As grandes farmacêuticas vinham tranquilizando os investidores:
"Não se preocupem com os remédios campeões de venda cujas patentes estão
vencendo. O crescimento está nos mercados em desenvolvimento como a Índia e a
China, que ajudarão a substituir o faturamento perdido".
Acontece que há uma mensagem diferente circulando dentro dessas
empresas: não tão rápido.
O crescimento econômico lento, a concorrência local intensa e as
tentativas dos governos de controlar os custos com saúde e impulsionar as
firmas domésticas vêm diminuindo as perspectivas das grandes fabricantes de
remédios nos chamados mercados emergentes. E isso ameaça as ambiciosas metas de
venda embutidas na cotação das ações de muitas farmacêuticas.
Na Eli Lilly & Co., o crescimento mais lento da China e as pressões
sobre os preços em certos países estão afetando as vendas e poderiam ter um
impacto na sua meta de dobrar as vendas nos mercados emergentes entre 2010 e
2015, para US$ 4,6 bilhões, disse um porta-voz da companhia. A receita da Lilly
nos mercados emergentes caiu 4% no segundo trimestre, para US$ 612 milhões.
A Pfizer Inc., cujo faturamento nos mercados emergentes subiu 8% no
segundo trimestre, para US$ 2,6 bilhões, reduziu suas projeções de crescimento
nesses mercados da faixa inferior de dois dígitos, estimada no ano passado,
para a faixa superior de um dígito, disse recentemente ao The Wall Street
Journal o diretor-presidente, Ian Read.
"A maior parte do crescimento está indo para as empresas
locais" que vendem genéricos baratos, disse Read. "É difícil para as
multinacionais acompanhar o crescimento porque nós não temos os produtos
lá."
Ramificar-se para fora das cidades grandes, como Pequim e Xangai, para
manter as vendas crescendo significa enfrentar firmas locais estabelecidas, disse
Wu Xioabing, diretor da Pfizer na China. As grandes farmacêuticas ainda estão
tentando descobrir como vender para médicos e hospitais nas pequenas cidades
sem fazer os custos dispararem, e como fornecer o sortimento de remédios a
preços acessíveis que os consumidores procuram. Contratar fora pessoas que
conhecem esses mercados — e depois mantê-las nos seus quadros — é difícil,
disse ele.
Em geral, a Ernst & Young estima uma diferença de US$ 47 bilhões
entre as vendas que as maiores fabricantes de remédios esperam ter nos mercados
emergentes durante os próximos quatro anos e as receitas que elas podem de fato
alcançar.
Os mercados emergentes ainda são um alvo importante e em expansão,
enfatizam executivos do setor. Salários em alta em países de rápido desenvolvimento
como Brasil e Turquia estão aumentando a demanda por remédios, e governos como
o da China estão estabelecendo sistemas para ajudar as pessoas com os custos.
As vendas de remédios nos mercados emergentes vão aumentar em US$ 157
bilhões nos próximos cinco anos, atingindo US$ 345 bilhões, ou cerca de um
terço dos gastos mundiais com medicamentos, calcula a IMS Health. Por outro
lado, a fatia dos Estados Unidos e da Europa nos gastos mundiais com remédios
deve cair com os vencimentos de patentes, os cortes de custos e o crescimento
anêmico.
Apesar dos desafios nos mercados emergentes, algumas farmacêuticas estão
mantendo as suas previsões. A americana Merck & Co., conhecida fora dos EUA
como Merck Sharp & Dohme, espera bater sua meta de ter um quarto de suas
vendas de remédios e vacinas vindo de países emergentes, contra 18% hoje, disse
uma porta-voz. As vendas da MSD nesses países cresceram 1% no segundo
trimestre, para US$ 1,9 bilhão.
A Novo Nordisk A/S, uma líder nos remédios contra diabetes, projeta que
perto de um quarto da sua receita virá da China e outros países em rápido
desenvolvimento dentro de cinco anos, sendo que hoje essa fração é de um
quinto. O motivo é a queda de participação da Europa e outros países, disse ao
The Wall Street Journal o diretor financeiro, Jesper Brandgaard.
Brandgaard disse que o crescimento das vendas vem se mantendo estável no
Sudeste da Ásia e na América Latina, mas perdeu fôlego na China, de cerca de
20% por ano para em torno de 15%.
Dentro de muitas farmacêuticas internacionais, no entanto, há
frequentemente debates acalorados sobre o quanto do crescimento dos mercados
emergentes elas podem abocanhar, segundo executivos e especialistas da
indústria.
O mercado farmacêutico de US$ 25 bilhões do Brasil está crescendo 13% ao
ano, mas as multinacionais dos remédios devem esperar um crescimento na faixa
dos 10% no país. Isso por causa da lealdade das pessoas e das farmácias às
marcas locais conhecidas e o incentivo do governo ao uso dos genéricos, segundo
Jeffrey Greene e Andrew Forman, do Centro de Ciências Global Life da Ernst
& Young, que presta consultoria para farmacêuticas.
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