quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Em Porto Alegre, lei estabelece que farmácias recolham medicamentos vencidos

Lucas Azevedo
Do UOL, em Porto Alegre
Entrou em vigor nessa terça-feira (7), em Porto Alegre, uma lei que obriga toda a farmácia a receber e dar um descarte correto a medicamentos fora da data de validade. O objetivo é dar um fim adequado a remédios geralmente eliminados no lixo comum. A determinação foi aprovada pela Câmara de Vereadores e sancionada na última sexta-feira. Entretanto, reuniões a partir da próxima semana entre o executivo municipal e o setor devem estabelecer critérios para descarte e fiscalização.
Com a lei, as farmácias serão obrigadas a receber os medicamentos e acondicioná-los para que sejam descartados sem prejuízos ao meio ambiente. E é o próprio cliente que levará o material até os pontos de coleta e entregá-lo a um atendente. O não cumprimento das novas normas pode acarretar advertências, multas de 5,5 mil reais a 11 mil reais, e até a suspensão ou cassação do alvará de funcionamento da farmácia.
Como a lei partiu do legislativo, onde não foi estipulado a forma de descarte e fiscalização, a prefeitura de Porto Alegre terá 15 dias para se reunir com os donos de farmácias e determinar conjuntamente esses pontos, assim como discutir o trabalho educativo a ser feito nos estabelecimentos e para a comunidade.
Conforme a Smic (Secretaria Municipal de Produção, Indústria e Comércio) de Porto Alegre, que trabalha em parceria com a Secretaria da Saúde neste projeto, nos primeiros dois meses serão realizadas ações educativas junto às farmácias, para só então dar início à fiscalização.
A questão, porém, não agrada totalmente a categoria ao deixar lacunas. O recolhimento e envio dos medicamentos vencidos a um local de descarte adequado implicará custo para as lojas e um amplo trabalho de divulgação.
“Os grandes conglomerados farmacêuticos possuem descarte em grande quantidade, o que não ocorre com as pequenas e médias farmácias. A farmácia já tem custo que não acaba mais. Sobra sempre para a farmácia. É o único setor que o governo controla a margem de lucro”, reclama o secretário executivo do Sindicato do Comércio Varejista de Produtos Farmacêuticos do RS, Guilherme Leipnitz.
Segundo o dirigente, até então, os descartes eram encaminhados à Vigilância Sanitária. Ele questiona a quem caberá o papel de divulgar a nova legislação e conscientizar as pessoas.
“A lei tem um espírito interessante. É óbvio que a população não pode ingerir medicamentos vencidos e o descarte deve ser consciente. Quero saber quem se encarrega de divulgar essa legislação. A União tinha que chamar para si essa responsabilidade. A Anvisa [Agência Nacional de Vigilância Sanitária], estabelecendo um regramento ou um projeto de lei para normatizar isso de forma clara e nacionalmente”, completa.
A agência vem conversando com a iniciativa privada sobre o assunto, mas ainda não há nenhuma lei que abranja todo o território nacional delimitando essas questões.
Iniciativa
O descarte inteligente de medicamentos vencidos não chega a ser uma novidade em Porto Alegre. Desde janeiro de 2010, uma rede do sul do país implementou seu próprio modelo de coleta. Até agora, cerca de 7,4 toneladas de remédios vencidos foram coletados.
Inicialmente, os clientes levavam até um dos postos coletores em determinadas farmácias do grupo o seu medicamento. No local, entregavam ao farmacêutico, que separava o remédio da bula e da embalagem. O medicamento era colocado em um compartimento e transportado a um aterro industrial.
Entretanto, desde maio de 2011, foram instaladas estações coletoras de medicamento em 51 lojas da rede, espalhadas pelo RS, Santa Catarina e na cidade de Curitiba.
“O próprio cliente faz o descarte. Ele vai à farmácia, passa a embalagem pelo código de barras no leitor da máquina, identificando o medicamento. Então, separa a bula e a caixa, que são materiais que não precisam ir ao aterro. Isso sem interferência de nenhum atendente”, explica a farmacêutica líder e coordenadora do programa de descarte dentro da rede, Leonor Pinto Moura. Na estação de coleta há dois recipientes: um destinado a pomadas e comprimidos, e outro a líquidos e sprays.
“Claro que temos um custo com tudo isso. Com a máquina, sua manutenção, com o transporte e a destinação final dos medicamentos. Quem banca esse projeto é a empresa em parceria com uma indústria farmacêutica. E só foi possível providenciar essas máquinas com parcerias”, esclarece Leonor.

Nenhum comentário:

Postar um comentário