Cidades - Araújo Jorge tem 400 pessoas na fila de espera por quimioterapia
Já são aproximadamente 400 doentes de câncer com o tratamento de quimioterapia ambulatorial suspenso por causa da falta de medicamentos quimioterápicos no Hospital Araújo Jorge, unidade de referência na Região Centro-Oeste. O tempo de espera na fila é variado, mas em todos os casos há risco de comprometimento da terapia e de recidivas, segundo médicos oncologistas. O POPULAR apurou que a crise financeira da instituição, que culminou na falta de medicamentos e outros materiais, piorou na última semana.
No dia 24 de março, O POPULAR mostrou a situação e a espera angustiante dos pacientes e também a preocupação de médicos da instituição, que temiam perder pacientes na fila de espera e chegaram a informar que os índices de cura caíram "assustadoramente" nos últimos meses em função das faltas constantes de medicamentos. Outro temor é de que os casos sejam agravados devido à descontinuidade da terapia.
Um dos pacientes na espera por medicamentos é o auditor aposentado Luiz Carlos Villar da Silva, que tem leucemia mielóide crônica e faz uso contínuo do mesilato de imatinib, cujo nome de laboratório é Glivec. Ele está há mais de um mês sem tomar o medicamento e teme a volta dos sintomas da doença. "Os médicos dizem que não deve haver nenhuma interrupção, mas, se houver, que não pode ser superior a dez dias", conta Luiz Carlos. "Tenho medo de que a doença volte e o remédio não faça mais efeito".
Caso isso ocorra, o auditor aposentado precisaria de um transplante de medula óssea, cuja maior dificuldade é encontrar doador compatível. "Tenho de reconhecer que o meu caso é menos complicado do que dos pacientes que precisam da quimioterapia", diz. A distribuição do Glivec passará a ser feita diretamente do Ministério da Saúde para as secretarias estaduais, que entregarão o medicamento diretamente aos pacientes.
A Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de Goiânia anunciou que vai adiantar o pagamento de serviços já prestados pelo Hospital Araújo Jorge ao Sistema Único de Saúde (SUS) referentes a fevereiro e março. Cada fatura é de aproximadamente R$ 1,8 milhão. O acerto foi feito na tarde de ontem, em uma reunião entre o secretário Elias Rassi e a presidente da Associação de Combate ao Câncer em Goiás (ACCG), mantenedora do hospital, Criseide Castro Dourado.
Elias anunciou que a parcela de fevereiro, que deveria ser paga entre 8 e 10 de abril, será liberada hoje. Já a de março, que só seria quitada em maio, será paga no dia 11 deste mês. "Queremos fortalecer o Hospital Araújo Jorge e que ele volte a oferecer um tratamento de qualidade para os usuários", disse o secretário. "A situação é muito grave e os pacientes não podem mais esperar", acrescentou.
A presidente da ACCG disse que o adiantamento que será feito pela SMS representará "um oxigênio" para o hospital e garantiu que os tratamentos de quimioterapia ambulatorial serão normalizados na segunda-feira. Criseide reconhece que o número de pacientes na fila é alto, mas garante que ele não chega a 400. Ela justificou que, sem recursos, o hospital ficou sem capital de giro, o que levou à falta de remédios. A contrapartida será a abertura de oito leitos de terapia intensiva, que se somarão aos nove já existentes.
MPF dá prazo para providências
O procurador da República Ailton Benedito de Souza, que instaurou inquérito civil público para apurar as causas e consequências da crise no Hospital Araújo Jorge, que culminou com a interrupção de tratamentos de quimioterapia, espera receber, na próxima semana, as primeiras informações que ele requisitou sobre a situação na unidade, onde 80% dos 12 mil pacientes atendidos por mês são do Sistema Único de Saúde (SUS). O procurador pediu informações do Ministério da Saúde e das Secretarias Estadual e Municipal de Saúde sobre providências.
O prazo para atendimento é de cinco a dez dias. "Pedi informações específicas sobre as medidas tomadas para regularizar o atendimento aos pacientes, para depois apreciar a necessidade diligências", informou o procurador. O inquérito foi instaurado a partir da reportagem do POPULAR, que mostrou como a crise da instituição - cuja dívida total é estimada pela direção em R$ 62 milhões - afetou a quimioterapia. O Ministério Público estadual também instaurou inquérito.
Fonte: http://www.mp.go.gov.br/portalweb/1/noticia/0838c291b4ba36ad964f4580a18dc7c4.html
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