Nota de C&T: O artigo abaixo
foi escrito em 2004, mas está atualizado para realidade dos dias atuais, nada
mudou, pelo contrário, está pior, basta procurar saber os índices de
intoxicação registrados nos órgãos competentes.
Balconista
de Farmácia
Eurípedes
Sebastião Mendonça de Souza, gastroenterologista
O
balconista de farmácia é uma das ocupações profissionais que goza de certo
prestígio. Decifram as receitas médicas e odontológicas e estão sempre
disponíveis para esclarecer as dúvidas dos usuários. Vez por outro, extrapolam
os limites de sua competência e protagonizam as práticas conhecidas como
"empurroterapia" e "remédios B.O (bom para otário). Este autor
resolveu discutir este assunto em decorrência de um "Alerta a Classe
Médica" que a Federação Brasileira de Gastroenterologia está distribuindo
com os médicos especialistas nas doenças do sistema digestório (ex-digestivo).
O
"Alerta" denuncia a prática ilegal da venda dos "similares
incentivados" (medicamentos bonificados, nos quais os balconistas recebem
comissões sobre as vendas) e não os genéricos autorizados pela ANVISA.
Medicamentos muitas vezes produzidos em laboratórios desconhecidos dos médicos.
O documento supra recomenda que os pacientes não permitam que sua receita seja
trocada. E que a compra seja feita em grandes redes ou farmácias de sua
confiança.
Claro
que "nem tudo que reluz é ouro" e que no fundo está em jogo a
ganância financeira desmedida. Mas automedicação pode matar, empurroterapia
pode ser barata, mas não eficaz. Logo, o assunto é sério e merece de todos uma
profunda reflexão. Notadamente agora, que surgiram os balconistas de internet
(pasmem! Comercializam até medicação controlada) e balconistas graduados. Como
contribuição, descreve a seguir o autor uma experiência verídica vivenciada,
que por razões óbvias omitirá a identificação dos protagonistas.
O
sr. MF, então com 60 anos de idade, conhecia este autor e um balconista de
farmácia desde que eles eram crianças. Os três moravam no mesmo bairro de João
Pessoa. Certo dia o sr. MF começou a apresentar tosse com expectoração,
diminuição do apetite e fraqueza. Foi ao balconista que receitou-lhe xarope de
iodeto de potássio.
Como
os sintomas não melhoraram, o sr. MF voltou ao balconista que desta vez empurrou-lhe
um xarope de ambroxol e soro glicosado a 5% para ser ingerido (?!). Como não
surtiu efeito - e fiel ao ditado: "caso os sintomas persistirem, procure
um médico" - o sr. MF procurou o autor, que na época era recém formado,
que após escutar as suas queixas (tecnicamente chamado de anamnese), examiná-lo
(ausculta do pulmão e outras técnicas chamadas em conjunto de exame físico) e
solicitar uma radiografia do tórax e exame de escarro fez o diagnóstico de
tuberculose pulmonar. O sr. MF fez tratamento (gratuito) por seis meses e ficou
curado. O paciente estava há alguns meses disseminando o bacilo da doença para
seus amigos e parentes. O diagnóstico precoce teria evitado o absenteísmo ao
trabalho, gastos desnecessários com medicação e disseminação da doença. A
tríade do sucesso terapêutico não é nova: escutar - examinar - avaliar
exames - PRESCRIÇÃO. Tal seqüência não pode ser invertida ou "pulada".
Concluindo,
a prescrição de medicamentos é a última etapa da assistência
médica/odontológica. Tomar medicamentos sem diagnóstico da doença e sem a
qualificação do prescritor é um risco à saúde. Não seja otário. Cuide-se
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