Na política brasileira, não há como garantir uma gestão eficiente
das estatais – e sem falar de corrupção.
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ARTIGO - Carlos Alberto
Sardenberg
Publicado:14/03/13 - 8h38
Não
é por nada, não, mas se a gente pensar seriamente na história recente da
Petrobras, sem paixões e sem provocações, vai acabar caindo na hipótese
maldita, a privatização.
A
estatal teve bons momentos, colecionou êxitos, acumulou tecnologias e formou
quadros. Mas, sempre que isso aconteceu, não foi porque se tratava de uma
estatal. A companhia foi bem sempre que agiu como petrolífera, digamos, normal,
quase independente.
Já quando
foi mal, como vai hoje, a causa é evidente: a condição de estatal.
Radicalizando,
poderia se dizer que, quando a Petrobras funciona, consegue isso apesar de ser
estatal. Mas todos sabemos que há petrolíferas estatais muito bem-sucedidas
pelo mundo afora.
Como
também há outras simplesmente desastrosas, e, como a própria Petrobras alternou
períodos positivos e negativos, a questão é: como uma estatal pode fracassar?
A
resposta está diante de nossos olhos. Trata-se do pecado mortal da politização,
que se manifesta de duas maneiras complementares: a nomeação de diretores e
chefes não por sua competência e sua história na empresa, mas pela filiação
política ou sindical; e a definição dos objetivos e meios da empresa não por
análises econômicas, e sim pela vontade dos governantes e das forças políticas
no poder.
Não
é preciso pesquisar nada para se verificar que a Petrobras caiu nesses dois
buracos nos governos Lula e Dilma. A disputa pelos diversos cargos da companhia
tornou-se pública, com os partidos e grupos reclamando abertamente as posições
de que se julgavam merecedores. Lula, em entrevista formal, contou o quanto
interferiu no comando da estatal, levando-a a ampliar projetos de investimentos
claramente incompatíveis com as possibilidades da empresa e as condições do
mercado.
Foi
a atual presidente da Petrobras, Graça Foster, quem admitiu o irrealismo
daqueles planos. E também o ex-presidente da Agência Nacional de Petróleo,
Haroldo Lima, reconheceu que a vontade de Lula prevaleceu sobre os argumentos técnicos
na definição das regras para a exploração do pré-sal.
Ora,
isso demonstra que a blindagem montada no governo FHC simplesmente não
funcionou. Em 1997, por emenda constitucional o monopólio do petróleo foi
transferido da Petrobras para a União. A partir daí, a União passou a leiloar
os direitos de exploração dos poços, abrindo a disputa para empresas privadas
nacionais e estrangeiras. A Petrobras passou a competir no mercado.
Para
garantir a despolitização, o governo estabeleceu regras de governança para a
estatal e criou a tal Agência Nacional de Petróleo, órgão independente,
administrado por diretores técnicos, com mandatos, encarregada de organizar e
fiscalizar o setor de petróleo, gás e outros combustíveis.
Parecia
um bom arranjo. O presidente da República indicava os diretores das agências,
mas respeitando critérios de conhecimento técnico e experiência, que seriam
checados pelo Senado, responsável pela aprovação final dos indicados.
Isso
não eliminava as decisões dos políticos eleitos pelo povo. Como acionista
majoritário da Petrobras, por exemplo, o governo federal poderia determinar a
estratégia da companhia no Conselho de Administração, como acontece em qualquer
grande empresa. Mas a execução tinha de ser feita tecnicamente, mesmo porque a
empresa havia perdido o monopólio e precisava competir.
O
que aconteceu no governo Lula? O Senado, como faz nos outros casos,
simplesmente tornou-se um carimbador de indicações para a diretoria da ANP,
assim como para as demais agências reguladoras. Os partidos passaram a lotear
abertamente esses cargos. No governo Dilma, o Senado negou uma única indicação,
e por um péssimo motivo. Tratava-se de um quadro competente, mas os senadores
da maioria queriam mandar um recado para a presidente, colocar um obstáculo para
cobrar uma fatura.
Tudo
considerado, o que temos? As regras de governança e o sistema de agências
atrapalharam um pouco, deram mais trabalho aos governos Lula e Dilma, mas não
impediram que se politizasse inteiramente a companhia e o setor.
A
crise dos royalties é uma consequência disso. Também os cinco anos sem leilão
de novos poços, o que atrasou a exploração do óleo. E isso levou o Brasil a ser
cada vez mais dependente da importação de óleo e combustíveis, ao contrário do
que dizia a propaganda oficial do governo Lula.
Sim,
a nova presidente da Petrobras tem feito alguma coisa para levar a companhia a
uma atuação mais técnica. Mas são evidentes as suas limitações.
O
PSDB ataca a gestão petista na Petrobras e diz que, no governo, faria a
“reestatização” da companhia. Ou seja, voltaria ao sistema da era FHC.
Nada
garante que isso garantiria despolitização. Na verdade, a história recente
prova o contrário: na política brasileira, não há como garantir uma gestão
eficiente das estatais — e sem falar de corrupção.
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