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Por Luciele
VELLUTO
Poucos segmentos da economia brasileira passaram
por um processo de consolidação tão intenso nos últimos anos quanto o varejo de
medicamentos. Grandes redes do setor uniram-se para adquirir musculatura e
expandir suas operações para os mais distantes rincões do Brasil. As paulistas
Droga Raia e Drogasil anunciaram fusão em 2011 e se tornaram a maior rede no
País, com faturamento de R$ 5,6 bilhões e 931 lojas. No mesmo ano, foi a vez da
também paulista Drogaria São Paulo e da carioca Pacheco formarem a segunda no
ranking. No ano seguinte, nasceu a Brasil Pharma, fruto da união das redes
Farmais, Guararapes, Mais Econômica e Rosário.
Em meio a esse processo de consolidação, a
cearense Pague Menos, a despeito do assédio das rivais, como foi o caso da
paulistana Ultrafarma, resolveu continuar caminhando sozinha. Mesmo caindo,
após as fusões, da primeira para a terceira posição em faturamento, e para a
quarta colocação em número de lojas, a rede fundada há 33 anos, em Fortaleza,
pelo empresário Francisco Deusmar de Queirós quer mais, não abrindo mão de sua
carreira solo. Segundo Deusmar, como é mais conhecido, a Pague Menos, hoje com
663 lojas, irá intensificar sua presença nas regiões Sul e no Sudeste neste
ano, com a abertura de um megacentro de distribuição na cidade goiana de Hidrolândia.
A expansão deverá ser turbinada ainda mais com a
abertura de capital planejada para os próximos anos. “Estamos preparados, só
esperando o momento certo”, afirma o empresário cearense. Em 2013, a Pague Menos faturou R$ 3,8 bilhões e deve crescer dois
dígitos neste ano, superando R$ 4,4 bilhões em vendas de medicamentos e
produtos de higiene e beleza. “Queremos também chegar a mil lojas em três
anos”, afirma Deusmar. A Pague Menos é a única rede de farmácias que está
presente em todos os Estados brasileiros, motivo de orgulho para o empresário.
“É a rede com maior capilaridade, pois as outras
buscam expandir em número, mas não atuam em todo o Brasil”, afirma Tereza
Cristina Zanon, diretora do Instituto Brasileiro de Executivos de Varejo e
Mercado de Consumo (Ibevar), especializada na área de varejo farmacêutico. A
expansão tem sido acompanhada de forma onipresente por Deusmar, que faz questão
de acompanhar in loco, sempre que possível, o andamento dos negócios. Para
minimizar os custos de uma operação dessa dimensão, a Pague Menos está
investindo R$ 60 milhões para inaugurar em abril o centro de distribuição
goiano. A ideia é atender mais rapidamente as lojas do Centro-Oeste, Sudeste e
Sul, reduzindo a vantagem logística e de custo de suas concorrentes.
“Antes, tudo ia para o CD de Fortaleza, para
depois voltar ao Sul”, afirma Deusmar. Com a operação desse novo ponto
logístico, os estoques poderão ser reduzidos em dez dias, diminuindo os gastos
em R$ 120 milhões para a companhia. “Com essa economia podemos construir mais
100 lojas”, afirma o empresário. Completado o plano de abertura das mais de
três centenas de lojas até 2017, Deusmar deverá reduzir o ritmo de expansão
internamente, para poder se dedicar à abertura de mercados no Exterior,
inclusive nos Estados Unidos. Para dar conta das exigências nas duas frentes,
ele reconhece que a Pague Menos, necessariamente, terá de se capitalizar.
“Sempre crescemos de forma orgânica”, diz ele.
“Mas já é hora de avançar mais.” Em 2012, a Pague Menos ensaiou uma abertura de
capital, mas desistiu após a retração do mercado de ações do Brasil. A estreia
na Bolsa, no entanto, não foi descartada por Deusmar. “Estou esperando a hora
certa, que não deve ocorrer nem em 2014 nem 2015, mas só em 2016.” Por
enquanto, a empresa tem lançado mão de debêntures como forma de se capitalizar.
Foram levantados R$ 260 milhões, em 2012, e R$ 100 milhões, em 2013. A
inclinação para os negócios é uma característica marcante na trajetória de
Deusmar, que completa 67 anos em maio.
Nascido em Amontada, no interior do Ceará, o
empresário trabalhou na infância e adolescência na mercearia de seu pai em
Fortaleza. Só parou quando entrou na Faculdade Federal do Ceará para cursar
Ciências Econômicas e Administrativas, onde se formou e o levou para a carreira
de professor de economia. Nesse período, ele criou a corretora de valores PAX, que
possui até hoje. “Eu dedico 90% do meu tempo às farmácias e 10% à corretora”,
afirma. O varejo, no entanto, sempre foi sua paixão, o que o levou a abrir sua
primeira loja Pague Menos na periferia da capital cearense em 1981. Animado,
Deusmar diz que não vai esperar muito para voltar ao pódio do setor. “Vamos
continuar para reassumir a liderança, com as nossa próprias pernas”, afirma.
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