Crônicas Farmacianas
Fonte: http://bistury.wordpress.com/2011/01/07/cronicas-farmacianas/
Só um balconista de farmácia sabe o que é ser um balconista de farmácia.
E haja paciência!!!
Capítulo
1: Tem desconto?
Quando você
vai abastecer seu carro no posto de gasolina, você não pede desconto ao
frentista. Mas todo mundo que vai à farmácia acha que tem direito a desconto
nos preços: o aposentado quer desconto no medicamento do coração, o garotão
bombado quer desconto no aminoácido, a gatinha quer desconto no
anticoncepcional e o avarento quer desconto numa cartelinha de analgésico. Isso
mesmo! Tem gente que pede desconto numa cartela que custa R$ 1,20! Eu sinto
vontade de abrir minha carteira e pagar a cartela de analgésico para o cidadão!
Sim, porque se o cara pede desconto numa cartelinha de medicamento, é sinal de
que está passando fome! Concordo que alguns medicamentos custam os olhos da
cara: 120, 180, 300 reais, mas pedir desconto em qualquer coisa, faça-me o
favor. Parece que o povo anda viciado neste negócio de desconto, é uma espécie
de compulsão! Até em talco para chulé eles pedem o bendito desconto! E olha que
o povo mais bem vestido é o mais chorão! Tem cliente que entra na loja e a
primeira coisa que ele fala (nem responde ao seu bom dia) é perguntar com um ar
tenso e ansioso: “TEM
DESCONTO?”
Capítulo
2: Esquecí o nome.
Mas o que me
irrita mais do que o cliente compulsivo por desconto é o cliente com aminésia.
O fulano entra na farmácia e solta: ”
eu quero um remédio, mas esquecí o nome! Qual é mesmo?” - Como é
que eu vou saber, meu senhor? Aí começa aquela ladainha: “É um comprimidinho branco, numa
caixinha branca, quadrada com uma tarjinha vermelha, você não sabe?”
Alguém aí já viu quantas caixinhas brancas e quadradas tem dentro de uma
farmácia? E eles pensam que nós balconistas abrimos caixa por caixa para gravar
a cor e o formato de todos os comprimidos, para quando eles esquecerem, nós
possamos lembrá-los! Te dou uma dica, meu amigo, minha amiga: quando você não
se lembrar do nome do medicamento que você quer, não và à farmácia! Só vá
quando tiver certeza do que quer! Não somos adivinhos!
Capítulo
3: Lá tá mais barato
Esta aqui é
uma situação muito próxima à mostrada no Capítulo 1: só que aqui o cliente pede
desconto, mas o desconto que ele quer! O camarada ou a madame chega e pergunta
o valor de um medicamento. Você então, singelo e prestativo balconista anuncia,
por exemplo: “-De 28 reais
sai por 22 reais”. E é aí que o abençoado lança a pérola: “- Mas não tem desconto?”
– Nesta hora não dá vontade nem de responder, mas mesmo assim você tem que
dizer: “Já está com
desconto” (óbviamente). Pois o cliente ainda tem a segunda bala na
agulha que é ainda mais letal: “Ah,
mas na Tonga da Mironga Farma, tá mais barato! Mágina!, Paguei 16 reais lá! “.
Claro que isso é dito no mais puro tom de indignação! E etnão pergunto a vocês,
se o corno encontrou um preço tão bom lá na farmácia da P.Q.P., porque não
compra lá? E nesta situação é fácil de saber se o belo está mentindo: se ele
agradecer e ir embora, é sinal de que está falando a verdade, mas se insistir e
arrumar briga com você te forçando a fazer o preço que ele quer, é forte
indicio de que ele está blefando e tentando por o preço no seu produto.
Capítulo
4: A fauna clientesca
Cliente
bom: na minha
opinião cliente bom, é aquele que entra na drogaria, pede o medicamento que
quer, vai para o caixa, paga e vai embora, como qualquer pessoa normal.
Cliente
fujão: é aquele
que fica rodando feito um perú tonto pela perfumaria e quando você pergunta se
pode ajudá-lo em alguma coisa, ele te olha com um olhar assustado e sai
apressadamente da farmácia como se tivesse se deparado com um monstro (você).
Cliente
indiferente:
este entra na farmácia e também fica rodando feito um perú tonto procurando
sabe-se lá o quê nas gôndolas. Você, balconista o aborda e pergunta se pode
ajudá-lo. Ele então continua sua busca sem mesmo olhar para sua cara nem falar
nada, ou seja, você não existe. Neste caso, afaste-se dele o mais que puder,
pois mais cedo ou mais tarde ele vai se dar conta de que é incapaz de encontrar
o que está procurando então virá pedir sua ajuda, mas deixe que ele venha até
você.
Cliente
herói: é o
panaca que entra na farmácia com a namoradinha. Ela pede um anticoncepcional
(em 90% das vezes) e quando você traz a caixa do medicamento o herói toma a
frente e pede desconto para mostrar que é um cara de atitude, o verdadeiro
herói das donzelas férteis.
