Pastor crê em ‘patologias’ sexuais e deputado
propõe restrição a remédio
Natanael
Damasceno / Publicado:19/04/13 - 5h00
RIO - Conceitos
pregados em Igrejas também estão na pauta da Assembleia Legislativa do Rio
(Alerj). Para agradar a sua base eleitoral, deputados da bancada religiosa têm
apresentado projetos de lei com tons moralistas mesmo que, na prática, os
textos sejam inócuos ou pareçam esdrúxulos. É o caso de dois projetos
publicados esta semana no Diário Oficial, apresentados pelos deputados Márcio
Pacheco e Édino Fonseca, ambos do PSC. A proposta do primeiro, muito criticada
entre a classe médica, proíbe no estado a venda de medicamentos cujo princípio
ativo seja o misoprostol, usado como indutor de partos naturais e para tratar
abortos espontâneos. Já a ideia do segundo parlamentar é garantir acesso à
saúde pública a quem for portador de “patologias” como transsexualismo, travestismo,
transtornos de preferência sexual, entre outros. Segundo a justificativa que
acompanha o projeto, “o Estado não pode se omitir quanto ao tratamento dessas
pessoas que vivem conflitos internos e externos violentos.”
O deputado que
assina o projeto, e também é pastor evangélico, diz que quer dar contribuição
para ajudar os gays a “tratarem sua doença”:
— O Conselho
Federal de Psicologia deixou de considerar o homossexualismo um desvio sexual.
Mas a Organização Mundial de Saúde, através da classificação internacional de
doenças, define estes comportamentos como patológicos. Nós, nas igrejas,
oferecemos conforto espiritual a estes indivíduos. O que queremos é que o
Estado garanta um tratamento clínico a estes indivíduos.
Para quem não
lembra, Édino ganhou os holofotes em 2004 ao apresentar um projeto de lei que
previa a criação de um programa, financiado com recursos públicos, de auxílio
às pessoas que quisessem deixar de ser homossexuais. Ele, que não se considera
homofóbico, diz que a proposta atual é uma evolução do que foi apresentado
naquela época e arquivado um ano depois.
— Fui mal
interpretado. Quero ajudar estas pessoas. Elas precisam de ajuda e o Estado se
nega a ajudar. Penso: ‘isso não pode ser normal’. Por isso, vejo nas passeatas
gays um desfile de pessoas doentes, precisando de ajuda enquanto a sociedade
diz que está tudo normal.
Apesar das ideias
conservadoras do deputado, o projeto já agradou a comunidade GLBT.
Superintendente de Direitos Individuais, Coletivos e Difusos da Secretaria
estadual de Assistência Social e Direitos Humanos, o ativista Claudio
Nascimento diz que o projeto vai ao encontro do que os transsexuais vêm
pleiteando há anos.
— É nítido que ele
quer ‘patologizar’ transsexuais e travestis para agradar seus eleitores. Mas o
tiro vai sair pela culatra. Há anos, buscamos a aprovação de uma lei que
garanta a continuidade de programas de atendimento psicológico a transsexuais.
Não para que eles desistam da opção sexual, mas para tratar de conflitos reais.
A lei pode se tornar um marco para a comunidade. Aliás, se o projeto for
aprovado, ele será o primeiro deputado fundamentalista que terá o apoio unânime
da comunidade gay. Vamos encher as galerias com transsexuais e ativistas com
buquês de flores para o deputado.
‘Projeto
estapafúrdio’
Já o projeto de
Márcio Pacheco, que proíbe a venda do misoprostol, princípio ativo de
medicamentos como o Cytotec, peca, segundo especialistas, por não ter nenhum
efeito no que se propõe. O parlamentar, que já apresentou uma série de projetos
contra o aborto, diz que a lei evitará a venda clandestina do medicamento para
jovens grávidas. No entanto, o presidente da Associação de Ginecologia e
Obstetrícia do Rio, Marcelo Burla, explica que o medicamento é de uso
hospitalar e que, por ordem da Anvisa, não é vendido em farmácias.
— O projeto é
completamente estapafúrdio. Este é um medicamento essencial para a indução de
partos naturais e para o tratamento de abortos, espontâneos ou provocados. Há
venda clandestina, mas não será este tipo de lei que irá coibi-la. E, pior,
ainda pode dificultar a venda do medicamento para hospitais no Rio — diz o
médico.
Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/rio/fundamentalismo-religioso-ocupa-pauta-da-alerj-8158354#ixzz2Qy1EIprF
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