realização de cada um.

Olhando para a história de Evandro, aprendo que decidir tirar o "melhor" de qualquer experiência que o mercado farmacêutico nos apresente é, também, uma escolha pelo crescimento e pela prosperidade. Acredito que podemos ser a mudança, fazer a diferença compartilhando a paixão que temos com a profissão farmacêutica no Brasil.

* Marcus Vinicius de Andrade: Empresário e Administrador de Empresas. É fundador e diretor executivo do ICTQ – Instituto de Ciência, Tecnologia e Qualidade – www.ictq.com.br

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