Cliente
especialista:
este acha que sabe mais do que você. Diz o nome do medicamento erradamente e
erra ainda mais feio na dosagem. E se você for tentar corrigí-lo, ele bate o pé
e solta: ” Que isso, eu uso
este medicamento há vinte anos! “. Não é necessáriamente
hipocondriaco, mas gosta de mostrar que entende. Mas como eu disse, ele na
verdade não sabe que não sabe.
Cliente
orgulhosão: ele
te trás uma receita de cloridrato de ciprofloxacino 500 mg. Você então traz o
dito cujo para ele e anuncia o preço: 25 reais. O orgulhosão então estufa o
peito e diz: ” Genérico,
não! Eu quero o original! Eu não tomo genérico! “ É um dos momentos
de desforra que o balconista tem. Ah é? Quer o original? Lá vem o Cipro 500 mg
por 147 reais com os mesmos 14 comprimidos. É nessa hora que você vem quem tem
bala na agulha para manter o orgulho e quem tem que baixar a bola e comprar o
genérico ( 95% baixa a bola e compra o genérico).
Cliente
lobo em pele de carneiro:
geralmente são senhores idosos e muito gentis. Mas quando o balconista não faz
o preço que ele quer, deixa a mascra cair e parte para a ignorância com direito
a xingamentos à senhora sua mãe e tremiliques de nervoso (alguns salivam pelo
canto da boca). Estes te acusam de tentar enganá-los.
Cliente
patrão:
geralmente são aqueles senhores bem vestidos com voz de fumantes e pinta de
empresários. Entram e vão dando ordens a você: “Me vê aí um Crestor de 10 mg e me faz o preço da Tonga
da Mironga porque compro lá mais barato!” Quando é contrariado (não
recebe o desconto que exige), geralmente não cria caso: te olha de cima com ar
de reprovação, vira as costas e vai embora sem falar nada.
Cliente
campainha: este
aparece geralemente quando tem apenas um atendente na farmácia e não percebe
sua presença. Então ao invés de chamar o balconista, o cliente campainha fica
tamborilando as unhas ou as chaves do carro no balcão. além de quando o
balconista está de costas e o inteligente pergunta: “Não tem ninguém pra atender?” — Não senhora,
não tem ninguém! Eu sou apenas uma ilusão de ótica, uma miragem…o Ninguém não
pode atendê-la, pois ele está jantando.
Cliente
controle remoto
Amigo balconista, sabe quando você está trabalhando no domingo a tarde, com aquela puta preguiça? Então chega aquele cliente mala pedindo algo da perfumaria. Mas por sorte, o produto está numa gôndola bem em frente ao balcão onde você está. Você então ativa o “cliente controle remoto”. É fácil! Você se debruça no balcão, aponta para o produto na gôndola e diz: “é aquele frasquinho ali, senhor!” É claro que ele não vai enxergar de primeira, então você começa a guiá-lo: ” mais à esquerda! Na prateleira de cima! Agora mais a direita, ao lado da caixinha verde! Isso! O senhor está apontando para ele!”. Claro que na maioria das vezes você tem que sair do balcão e ir pegar, mas é interessante guiar um cliente remotamente!
Amigo balconista, sabe quando você está trabalhando no domingo a tarde, com aquela puta preguiça? Então chega aquele cliente mala pedindo algo da perfumaria. Mas por sorte, o produto está numa gôndola bem em frente ao balcão onde você está. Você então ativa o “cliente controle remoto”. É fácil! Você se debruça no balcão, aponta para o produto na gôndola e diz: “é aquele frasquinho ali, senhor!” É claro que ele não vai enxergar de primeira, então você começa a guiá-lo: ” mais à esquerda! Na prateleira de cima! Agora mais a direita, ao lado da caixinha verde! Isso! O senhor está apontando para ele!”. Claro que na maioria das vezes você tem que sair do balcão e ir pegar, mas é interessante guiar um cliente remotamente!
Capítulo
5: Tem recarga?
A cidadã
“canadense” entra na farmácia (pelo naipe você já percebe o que ela quer) e
bingo! Ela pergunta: ” Tem recarga? ” Sim tem recarga de celular, minha
senhora. Mas aí o abençada começa a remexer na bolsa (detalhe você está sozinho
da farmácia e tem mais clientes no balcão bufando) e depois de algum tempo puxa
uma agenda maltrapilha e diz: “é
pra cinco telefone, dois Vivo, dois TIM e um Claro” é nessa hora
que seus ombros caem e sua feição demonstra cansaço, porque aí vai mais uma
jornada para a senhora ajustar o óculos de leitura na cara e acertar os botões
da maquineta para digitar todos os números. Tudo bem que cada recarga deve ser
feita e cobrada indivudualmente e que o impressora solta entre 3 e 5 vias em
cada recarga. Mas tudo bem, você tem o turno inteiro para atendê-la! A cliente
com dor de dente que vai comprar um anti-inflamatório, pode muito bem esperar o
termino da recarga!
Problem,
cliente?
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