quarta-feira, 6 de março de 2013

Bristol-Myers Squibb refaz-se para viver com menos patentes

05/03/2013.
A farmacêutica Bristol-Myers Squibb Co. está numa encruzilhada. Depois de o Plavix®, o seu medicamento anticoagulante, com um mercado global de 7,1 mil milhões de dólares, ter perdido a protecção de patente nos EUA em 2012, as versões genéricas ganharam a maior parte dessas vendas, que representavam cerca de um terço da receita do laboratório, avança o Valor Econômico.



Na preparação para a expiração da patente, a Bristol-Myers Squibb passou por uma das maiores reestruturações já realizadas no sector. Foram eliminadas as unidades de comida pronta para bebés, máquinas de ecografias e curativos cirúrgicos. Hoje, a empresa tem uma equipa cerca de 30% menor e metade das fábricas que tinha há sete anos. Até o bar na sede da Bristol-Myers Squibb, em Nova Iorque, foi eliminada.


Agora, a Bristol-Myers Squibb está muito mais ‘magra’, transformada numa farmacêutica de médio porte, focada exclusivamente no lançamento de novos produtos. Entre eles o Eliquis®, da nova geração de medicamentos anticoagulantes, e há uma série de medicamentos que estão nos últimos estágios de ensaios para tratamento do cancro, diabetes e hepatite C.


"Temos um futuro muito brilhante", disse o director financeiro Charles Bancroft numa entrevista ao The Wall Street Journal.


Mas não está claro se os novos fármacos, sozinhos, bastarão para recuperar o crescimento. No ano passado, a Bristol-Myers Squibb registou 17,6 mil milhões de dólares em vendas, 17% menos que o obtido no ano anterior, antes do vencimento da patente do Plavix®. A Bristol-Myers Squibb prevê que as vendas de 2013 serão mais ou menos iguais às de 2012.


Se essa série de medicamentos em teste não tiver êxito, a Bristol-Myers Squibb poderá passar por mudanças ainda maiores. A empresa já foi considerada por Wall Street como um alvo de aquisição. Ou ela pode ter que recorrer aos produtos de algum outro laboratório, através de alguma grande aquisição que evitou fazer durante a fase de ‘cortar gorduras’. A Bristol-Myers Squibb já fez estudos preliminares sobre a possibilidade de uma grande aquisição, segundo fontes a par da visão da empresa.


No fim de 2012, a empresa tinha 6,4 mil milhões de dólares em dinheiro ou equivalentes.


Nos últimos meses, a Bristol-Myers Squibb avaliou uma possível aquisição da Biogen Idec Inc., empresa de biotecnologia com valor de mercado de 39 mil milhões de dólares, que fabrica medicamentos para doenças neurológicas como a esclerose múltipla, segundo fontes próximas do assunto. No ano passado, a Bristol-Myers Squibb também considerou a compra da Shire PLC, biotecnológica do Reino Unido, com fármacos que tratam o deficit de atenção, a hiperactividade e uma série de doenças raras, segundo outras fontes. A Shire tem valor de mercado de cerca de 18 mil milhões de dólares.


Em 2011, a Bristol-Myers Squibb já tinha mostrado vontade de aquisições, com a ideia de comprar a Pharmasset Inc., fabricante de medicamentos para a hepatite C, depois comprada pela Gilead Sciences Inc. por 11 mil milhões de dólares.
A Bristol-Myers Squibb preferiu não dar detalhes, dizendo que não faz comentários sobre especulações ou rumores de mercado. A Biogen e a Shire não quiseram comentar.


Se uma Bristol-Myers Squibb mais ‘magra’ tiver sucesso, isso poderá ser um indicador para outros laboratórios que também simplificaram os seus negócios diante de graves quedas devido a patentes expiradas. A Pfizer, que perdeu a patente do Lipitor®, o seu medicamento mais vendido, no fim de 2011, vendeu as suas divisões de alimentos para bebés e saúde animal. A Abbott Laboratories, preocupada com a dependência nas vendas do Humira®, um medicamento para a artrite reumatóide, dividiu-se em duas empresas, uma farmacêutica e outra de dispositivos médicos.


As empresas viram as suas acções subirem em resposta a esses esforços. Wall Street agora observa se os medicamentos em desenvolvimento pela Bristol-Myers Squibb poderão continuar a justificar a alta cotação das suas acções, dizem analistas. A empresa tem hoje valor de mercado de mais de 60 mil milhões de dólares.


Um grande negócio representaria uma mudança de rumo para a Bristol-Myers Squibb, conhecida pelas suas aquisições de pequeno e médio porte. Depois de um esforço frustrado para proteger o Plavix® contra a concorrência dos genéricos, em 2007 a Bristol-Myers Squibb nomeou James Cornelius como director-presidente e anunciou o seu plano de reestruturação e de usar essas pequenas compras para reabastecer o seu stock de futuros medicamentos. Em 2010, Lamberto Andreotti tornou-se director-presidente.


Elliott Sigal, chefe de investigação e desenvolvimento (I&D) da Bristol-Myers Squibb, disse que a empresa sempre foi "agnóstica" em termos de tamanho ou estrutura com relação às empresas que avalia adquirir. O que ela procura, segundo ele, é ganhar fármacos promissores que complementem a sua carteira de tratamentos para doenças virais como a sida, distúrbios neurológicos e outras doenças, sem gastos excessivos ou grandes riscos.


Para o crescimento a curto prazo, a Bristol-Myers Squibb está a contar com o Eliquis®, medicamento para prevenção de AVC, aprovado no ano passado nos EUA, que será vendido em parceria com a Pfizer. Alguns analistas calculam que as vendas podem alcançar os 5 mil milhões de dólares anuais. A Bristol-Myers Squibb também aposta em fármacos que oncológicos que utilizam o próprio sistema imunológico do organismo, como a Yervoy®, para o cancro da pele, aprovado em 2011.


Mas algumas apostas não compensaram. A Bristol-Myers Squibb foi multada em 1,8 mil milhões de dólares no ano passado e concordou depois em pagar 80 milhões de dólares para encerrar processos ligados a mortes e lesões causadas durante testes de um medicamento para a hepatite C.


Um porta-voz da Bristol-Myers Squibb disse que o caso foi um contratempo infeliz e que desenvolver tratamentos para essa infecção continua a ser uma prioridade.

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