LÁUDIA
COLLUCCI
MARIANNA ARAGÃO
DE SÃO PAULO
MARIANNA ARAGÃO
DE SÃO PAULO
Entre 38 países, o Brasil é hoje recordista no nível de
tributação sobre os medicamentos vendidos nas farmácias sob prescrição.
A somatória das alíquotas de impostos federais e
estaduais incidentes sobre o produto, de 28%, é três vezes maior que a média
obtida entre os países do estudo.
Alguns, como Canadá, México e Reino Unido, têm alíquota zero sobre os remédios.
Alguns, como Canadá, México e Reino Unido, têm alíquota zero sobre os remédios.
A constatação é de um estudo inédito elaborado pelo
pesquisador Nick Bosanquet, professor de políticas de saúde do Imperial
College, em Londres, que considerou os impostos sobre consumo em cada um dos
países.
No Brasil, foram contabilizados o ICMS, imposto cobrado
pelos governos dos Estados, e o PIS/Cofins, cobrado pelo governo federal.
O ranking faz parte de uma publicação da Interfarma
(Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa), que será divulgada amanhã.
GASTOS PESSOAIS
O nível recorde de tributação tem impacto direto no bolso
dos consumidores, uma vez que, no mercado brasileiro, os gastos com remédios
não são reembolsados pelo Estado ou pelos planos de saúde, como ocorre em
países desenvolvidos.
No mercado farmacêutico brasileiro, cujo faturamento
somou R$ 42,8 bilhões em 2011, segundo dados do instituto IMS Health, 71,4% do
desembolso é realizado diretamente pela população.
Nos países europeus, de 10% a 15% dos gastos são
assumidos pelo consumidor.
"O consumidor tira do próprio bolso para financiar
seu tratamento e ainda paga o maior tributo do mundo", diz Antonio Brito,
presidente da Interfarma. "A soma das duas situações é explosiva."
A eliminação de tributos sobre medicamentos prescritos
pode aumentar as vendas em 2,5% a 5%, diz o estudo.
Esse impacto ocorreria sobretudo entre os consumidores de
menor renda.
Dados do IBGE mostram que o desembolso das famílias de
classe E em medicamentos é de R$ 7 por mês.
Os mais ricos gastam por mês R$ 97, enquanto a média
nacional é de R$ 38,60.
"Esses números mostram que o acesso aos medicamentos
depende exclusivamente da renda do brasileiro", afirma Brito.
ICMS
Segundo o tributarista Bruno Coutinho de Aguiar, do
escritório Rayes e Fagundes, o grande vilão da tributação no setor farmacêutico
é o ICMS. A alíquota do imposto dos Estados é de, em média, 17%.
"Um produto essencial como o medicamento tem uma
alíquota maior que a de automóveis, por exemplo."
Marcelo Liebhard, diretor de assuntos econômicos da
Interfarma, diz que, em muitos Estados, o valor arrecadado com o ICMS sobre
medicamentos é superior à quantia gasta pelo governo na distribuição de
medicamentos.
"Isso ocorre em São Paulo, onde são recolhidos R$ 3
bilhões de imposto."
Segundo os especialistas, o preço impeditivo faz com que
cresçam as demandas na Justiça pedindo o fornecimento de medicamentos pelo
governo. Estima-se que existam 200 mil processos na Justiça brasileira com esse
tipo de solicitação.
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