Uma revisão de estudos realizada por um painel de especialistas
independentes da ONG Cochrane Collaboration aponta que pacientes diagnosticados
com hipertensão arterial leve estão sendo medicados em excesso e essas drogas
não reduziram ataques cardíacos ou acidentes vasculares cerebrais (AVC) – o
derrame.
A hipertensão é um dos principais fatores de risco para doenças
cardíacas e cerebrovasculares. Juntas, são a maior causa de morte no País e no
mudo. Os revisores da Cochrane analisaram dados de testes clínicos envolvendo 9
mil pacientes em tratamento de hipertensão leve. Ela representa os casos em que
a medida da pressão sistólica é de no máximo 159 mmHg e a da pressão
diastólica, de 99 mmHg. Isso significa que o doente com pressão arterial menor
que 16 por 10 é considerado um hipertenso leve.
A pesquisa analisou os resultados do tratamento com remédio e os
comparou com os de placebo ou nenhum tratamento. A constatação foi a de que não
houve nenhum benefício evidente no grupo de pacientes que tomou remédios. Para
os revisores, os resultados demonstram que qualquer benefício, se existir,
provavelmente será pequeno.
Uma das hipóteses para explicar o excesso de uso de medicação é a
chamada “síndrome da pré-doença” ou “pré-hipertensão”. Trata-se de um
diagnóstico dado ao paciente que tem fatores de risco e apresenta alguma
alteração em determinado exame, mas não necessariamente está doente. Dessa
forma, pessoas com hipertensão leve são tratadas da mesma forma que pacientes
com casos graves.
“Por muito tempo só era medicado o doente que sofria um evento cardíaco.
Mas, hoje, há inúmeras opções de medicamentos considerados preventivos que, em
geral, são prescritos como primeira opção ao paciente que poderia reduzir a
hipertensão largando o cigarro, perdendo peso, reduzindo o sal da alimentação”,
avalia Marcelo Ferraz Sampaio, do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia.
Outro fator que pode explicar o excesso de diagnóstico é a chamada
“síndrome do jaleco branco”, caracterizada pelo aumento da pressão arterial
quando o paciente está diante do médico.
Segundo o cardiologista Weimar Sebba Barroso, presidente do Departamento de Hipertensão da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), de 20% a 30% dos pacientes diagnosticados com hipertensão leve não estão doentes – a alteração ocorreu no consultório.
Segundo o cardiologista Weimar Sebba Barroso, presidente do Departamento de Hipertensão da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), de 20% a 30% dos pacientes diagnosticados com hipertensão leve não estão doentes – a alteração ocorreu no consultório.
De acordo com Barroso, é preciso ter cuidado para não passar a
informação equivocada de que a hipertensão leve não precisa ser tratada.
Sampaio reforça que o uso da medicação é necessário se o paciente realmente for
hipertenso leve e tiver antecedentes na família ou outros fatores de risco
associados.
FERNANDA BASSETTE
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