03/09/2012 - 08:03
As primeiras desculpas apresentadas pela empresa farmacêutica alemã
fabricante da talidomida às milhares de vítimas do medicamento, 50 anos depois
dos primeiros casos de malformações, provocaram neste sábado uma onda de
consternação nos países afectados por este desastre farmacêutico, avança a AFP.
O director executivo da Grunenthal, Harald Stock, afirmou num discurso
na sexta-feira que a empresa "sente muito" pelo silêncio a respeito
das vítimas da talidomida, um produto que era vendido nos anos 50 e 60 às
mulheres grávidas para acalmar as náuseas matinais durante a gravidez.
"Pedimos que considerem o nosso silêncio como um símbolo do impacto
provocado em nós pelo seu destino", disse Harald.
O director da Grunenthal, que fez o discurso numa sala municipal de
Stolberg, oeste da Alemanha, inaugurou um memorial em homenagem às vítimas,
algumas delas presentes no evento.
A pequena escultura de bronze de uma menina sem braços e com
malformações nas pernas simboliza as mais de 10.000 crianças que nasceram com
problemas, em certos casos sem alguns membros, depois que suas mães tomaram o
medicamento, vendido em quase 50 países antes de ser retirado do mercado em
1961.
O discurso do director da empresa farmacêutica foi considerado
inapropriado pelas associações de defesa das vítimas, registadas principalmente
na Alemanha, Grã-Bretanha, Japão, Canadá e Austrália.
Freddie Astbury, consultor chefe da associação Thalidomide Agency UK,
respondeu que a empresa tem que acompanhar as palavras com indemnizações, e não
apenas ficar limitada a um pedido de desculpas.
"Aprendemos que é importante estabelecer um diálogo aberto com
aqueles que foram afectados, conversar com eles, escutá-los", disse Stock,
antes de afirmar que a Grunenthal ajudará as vítimas do medicamento.
Na Austrália, advogados de vítimas da talidomida chamaram de
"patéticas" e "ofensivas" as desculpas da empresa.
Num comunicado, os advogados da australiana Lynette Rowe, que levou o
caso aos tribunais, criticaram as desculpas da Grunenthal.
"As suas desculpas são muito leves, tardias e repletas de hipocrisia",
afirmaram os advogados de Rowe, que nasceu sem os braços e as pernas.
Os advogados da australiana recordaram que "durante 50 anos, a
Grunenthal esteve envolvida numa estratégia de empresa calculada para
resguardar-se de qualquer consequência moral, jurídica e financeira em função
da negligência nos anos 1950 e 1960".
Segundo eles, "explicar o longo silêncio (da empresa) como uma
consequência do impacto provocado não tem sentido algum".
Na Alemanha, a associação de vítimas do Contergan®, nome comercial da
talidomida no país, chamou o discurso da Grunenthal de insuficiente.
"Expressaram arrependimento, mas não se desculparam por terem
colocado no mercado este medicamento, que foi vendido às mulheres grávidas, sem
ter realizado previamente testes clínicos", declarou à AFP Ilonka
Stebritz.
No Japão, um dos países mais afectados por este desastre, depois da
Alemanha e Grã-Bretanha, o discurso da Grunenthal também foi considerado
decepcionante.
"Pedir desculpas é o mínimo", declarou Tsugumichi Sato,
director geral da "Sakigake", um centro de ajuda social.
"O número de vítimas teria sido menor se a empresa tivesse
interrompido a venda do medicamento antes", afirmou Sato
Nenhum comentário:
Postar um comentário