O mito diz: os saltos
tecnológicos acontecem em garagens esconsas onde se juntam alguns geniais rapazes.
E no entanto é realmente um mito. O Estado conta e muito.
Comentário de C&T: Recentemente temos acompanhado a luta do Dr. Hemerson Casado Gama (Maceió - Alagoas) para sensibilizar as autoridades (Governo e Congresso Nacional) para investirem na viabilização de estudos científicos no tratamento da ELA (esclerose lateral amiotrófica) no Brasil, mas este assunto parece ser pouco importante para os gestores do dinheiro público, o que fazem é muito pouco diante do potencial que o Brasil tem para se tornar uma referência na comunidade científica do planeta.
30/06/2014 | 00:28 | Dinheiro Vivo
"Os
grandes avanços da civilização", escreveu Milton Friedman em Capitalismo e
Liberdade (1962), "na arquitetura ou na pintura, ciência ou literatura,
indústria ou agricultura, nunca tiveram origem no governo". Não explicou
onde é que inseria a arte patrocinada pelo
Estado na Atenas de Péricles, nem os Médicis que, enquanto banqueiros
dominantes e dirigentes florentinos, encomendaram e financiaram tanta da arte
do Renascimento. Ou a corte espanhola, que nos deu Velázquez. Ou o Manhattan
Project do governo norte-americano, que originou a produção da bomba atómica,
ou os Institutos Nacionais de Saúde, cujas bolsas concedidas conduziram a
muitas das mais importantes inovações farmacêuticas.
Talvez
pudéssemos perdoar os comentários mal informados de Friedman como uma explosão
de entusiasmo ideológico, se tantos economistas e executivos não aceitassem
este mito como verdadeiro. Ouvimos repetidamente de quem não se esperaria que o
governo é um obstáculo às inovações que produzem crescimento. Que devia sair do
caminho. Lawrence Summers disse algo do género pouco depois do fim do seu
mandato como ministro das Finanças de Clinton: "Há algo nesta época que
atribui um valor preponderante aos incentivos, à descentralização, ao permitir que
a pequena energia económica flua de baixo para cima, em vez de optar por uma
abordagem mais direta, de cima para baixo. Mais recentemente, o economista
Robert Gordon afirmou-se "extremamente cético em relação ao governo"
como fonte de inovação. "Esse é o papel dos empreendedores. O governo não
teve nada a ver com Bill Gates, Jobs, Zuckerberg."
Felizmente,
um novo livro, The Entrepreneurial State, da economista da Universidade de
Sussex Mariana Mazzucato, documenta enfaticamente o quanto essas afirmações
estão erradas. A investigação vai muito além da história batida sobre como a internet foi desenvolvida no Departamento
de Defesa dos Estados Unidos. Por exemplo, embora Steve Jobs tenha imaginado e
concebido de maneira brilhante novos produtos, a pesquisa científica de base
para o iPod, iPhone e iPad deveu-se a cientistas e engenheiros apoiados pelo
governo, na Europa e na América. A tecnologia touch-screen baseou-se em
pesquisas feitas em laboratórios financiados pelo governo nos anos de 1960 e
1970.
Gordon
designou os Institutos Nacionais de Saúde um útil "apoio"
governamental ao muito mais importante trabalho das farmacêuticas. Mas
Mazzucato demonstra que estes Institutos foram
responsáveis por 75% dos maiores avanços conhecidos, entre 1993 e 2004.
Marcia
Angell, antiga editora do The New England Journal of Medicine, descobriu que as
novas entidades moleculares que tinham prioridade como possivelmente
conducentes a avanços significativos no tratamento médico eram sobretudo
criadas pelo governo. Como refere em The Truth About the Drug Companies (2004),
apenas três dos sete medicamentos de alta prioridade em 2002 tiveram origem em
farmacêuticas: o Zelnorm foi desenvolvido pela Novartis
para tratar a síndrome do intestino irritável, a Gilead Sciences criou o
Hepsera para a hepatite B e o Eloxatin foi criado pela Sanofi-Synthélabo para o
cancro do cólon. Isto está muito longe da afirmação de que é o sector privado
que realiza quase todas as inovações.
A
ascensão de Silicon Valley, o centro de alta-tecnologia americano em Palo Alto,
Califórnia, é supostamente o exemplo por excelência de como as ideias
empreendedoras tiveram sucesso sem a direção do governo. Como Summers descreve,
as novas ideias económicas "nasceram das lições da experiência de sucesso
da descentralização num local como Silicon Valley". De facto, foram os
contratos militares para a investigação que deram o impulso inicial às empresas
do Valley e a política de defesa nacional influenciou intensamente o seu
desenvolvimento. Só 27 das 100 invenções mais importantes registadas pela
R&D Magazine nos anos 2000 foram feitas por uma firma, em contraponto com
as criadas só pelo governo ou por uma colaboração entre entidades financiadas
pelo governo. Entre desenvolvimentos recentes dos laboratórios do governo
encontra-se um programa de computador para acelerar significativamente a busca
e processamento de dados, e o Babel, que traduz linguagens de programação
Comentário de C&T: Recentemente temos acompanhado a luta do Dr. Hemerson Casado Gama (Maceió - Alagoas) para sensibilizar as autoridades (Governo e Congresso Nacional) para investirem na viabilização de estudos científicos no tratamento da ELA (esclerose lateral amiotrófica) no Brasil, mas este assunto parece ser pouco importante para os gestores do dinheiro público, o que fazem é muito pouco diante do potencial que o Brasil tem para se tornar uma referência na comunidade científica do planeta.
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