Investigadores portugueses quebram velho dogma sobre produção de antibióticos em bactérias de Gram-negativo
Duas biólogas da Universidade de Aveiro (UA) conseguiram produzir pela primeira vez um antibiótico numa bactéria de Gram-negativo, um feito inédito que abre novas possibilidades no desenvolvimento de novos antibióticos mais eficazes, avança a agência Lusa.
20/06/2011 - 09:06
Feito inédito que abre novas possibilidades no desenvolvimento de novos antibióticos mais eficazes
Duas biólogas da Universidade de Aveiro (UA) conseguiram produzir pela primeira vez um antibiótico numa bactéria de Gram-negativo, um feito inédito que abre novas possibilidades no desenvolvimento de novos antibióticos mais eficazes, avança a agência Lusa.
Usando a Escherichia coli (E. coli), uma bactéria de Gram-negativo que faz parte da flora bacteriana normal do homem, as investigadoras Sónia Mendo e Tânia Caetano, do Laboratório Associado CESAM da UA, conseguiram produzir a lichenicidina.
Este composto com propriedades antibióticas, que já tinha sido descoberto por Sónia Mendo, em 2004, é produzido pela bactéria de Gram-positivo Bacillus licheniformis, isolada numa fonte termal.
Esta foi a primeira vez que cientistas conseguiram colocar uma bactéria de Gram-negativo a produzir um composto que, de forma natural, não o produziria, quebrando-se assim um velho dogma.
“Houve vários cientistas que tentaram fazer o mesmo, mas sem sucesso. Nós fomos as primeiras a fazê-lo”, disse à Lusa, Sónia Mendo, acrescentando que o composto produzido por E. coli mantém todas as propriedades antibióticas do composto original.
Segundo a investigadora, esta descoberta tem como principal vantagem o facto da E. coli ser uma bactéria que é “muito fácil de manipular”.
“Muitas vezes, nos organismos originais não conseguimos fazer as manipulações genéticas necessárias ao estudos dos genes envolvidos no processo e, neste caso, isso é possível”, explicou.
Os resultados desta investigação, que foram publicados em Janeiro na revista especializada Chemistry & Biology, podem, segundo a bióloga, vir a ser aplicados na produção de outros antibióticos ou outros compostos.
A investigação, desenvolvida parcialmente em parceria com o Instituto de Química da Universidade Técnica de Berlim, que contribuiu com a caracterização da estrutura química do composto, mostrou que a lichenicidina tem propriedades activas contra duas bactérias (MRSA e VRE) associadas a graves infecções hospitalares.
No entanto, Sónia Mendo salienta que há, ainda, um longo caminho a percorrer até à sua aplicação e possível produção em larga escala.
“É essencial conhecer um pouco mais sobre a natureza química da molécula, o seu exacto modo de acção e a forma como é sintetizada pela célula, para se conseguir optimizar todas as etapas da síntese deste composto e perceber melhor as suas possíveis aplicações, não só ao nível clínico mas também na indústria alimentar e na agro-pecuária”, adiantou.
Posteriormente, existe uma fase de testes em laboratório, em animais e numa população restrita de indivíduos. Só após esse longo percurso, o composto poderá ser lançado no mercado.
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