O
laboratório nacional Aché vai levar adiante seu plano de internacionalização.
"Estamos olhando com muito carinho empresas que tenham tecnologia
farmacêutica diferenciada no mercado internacional", afirmou ao Valor José
Ricardo Mendes da Silva, principal executivo do grupo.
Segundo o executivo, a companhia entende que
tecnologia farmacêutica é importante para a diferenciação do Aché no futuro.
"Explicamos para o BNDES que o caminho não é comprar bases comerciais, mas
obter bases tecnológicas", disse. O Aché está analisando oportunidades no
mercado para fazer aquisição total ou parcial de empresas com esse perfil.
No ano passado, o grupo esteve prestes a concluir
uma joint venture com a inglesa GlaxoSmithKline (GSK) parecida com o modelo
Supera RX, empresa criada pela Eurofarma e Cristália, que se associaram à
americana MSD (Merck & Co.), para a comercialização de produtos maduros e
inovadores das três farmacêuticas. O negócio não foi levado adiante, mas o Aché
não desistiu dos planos de globalizar a companhia.
O laboratório nacional também chegou a olhar ativos
na América Latina, mas os acionistas da companhia concluíram que não seria um
bom negócio para a empresa. "A gente analisou muito uma aquisição no Peru
no ano passado. Mas as bases de preços de produtos lá são baixas porque os
requisitos regulatórios não são os mesmos que o do Brasil. Colocar uma base
comercial não é adequado para nós."
A companhia decidiu fazer licenciamento de
medicamentos. "Temos presença em doze países com produtos licenciados [na
América Latina]. Nossas exportações estão crescendo nesses países. Procuro não
exportar caixinha, quero licenciar marca. A marca é minha, um ativo meu lá
fora. Eu ainda não tenho empresa no Chile, mas tenho um ativo lá, que é o
Cordiaflan, o nosso Acheflan, com marca local. Estou construindo produtos,
receitas, mas ainda não quero entrar comercialmente neles", disse.
Silva afirmou que o Aché tem um produto de pesquisa
incremental patenteado, que está na primeira etapa em teste toxicológico. Sem
dar detalhes da pesquisa em desenvolvimento pelo grupo, o executivo afirmou que
uma eventual parceria com uma multinacional poderia tornar esse futuro
medicamento global.
"A estratégia atual é discutir com multinacionais
desenvolvimento conjunto de produtos patenteados, nos quais a molécula foi
identificada pelo Aché e patenteada. Com um parceiro forte, com mais
experiência, a ideia é licenciar o produto globalmente. E o Aché ficaria com o
produto no país. Assim, obtenho o aprendizado de fazer isso, parceria em
pequisa para desenvolvimento de produto sintético", disse.
Segundo Silva, o país não está ainda totalmente
preparado para pesquisa clínica em suas diversas etapas para produtos
inovadores. "Então, para [um grupo nacional] ganhar velocidade,
estabelecer parcerias ajudaria muito a vencer essas dificuldades. Há poucas
pesquisas de fase 1 no Brasil. A própria malha de pesquisa ainda está sendo
estruturada para isso."
Com o foco em remédios de prescrição médica voltados
para as áreas respiratória, cardiologia e sistema nervoso central (SNC), a
farmacêutica também tem um importante portfólio de medicamentos genéricos e de
isentos de prescrição (Mip). Em abril, o Aché criou uma nova divisão, a de
dermocosmético, segmento no qual já atuava, mas que não estava separado como
área de negócio. No ano passado, a companhia registrou faturamento líquido de
R$ 1,4 bilhão, alta de 11% sobre o ano anterior, que ficou em R$ 1,26 bilhão. O
lucro líquido foi de R$ 380,7 milhões, aumento de 15% sobre o ano anterior. A
expectativa para este ano é avançar de 8% a 10% em receita líquida, sustentada
pelos lançamentos e pela nova divisão de negócios do grupo.
Os planos de abertura de capital foram descartados
por conta do cenário macroeconômico adverso. A farmacêutica não precisa de
recursos no curto prazo, uma vez que tem capacidade de investimento para as
necessidades atuais. A operação poderá ser retomada, quando o cenário voltar a
ficar atraente.
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