Pesquisa indica que em Curitiba há mais farmácias
do que o indicado.
Professora da UFPR fala dos riscos se tomar remédio sem prescrição.
Professora da UFPR fala dos riscos se tomar remédio sem prescrição.
Bibiana Dionísio Do G1 PR
Ir a uma farmácia
e comprar remédio por conta própria ou apenas a partir da indicação do
balconista é comum entre brasileiros, a ponto de ser um hábito. No caso da
analisa de treinamento e desenvolvimento na área de Recursos Humanos Mariane
Garbuio, de 30 anos, é um costume que foi passado de mãe para filha. “Desde que
eu era pequena, eu cresci com a minha mãe me dando remédio. Eu sentia uma dor
de garganta, minha mãe me dava um Cataflam. Eu ficava com febre, ela me dava um
antitérmico, antes de me levar no médico. Eu acabei pegando este hábito”.
Mariane conta que se automedicava principalmente em casos de dor de cabeça, de garganta, dor de estômago e tosse. Mas, agora, esse hábito pertence ao passado. Por estar grávida de dois meses e meio, ela está impedida de ingerir qualquer remédio sem avaliação médica. “Estou sofrendo horrores. Eu sinto uma dorzinha e não posso tomar remédio. Antes eu sentia uma dor de cabeça, tomava algo e passava. Agora, eu não posso tomar nada. Essa semana eu tive uma crise de enxaqueca e não pude tomar nada, então, isso me faz sofrer”, confessou.
A automedicação e os possíveis impactos são minimizados pela população e por isso acaba sendo tão corriqueira. Uma pesquisa, coordenada pela professora Domique Muzzilo do Departamento de Clínica Médica da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e médica hepatologista do Hospital de Clínicas (HC), indica que no Centro de Curitibaexistem mais farmácias por habitante e por área do que o recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Enquanto o indicado é uma farmácia para oito a 10 mil habitantes, na capital paranaense a proporção é de três para mil. “A oferta é tão grande porque tem procura e, como a oferta é tão grande, a procura permanece presente”, pontuou a professora.
Mariane conta que se automedicava principalmente em casos de dor de cabeça, de garganta, dor de estômago e tosse. Mas, agora, esse hábito pertence ao passado. Por estar grávida de dois meses e meio, ela está impedida de ingerir qualquer remédio sem avaliação médica. “Estou sofrendo horrores. Eu sinto uma dorzinha e não posso tomar remédio. Antes eu sentia uma dor de cabeça, tomava algo e passava. Agora, eu não posso tomar nada. Essa semana eu tive uma crise de enxaqueca e não pude tomar nada, então, isso me faz sofrer”, confessou.
A automedicação e os possíveis impactos são minimizados pela população e por isso acaba sendo tão corriqueira. Uma pesquisa, coordenada pela professora Domique Muzzilo do Departamento de Clínica Médica da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e médica hepatologista do Hospital de Clínicas (HC), indica que no Centro de Curitibaexistem mais farmácias por habitante e por área do que o recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Enquanto o indicado é uma farmácia para oito a 10 mil habitantes, na capital paranaense a proporção é de três para mil. “A oferta é tão grande porque tem procura e, como a oferta é tão grande, a procura permanece presente”, pontuou a professora.
Saiba mais
Essa oferta, no
entendimento da professora, é exuberante e corrobora com a automedicação.
Segundo Muzzilo, um levantamento da Associação Brasileira de Redes de Farmácias
e Drogarias (Abrafarma) mostrou que cerca de 80 milhões de brasileiro se
automedicam. Além disso, dados do Ministério da Saúde mostram que de cada três
medicamentos vendidos em farmácia, apenas um tem receita médica. A pesquisa do
governo federal apontou ainda que os outros dois medicamentos foram adquiridos
após indicação, por exemplo, de parentes, amigos, vizinho e balconistas.
“Isso é muito grave. Quando a pessoa toma a medicação, sem a indicação médica, ela não sabe o que aquele remédio pode causar em termos de efeitos adversos. Ela não sabe se realmente tem uma doença que precise daquele medicamento ou se ela tem alguma situação que pode até piorar por causa daquele medicamento”, alertou a professora.
Segundo a professora, o medicamento mais vendido livremente nas farmácias é o anti-inflamatório não hormonal – indicado, por exemplo, para dor e inflamação -, que é o medicamento que mais pode causar complicações. “Uma das mais comuns são os problemas gástricos, a ponto de a pessoa ter hemorragia por reação do remédio. São remédios muito importantes para a população que tem a indicação adequada, no entanto, os colaterais podem ser graves”.
“Isso é muito grave. Quando a pessoa toma a medicação, sem a indicação médica, ela não sabe o que aquele remédio pode causar em termos de efeitos adversos. Ela não sabe se realmente tem uma doença que precise daquele medicamento ou se ela tem alguma situação que pode até piorar por causa daquele medicamento”, alertou a professora.
