De: Mustafá Ali Kanso
Um dos fundadores da sociologia, o economista alemão Max Weber, conceitua o poder como sendo toda a probabilidade de impor a própria vontade numa relação social, obstante qualquer resistência e independentemente do fundamento dessa probabilidade.
Um dos fundadores da sociologia, o economista alemão Max Weber, conceitua o poder como sendo toda a probabilidade de impor a própria vontade numa relação social, obstante qualquer resistência e independentemente do fundamento dessa probabilidade.
Um dos exemplos mais simplórios e também um
dos mais anacrônicos do exercício do poder está manifestado no membro
administrativo de algumas corporações, com grau hierárquico executivo identificado
simplesmente como “o chefe”.
“O chefe” é o personagem muitas vezes
caricato que, encarnando o detentor de alguma forma de poder, tem muitas vezes
seu grau de hierarquia oficializado por títulos sugestivos, tais como
coordenador, gerente, diretor, supervisor, etc.
Independentemente do título, ser chefe é ter
acesso privilegiado às informações e às decisões, e também a outros
instrumentos administrativos que viabilizam o exercício desse poder, tais como
a promoção e a demissão de seus subordinados, por exemplo.
No Brasil das corporações anacrônicas é comum
se ouvir nos bastidores:
- O chefe tem sempre razão!
- Manda quem pode – e obedece quem tem juízo!
E por aí vai.
A infelicidade de tal prática, onde chefe é
chefe e subordinado é subordinado (sendo a diferença muito nítida também no
montante dos salários) geralmente está acompanhada pelo autoritarismo de uma
parte e a subserviência da outra.
Talvez uma herança atávica do feudalismo, o
exercício do micro poder diário das chefias nos convida a um questionamento
filosófico também sobre o exercício diário da ética, que se traduz, na
interpretação de muitos filósofos modernos, como sendo simplesmente o exercício
da moral.
Muitos chefes possuem um poder
circunstancial. Mandam mas não lideram.
E talvez por falta dessa mesma liderança
ameacem, intimidem e se transmigrem amiúde na versão tragicômica de pequenos
tiranos.
Em síntese: um rato que ruge.
E o que é pior, é que muitos desses chefes
tiranos brotaram do plano comum de seus subordinados.
Quando então promovidos simplesmente “mudam
de lado”.
Talvez porque na maioria das corporações onde
exista um chefe tirano, também existam subordinados que trabalhem direito
apenas quando contam com uma “severa” supervisão.
Flagra-se, portanto, a carência de moral,
tanto de uma parte como de outra.
Qual é a solução?
Melhorando-se o subordinado, transformando-o
em colaborador se melhoraria também a chefia?
Ou trocando-se um chefe por um verdadeiro
líder, a coisa toda mudaria de figura?
Será?
Ou é do indivíduo que temos de falar – antes
de mais nada?
Para concluir este artigo e suscitar essa
fabulosa reflexão – quero apresentar aqui minha releitura recorrente de uma das
“Fábulas Fabulosas” de Millôr Fernandes:
“O rato que tem medo”
A história é bem simples. Um rato que depois
de muito sofrer pede para um grande mágico transformá-lo em um gato. Não
suportava mais ser perseguido e intimidado.
Nem bem foi transformado, ironicamente,
passou a perseguir todos os ratos que encontrou. Porém, com inédita crueldade e
efetiva precisão. Afinal conhecia com propriedade o modus operandi
destrutivo dos ratos.
Viveu satisfeito até encontrar um cão – que
então o persegue.
Implora mais uma vez para que mágico o
transforme, dessa vez em um cão, e assim, por efeito da magia vai subindo
sucessivamente a escala zoológica até chegar na iminência de ser transformado
em ser humano.
Nessa passagem, o mágico, numa peripécia o
transforma novamente num rato.
- Mas por que voltei a ser rato? – pergunta o
animal, transbordando frustração.
É com a sabedoria típica das fábulas que o
Grande Mágico responde:
- De que adiantaria para o mundo mais um
Homem com “coração de rato”!
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