08/07/2013 - 08:00
Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/rio/pacientes-com-doencas-raras-lutam-ate-na-justica-pelo-direito-saude-8948891#ixzz2Yk3cka29
Extra
Neu-ro-fi-bro-ma-to-se.
O contador Rogério Lima rodava em torno da palavra. Alessandra, sua mulher,
havia telefonado pouco antes. Chorando.
- Disseram que a Maria Vitória
tem 80% de chance de ter neurofibromatose.
- O que é isso?
- Não explicaram.
Era o primeiro diagnóstico que
o casal recebia, após anos levando Maria Vitória a dermatologistas e pediatras.
A menina, hoje com 6 anos, tinha 3 na época, e nascera com misteriosas manchas
café com leite pelo corpo. Tinha dificuldade na fala e era mais agitada que os
coleguinhas.
Aflito, Rogério ligou o
computador. A internet esclareceria as dúvidas, pensou. Não podia ser nada
ruim, não com a garotinha dele, cachos e rosto de anjo.
- O primeiro link apontava um
site de bizarrices. Comecei a chorar.
Quando a família de Brasília
foi ao Rio e fechou o diagnóstico, o choro veio mais forte. Não sabia o que
aconteceria. Tudo era enigma. O oceano de interrogações em que Rogério e
Alessandra submergiram até descobrir o que Vitória tinha é o mesmo que engole a
maioria dos pacientes com doenças raras. Como o EXTRA mostrou ontem, cerca de
13 milhões de brasileiros sofrem dessas enfermidades, que atingem até 1,3 a
cada 2.000 pessoas. Grande parte dos médicos não ouviu falar nem desconfia dos
sintomas.
Diagnósticos errados proliferam
no Sistema Único de Saúde (SUS), com prescrições para curar outras doenças — ou
o negligente e cômodo “isso não tem jeito”.
Embora o SUS só tenha
protocolos clínicos para 25 dessas enfermidades - sendo 12 por meio de remédios
-, 381 doenças raras podem ser tratadas com algum tipo de medicamento, segundo
a Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa. Não são remédios baratos,
por serem produzidos para um círculo restrito de pacientes.
Porta fechada no SUS, janela
aberta na Justiça, para garantir o direito de acesso à saúde. Segundo o estudo
“Intervenção judicial na saúde pública”, compilação feita pelo Ministério da
Saúde das ações judiciais que enfrentou em 2012, 86% dos gastos da pasta com
remédios comprados por ordem judicial foram para esses pacientes. Só o
Elaprase, solução injetável que retarda a mucopolissacaridose tipo II, consumiu
R$ 73 milhões na Justiça - uma dose do remédio custa, em média, R$ 200 mil.
Na falta de uma política
nacional que atenda pessoas com doenças raras - o governo federal promete
lançá-la em outubro -, o empenho isolado de médicos e outros profissionais do
SUS garante o atendimento. João Gabriel Daher atende como voluntário dezenas de
pessoas, em quatro hospitais do Rio. Foi lá que conheceu o casal Cátia e Alexsander
Benassi, de 40 e 41 anos, respectivamente.
Os dois têm doenças raras - ela
é portadora do mesmo tipo de neurofibromatose que Maria Vitória e ele tem
epidermólise bolhosa.
- Sempre acham que nos
conhecemos em grupos de ajuda ou salas de espera — ri, alisando a perna do
marido.
Não foi. Conheceram-se há 20
anos, em um baile de Campo Grande, bairro da Zona Oeste do Rio em que moram. Os
dois esconderam suas doenças. Os carocinhos de Cátia eram poucos, e Alexsander
sabia camuflar bem suas bolhas. Tomaram coragem, contaram, casaram-se. Dos dois
filhos, um tem neurofibromatose. No sofá de casa, um fala sobre a doença do
outro. As dores são iguais.
- Ele me dá força, garra,
incentivo. Me dá amor, mais forte que qualquer doença - conta Cátia.
Motivos da precariedade
do atendimento
Distância: Hoje atendida por
uma equipe que inclui até fonoaudiólogo, Maria Vitória vive bem, acompanhando
cada manchinha. Mas só no Rio - a 1.162 quilômetros de casa - encontrou um
especialista, o médico pesquisador João Gabriel Daher, do Serviço de Genética
Clínica da UFRJ. “O Brasil tem poucos centros de referência. Pessoas de locais
distantes, como Rondônia e Acre, ficam abandonados”.
Multidisciplinar: De acordo com
o médico, faltam no Brasil centros que ofereçam cuidado integral ao paciente.
Ele explica que a maioria dos tratamentos devem ser multidisciplinares, com
médicos de diferentes especialidades, psicólogos, fonos e terapeutas.
Lá fora: Só Canadá, Estados
Unidos, União Europeia e Japão têm políticas nacionais para pacientes de
doenças raras
Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/rio/pacientes-com-doencas-raras-lutam-ate-na-justica-pelo-direito-saude-8948891#ixzz2Yk3cka29
Nenhum comentário:
Postar um comentário