Segundo a professora, o medicamento mais vendido livremente nas farmácias é o anti-inflamatório não hormonal – indicado, por exemplo, para dor e inflamação -, que é o medicamento que mais pode causar complicações. “Uma das mais comuns são os problemas gástricos, a ponto de a pessoa ter hemorragia por reação do remédio. São remédios muito importantes para a população que tem a indicação adequada, no entanto, os colaterais podem ser graves”.
Quando a pessoa
toma a medicação, sem a indicação médica, ela não sabe o que aquele remédio
pode causar em termos de efeitos adversos
Domique Muzzilo,
médica e professora da UFPR
Aliado a esta
questão numérica, existe um mecanismo criado para impulsionar a venda de
medicamentos em detrimento da saúde. “Os balconistas são treinados para dar
orientações breves, mas a função deles é literalmente vender. Eles têm cotas
para atingir. Nós sabemos que existem subsídios e estímulos financeiros de quem
vendem as medicações para as farmácias, que premiam esses balconistas quando
eles atingem estas cotas”.
No entendimento da professora, o medicamento é tratado como se fosse um pacote de biscoito. Ela exemplifica com uma experiência própria. A professora e médica do HC foi comprar um remédio e o balconista sugeriu que ela levasse mais do que o necessário porque estava em promoção.
No entendimento da professora, o medicamento é tratado como se fosse um pacote de biscoito. Ela exemplifica com uma experiência própria. A professora e médica do HC foi comprar um remédio e o balconista sugeriu que ela levasse mais do que o necessário porque estava em promoção.
Além disso,
lembrou Muzzilo, os balconistas estão despreparados para a função. Pelo menos,
foi o que mostrou outra pesquisa realizada há dois anos também sob a supervisão
da professora. Neste levantamento, alunos de medicina questionavam os
balconistas sobre o paracetamol – que é um analgésico - com o intuito de saber
o grau de conhecimento do balconista. De acordo com Muzzilo, os
balconistas não respondiam adequadamente sobre a dosagem e nem sobre efeitos
adversos. “Eles estimulavam que fosse tomada uma dose muito maior do que a
devida”. Esta é uma amostra, que na avaliação da professora, pode ser estendida
a outros remédios.
A complexidade da automedicação, destaca a professora, não está nos balconistas. É preciso considerar que atualmente as farmácias ampliaram a oferta de produtos. Além do carro-chefe, os consumidores encontram uma infinidade de opção como cosméticos, chocolates, salgadinhos, pão, chás, eletrônicos, etc.
Há ainda a questão da legislação, que para a professora, é permissiva. “É ruim a facilidade que o cliente tem para obter qualquer tipo de medicamento”, disse. Atualmente, a receita médica é exigida apenas na compra de antibióticos e remédios de tarja preta. As outras medicações são de aplicação livre.
Diante deste cenário, a professora levanta a questão: por que é dada a licença indiscriminada para a abertura de um número tão grande de farmácias? Muzzilo destaca que a farmácia está simplesmente cumprindo o papel dela que é ser simplesmente um comerciário. Não há nenhum desrespeito a lei. “Eles são livres para venderam o que quiserem, com exceção dos antibióticos e dos remédios tarja preta. O que eu entendo é que nossa legislação é muito frouxa, muito livre nisso”, argumentou. A professora também acredita que deveria ser proibida a publicidade de medicamentos nos veículos de comunicação para que fosse minimizada esta prática da automedicação.
A complexidade da automedicação, destaca a professora, não está nos balconistas. É preciso considerar que atualmente as farmácias ampliaram a oferta de produtos. Além do carro-chefe, os consumidores encontram uma infinidade de opção como cosméticos, chocolates, salgadinhos, pão, chás, eletrônicos, etc.
Há ainda a questão da legislação, que para a professora, é permissiva. “É ruim a facilidade que o cliente tem para obter qualquer tipo de medicamento”, disse. Atualmente, a receita médica é exigida apenas na compra de antibióticos e remédios de tarja preta. As outras medicações são de aplicação livre.
Diante deste cenário, a professora levanta a questão: por que é dada a licença indiscriminada para a abertura de um número tão grande de farmácias? Muzzilo destaca que a farmácia está simplesmente cumprindo o papel dela que é ser simplesmente um comerciário. Não há nenhum desrespeito a lei. “Eles são livres para venderam o que quiserem, com exceção dos antibióticos e dos remédios tarja preta. O que eu entendo é que nossa legislação é muito frouxa, muito livre nisso”, argumentou. A professora também acredita que deveria ser proibida a publicidade de medicamentos nos veículos de comunicação para que fosse minimizada esta prática da automedicação.
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