quinta-feira, 16 de maio de 2013

Analgésicos à prova de abuso: a nova fonte de rendimento para farmacêuticas

No seguimento de uma importante decisão da Food and Drug Administration - FDA, a agência que regula alimentos e medicamentos nos EUA, mais de dez farmacêuticas — da gigante Pfizer a novatas — estão a competir para conceber analgésicos que dificultam o uso abusivo, avança o The Wall Street Journal.

A FDA actuou no mês passado para impedir a produção e venda de versões genéricas do OxyContin® original, cuja patente já expirou, mas que é mais fácil de se abusar do que a versão actual. Essa nova versão do OxyContin®, lançada em 2010 pelo laboratório Purdue Pharma LP, contém uma infusão de polímeros que torna difícil esmagar o comprimido, impedindo os viciados de obterem de uma vez — através da inalação — os ingredientes de efeito prolongado que precisam para se doparem.

Esta semana, a FDA tem de avaliar o nível de segurança de outro analgésico com protecção adicional, o Opana ER®, da Endo Pharmaceuticals. Se a FDA concluir que o Opana ER® reduz o abuso, a agência pode proteger o medicamento da concorrência, pois genéricos não têm tais dispositivos de segurança.

A decisão seria um claro aviso às farmacêuticas de que os analgésicos sem protecções serão provavelmente removidos do mercado — e que há biliões de dólares em receitas potenciais com a venda de analgésicos à prova de abuso.

Como resultado, empresas com a Pfizer, Johnson & Johnson e Endo estão a tentar desbravar um mercado possivelmente lucrativo. A Pfizer quer lançar o Remoxy®, um concorrente directo do OxyContin® com protecções contra o abuso, e um fármaco à base de morfina chamado Embeda®.

A Johnson & Johnson está a realizar testes para demonstrar a segurança do seu opióide para dor moderada e aguda. E a Purdue Pharma pretende adaptar a sua tecnologia de protecção contra abuso a um produto feito com hidrocodeína — uma classe de medicamentos actualmente dominada por genéricos que não contam com fórmulas à prova de abusos.

"Com o tempo, deverá ocorrer uma corrida científica em todo o sector farmacêutico para criar um mercado onde todos os opióides terão propriedades para evitar abusos," disse Gary L. Stiles, director de investigação e desenvolvimento (I&D) da Purdue Pharma, que é de capital fechado.

Essa corrida poderia impulsionar um já lucrativo mercado e aumentar os preços dos analgésicos. Um relatório recente da Cowen & Co. prevê um aumento de mais 15% no valor das vendas dos analgésicos sob receita até 2017, para 8,4 mil milhões de dólares, graças em parte à decisão da FDA. A corrida poderia também mudar o ranking de participações no aquecido mercado de analgésicos, avaliado em 7,3 mil milhões de dólares, à medida que empresas como a Pfizer entrarem em força nesse segmento de opióides pela primeira vez.

A FDA não está a exigir directamente que todos os analgésicos tenham protecções. Mas se uma protecção eficaz vier a ser desenvolvida, a FDA afirmou que tem o poder de remover do mercado os produtos que não tiverem tal salvaguarda.

As farmacêuticas estão a correr para realizar os estudos e pesquisas exigidos pela FDA para provar que as suas drogas impedem o abuso. Obter essa distinção da FDA, como a Purdue Pharma conseguiu com o OxyContin®, permite aos representantes de vendas das empresas promover essas propriedades junto dos médicos. "É assim que veremos a batalha a desenrolar-se", disse Mike Royal, director para assuntos clínicos da AcelRx Pharmaceuticals, que está a desenvolver medicamentos para a dor aguda.

A Pfizer poderia abocanhar uma fatia maior do mercado de analgésicos, amparada pela sua linha de novos produtos e pela sua capacidade de comercializar com sucesso novos medicamentos, dizem analistas. A Endo actualmente lidera o mercado de analgésicos para controlar a dor com uma participação de 30%, seguida pela Purdue Pharma, com 28%, segundo um relatório recente da Cowen & Co. Já a Pfizer apareceu só com 5%.

A Pfizer tem-se vindo a preparar. A sua aquisição, por 3,6 mil milhões de dólares, da King Pharmaceuticals em 2011 colocou-a no mercado dos opióides. Além do Remoxy® e do Embeda®, a Pfizer tem os direitos sobre pelo menos cinco outros analgésicos.

O Remoxy® é protegido contra o abuso por um tipo de sacarose usada em refrigerantes e bebidas energéticas. Ela impede o fármaco de se partir com a aplicação de calor ou de ser misturado com álcool, disse James E. Brown, director-presidente da Durect Corp., que desenvolveu o Remoxy® com a Pain Therapeutics antes de vendê-lo à King.

A FDA não aprovou o Remoxy® em 2011, mas a Pfizer reuniu-se com a agência em Março e está a discutir os "próximos passos" para resolver os problemas levantados, disse John Young, presidente da Pfizer para a área de saúde básica, numa conferência de resultados com analistas, na semana passada. "Acreditamos que poderemos seguir em frente", disse ele, acrescentando que o Embeda® poderia ser lançado no primeiro semestre de 2014.

A FDA deve decidir na sexta-feira se o Opana®, da Endo, que se torna numa substância gelatinosa quando dependentes aquecem o fármaco para uso intravenoso, pode ser oferecido a médicos como tendo protecção contra abusos.

A Johnson & Johnson também está a realizar estudos para mostrar as propriedades defensivas contra abuso do Nucynta ER® e planeia apresentá-las à FDA no fim do ano, disse Gary Vorsanger, director de desenvolvimento clínico da Janssen Pharmaceuticals, unidade farmacêutica da Johnson & Johnson.

A Purdue Pharma, por sua vez, afirma que está a estudar formas de usar a tecnologia do OxyContin® noutras drogas, como outras formulações da oxicodeína, morfina e hidrocodeína.

Já companhias menores de biotecnologia estão a criar as suas próprias protecções. A Egalet, da Pensilvânia, recorreu a uma técnica de injecção de plástico usada para fazer brinquedos de montar ou tampas de garrafas. Os comprimidos são tão duros que, quando colocados num moedor de café — um meio comum usado por viciados para partir os comprimidos — as lâminas quebram. "É uma pílula muito robusta", disse Bob Radie, director-presidente da Egalet.

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