sexta-feira, 27 de abril de 2012

Pesquisadores brasileiros avançam no desenvolvimento de analgésico e anti-inflamatório de origem vegetal que pode ajudar no tratamento da dor crônica

Cientistas da área acadêmica e das principais indústrias farmacêuticas mundiais têm dedicado grandes esforços para o entendimento dos mecanismos que controlam a dor e principalmente visando o desenvolvimento de medicamentos para o tratamento da dor crônica.

Apesar dos progressos científicos importantes obtidos no entendimento dos mecanismos celulares e moleculares envolvidos na etiologia da dor crônica, poucos medicamentos foram lançados nessa área nas ultimas décadas. Tal fato tem causado muito sofrimento para pacientes portadores da dor crônica. Devido a dor os pacientes reclamam de alteração do sono, no humor, do apetite efeitos esses que causam graves consequência na qualidade de vida dos portadores de dor cronica. Além disso, a dor pode fazer doer também o bolso, com custos diretos (com médicos e tratamentos) e indiretos (faltas no trabalho e queda de produtividade).

Segundo a Sociedade Brasileira para O Estudo da Dor, estima-se que os brasileiros convivem com a dor como poucos no mundo. Hoje a dor é um dos principais motivos das consultas médicas no país, atingindo cerca de 85% dos pacientes atendidos – ao mesmo tempo em que muitos profissionais do setor continuam poucos informados sobre o tema, muitas vezes negligenciando sua importância.

A evolução no cenário mostra-se positiva - entre os principais destaques nesse caminho está a equipe de pesquisadores brasileiros Luiz Pianowski, do laboratório Kyolab e com participação decisiva do farmacólogo João Batista Calixto da UFSC. O grupo vem estudando, já há vários anos, e com resultados bastante promissores, o látex extraído da planta Europhorbia tirucalli, planta conhecido no Brasil como aveloz, para o tratamento de dor aguda ; crônica inflamatória; crônica neuropática; do câncer; dor associada à terapia anti-câncer; dor da artrite reumatóide e de pós-operatório. Esse fitomedicamento está sendo financiado pela Amazonia Fitomedicamentos, e atualmente em estudos de fase clinica II.

Estudos adicionais realizados com essa planta, permitiu a identificação de uma nova substancia com ação analgésica, cujos os resultados obtidos nos estudos pre-clínicos indicam grande potencial para o tratamento para dor cônica. Esse novo composto, denominado de AM11 está sendo desenvolvido com base em molécula isolada da planta medicinal Avelós (Euphorbia tirucalli L). Os estudos pre-clinicos necessários para iniciar os testes em humanos (estudos de eficácia e segurança) foram realizados no Brasil. O estudo clinico de fase I será realizado na Alemanha, ainda em 2012.

Pianowski explica que entre as principais vantagens do novo analgésico estão: trata-se de uma pequena molécula oralmente ativa, que possui ação analgésica de longa duração e com boa tolerabilidade em estudos pré-clínicos (toxicologia aguda e crônica em roedores e não roedores). Além disso, sua ação analgesica não está associada com o sistema opióide, sendo também diferente dos antiinflamatórios não esteroidais clássicos, portanto livre dos efeitos adversos centrais, e sobre os sistemas gastrointestinal e renal. “O AM11 mostrou-se em animais, , ação analgésica semelhante ou superior a varias drogas analgésicas disponíveis no mercado para o tratamento da dor.

Sobre a pesquisa

Os pesquisadores envolvidos no estudo são Luiz Francisco Pianowski (Kyolab), João Batista Calixto (UFSC), Jan Glinski (Plantanalitica USA) e o Grupo CRO Harrison, de Munique, na Alemanha.

Já no estudo de Fase I realizado com o fitomedicamento a base de aveloz, a ação analgésica pôde ser constatada através do relato de pacientes com câncer que relataram alívio da dor. A partir desse fitomedicamento, varias substâncias foram isoladas e o AM 11 se mostrou o principio ativo responsável pelos efeitos analgésicos.

Com o AM11 purificado (com 95% de pureza) e produzido no Kyolab (mais de 1kg) foram realizados dezenas de testes para comprovar sua ação analgésica e também os prováveis mecanismos de ação, além da segurança do produto (toxicidade). A substância pesquisada mostrou-se inovadora no que diz respeito ao mecanismo de ação, pois ela atua por interagir com o sistema canabinóides, inibindo a as enzimas que degradam os endocanabinoides, como também estimula os receptores CB1 e CB2 existentes no organismo. Importante, os estudos mostraram que o AM11 não causa os efeitos indesejáveis dos derivados canabinoides, principalmente aqueles relacionados com a estimulação do sistema nervoso central. Os receptores canabinóides são assim chamados porque há muito tempo foi descoberto que são neles que as substâncias ativas da Maconha agem (Cannabis sativum).

Diferente de muitos analgésicos clinicamente disponíveis no mercado, o AM11 foi bastante eficaz quando avaliado de forma aguda, mas, principalmente, quando administrado cronicamente atuando em diversas fases da cascata inflamatória, e também contra o agente de hipersensibilidade induzida por quimioterapia, ou pela dor neuropática induzida pela parcial constrição do nervo ciático e inoculação de células de melanoma (in vivo).

Os dados do estudo mostram também que os mecanismos responsáveis pela ação analgesica/antinflamatoria do AM11 estao associados com sua capacidade de interferir com a liberação e / ou expressão de vários mediadores inflamatórios relevantes na etiologia da dor, ou seja, citocinas, prostaglandina E2 e tambem por inibir a experessão de algumas enzimas importantes como a COX-2 e a proteina kinase C epsilum (PKCε). Essas ações ocorrem através de modulação de fatores de transcrição tanto em nivel do glangio da raiz dorsal como na medula espinhal

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