domingo, 5 de agosto de 2012

Balconista de farmácia X Empurroterapia X BO (bonificados).

Nota de C&T: O artigo abaixo foi escrito em 2004, mas está atualizado para realidade dos dias atuais, nada mudou, pelo contrário, está pior, basta procurar saber os índices de intoxicação registrados nos órgãos competentes.

Balconista de Farmácia
Eurípedes Sebastião Mendonça de Souza, gastroenterologista

O balconista de farmácia é uma das ocupações profissionais que goza de certo prestígio. Decifram as receitas médicas e odontológicas e estão sempre disponíveis para esclarecer as dúvidas dos usuários. Vez por outro, extrapolam os limites de sua competência e protagonizam as práticas conhecidas como "empurroterapia" e "remédios B.O (bom para otário). Este autor resolveu discutir este assunto em decorrência de um "Alerta a Classe Médica" que a Federação Brasileira de Gastroenterologia está distribuindo com os médicos especialistas nas doenças do sistema digestório (ex-digestivo).

O "Alerta" denuncia a prática ilegal da venda dos "similares incentivados" (medicamentos bonificados, nos quais os balconistas recebem comissões sobre as vendas) e não os genéricos autorizados pela ANVISA. Medicamentos muitas vezes produzidos em laboratórios desconhecidos dos médicos. O documento supra recomenda que os pacientes não permitam que sua receita seja trocada. E que a compra seja feita em grandes redes ou farmácias de sua confiança.

Claro que "nem tudo que reluz é ouro" e que no fundo está em jogo a ganância financeira desmedida. Mas automedicação pode matar, empurroterapia pode ser barata, mas não eficaz. Logo, o assunto é sério e merece de todos uma profunda reflexão. Notadamente agora, que surgiram os balconistas de internet (pasmem! Comercializam até medicação controlada) e balconistas graduados. Como contribuição, descreve a seguir o autor uma experiência verídica vivenciada, que por razões óbvias omitirá a identificação dos protagonistas.

O sr. MF, então com 60 anos de idade, conhecia este autor e um balconista de farmácia desde que eles eram crianças. Os três moravam no mesmo bairro de João Pessoa. Certo dia o sr. MF começou a apresentar tosse com expectoração, diminuição do apetite e fraqueza. Foi ao balconista que receitou-lhe xarope de iodeto de potássio.

Como os sintomas não melhoraram, o sr. MF voltou ao balconista que desta vez empurrou-lhe um xarope de ambroxol e soro glicosado a 5% para ser ingerido (?!). Como não surtiu efeito - e fiel ao ditado: "caso os sintomas persistirem, procure um médico" - o sr. MF procurou o autor, que na época era recém formado, que após escutar as suas queixas (tecnicamente chamado de anamnese), examiná-lo (ausculta do pulmão e outras técnicas chamadas em conjunto de exame físico) e solicitar uma radiografia do tórax e exame de escarro fez o diagnóstico de tuberculose pulmonar. O sr. MF fez tratamento (gratuito) por seis meses e ficou curado. O paciente estava há alguns meses disseminando o bacilo da doença para seus amigos e parentes. O diagnóstico precoce teria evitado o absenteísmo ao trabalho, gastos desnecessários com medicação e disseminação da doença. A tríade do sucesso terapêutico não é nova: escutar - examinar - avaliar exames - PRESCRIÇÃO. Tal seqüência não pode ser invertida ou "pulada".

Concluindo, a prescrição de medicamentos é a última etapa da assistência médica/odontológica. Tomar medicamentos sem diagnóstico da doença e sem a qualificação do prescritor é um risco à saúde. Não seja otário. Cuide-se

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