Por Alessandro Lyra Braga em 08/09/2013
É isto mesmo: estou à venda! Afinal, todos os
dias recebo inúmeros e-mails onde tudo me é oferecido: de remédio para
impotência sexual à viagens aos mais exóticos paradeiros. Já vi de tudo,
inclusive vender-se virgindade. Mas até hoje não vi alguém, literalmente,
vender-se. E quando digo “vender-se”, não digo sexual ou profissionalmente,
não. É vender-se por inteiro.
Quem me comprar terá que me conservar dentro
das especificações técnicas, senão perderá a garantia, que, devido à minha
idade, não mais terá como ser muito estendida. Logicamente que terá que evitar
que eu entre em fadiga, para não gerar estragos. Terei que ser bem acomodado,
de preferência numa suíte master em algum hotel cinco estrelas. Minha
alimentação terá que ser balanceada e nos horários certos. Enfim, dará trabalho
me conservar.
O mais difícil de explicar é para que eu
serviria, porque só me comprariam por algum motivo prático, é lógico. Pensando
assim, faço agora uma auto-análise: é fato que ultrapasso todos os limites
socialmente aceitos para afirmar que tenho um corpinho em forma. Na verdade,
meu corpo está em forma de bola, o que talvez até sirva em época de Copa do
mundo. Também já ultrapassei aquela fase que os hormônios pululam com todo
fervor, menosprezando a lei da gravidade. Assim, sobra-me me ofertar como um
ser pensante. No entanto, como ser pensante, na atual sociedade em que vivemos,
de shopping centers cheios e bibliotecas vazias, minha cotação cairá
vertiginosamente, embora eu tenha consciência que ela já não estava tão alta
assim.
É triste, mas estou vendo que talvez seja
meio difícil eu conseguir algum dinheiro me vendendo como um ser pensante.
Talvez a opção mais lucrativa seja me vender a peso, não sei se como sucata ou
toucinho, mas mesmo assim à peso. Que vida!
Meus leitores devem estar achando que estou
doido em querer me vender (Na verdade, jamais estive à venda!), mas estou apenas
traduzindo aquilo que vemos no dia-a-dia. Vivemos de comprar ou vender seja lá
o que for, até nós mesmos. Poucas são as pessoas que fazem alguma coisa que não
seja em troca de algo material ou fisicamente prazeroso. O “fazer pelo outro”
quando é feito, na maioria das vezes, é apenas por mesquinhos interesses
políticos. Pessoas que se aproximam de nós pelo que somos ou passamos de
imaterial são raridade. Viramos produtos e aceitamos sermos vendidos apenas na
ilusão de sermos aceitos.
Realmente, não sei quem me compraria caso eu
fosse posto numa vitrine. Mas aviso que não há Código de Defesa do Consumidor
que possa garantir a qualidade de um ser humano que esteja à venda. Um ser
humano que aceite ser comprado deve ser produto falsificado, coisa do Paraguai.
*Alessandro Lyra Braga é carioca, por
engano. De formação é historiador e publicitário, radialista por acidente e
jornalista por necessidade de informação. Vive vários dilemas religiosos,
filosóficos e sociológicos. Ama o questionamento.
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