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RIO- A eterna promessa de
emagrecimento rápido e fácil leva brasileiros a tomarem hormônios da tireoide
mesmo sem apresentar problema na glândula responsável por várias funções do
corpo, desde a temperatura interna até a produção de glóbulos vermelhos. O
presidente do Conselho Regional de Educação Física do Rio, André Fernandes,
identifica inclusive uma nova moda no consumo da substância nas academias de
ginástica, sucessora da onda de uso do estimulante Jack 3D — com venda proibida
pela Agência nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) desde ano passado. O
hormônio sintetizado, quando ingerido indiscriminadamente, provoca perda de
massa muscular e, em última consequência, pode causar morte por parada cardíaca.
Seja pelo uso correto por
pacientes com hipotireoidismo — quando a tireoide tem produção insuficiente de
hormônio —, ou pelo uso sem prescrição, o Puran T4 (levotiroxina sódica), que
contém a forma sintética do hormônio T4, aparece em segundo lugar na lista de
remédios mais vendidos no Brasil no ano passado. No ranking, o medicamento
divide espaço com produtos de amplo uso, como anticoncepcionais e um
descongestionante nasal, informa a IMS Health, consultora especializada na área
de saúde.
— O Puran T4 pode dar
resultado imediato mas, em médio prazo, deixa de produzir efeito emagrecedor. É
fácil perceber quando uma pessoa está usando a substância de forma errada,
porque ela fica taquicárdica e desidrata mais rapidamente — descreve André
Fernandes. — A moda do medicamento surgiu há cerca de um ano, e os alunos
omitem dos professores das academias que estão tomando o medicamento por conta
própria.
Substância troca peso por
hipertireoidismo
Fernandes alerta que nenhum
professor de educação física tem autoridade para prescrever qualquer
medicamento ou dieta. Já Ricardo Meirelles, presidente da Comissão de
Comunicação da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, acrescenta
que a entidade condena o uso de hormônios da tireoide por quem não tem a glândula
doente:
— Quem emagrece tomando
hormônio da tireoide sem indicação médica só consegue perder peso porque
provocou uma doença, o hipertireoidismo. Como é comum que obesos tenham
tendência a problemas cardiovasculares, o uso inadequado do hormônio pode desencadear
um infarto do músculo do coração.
O laboratório
Sanofi-Aventis, fabricante do Puran T4, publica na bula do medicamento que
“hormônios da tireoide não devem ser usados para perda de peso”. Para a
empresa, a eficácia do medicamento no tratamento de hipotireoidismo conquistada
em 30 anos de mercado e a estimativa de 10 milhões de pacientes no país são
responsáveis pelas boas vendas.
Professor de endocrinologia
da UFRJ, Mario Vaisman pondera que o Puran T4 é apenas uma em cinco marcas de
medicamentos deste tipo disponíveis no mercado. Para o pesquisador, o risco
maior está no hormônio tireoidiano prescrito para produção manipulada:
— O pior é o hormônio
manipulado em farmácias, utilizado em larga escala pelos “fazedores de
fórmulas” para emagrecimento. Os riscos de hipertireoidismo são realmente
grandes. Já ocorreram até óbitos pelo erro na formulação.
Semana passada, a Anvisa
publicou uma resolução para proibir a circulação de medicamentos que contenham
tiratricol, outra substância análoga a hormônios tiroidianos, também usada de
forma errada para emagrecer. Banido desde 2003 das farmácias do Brasil, o
tiratricol ainda era vendido na versão manipulada, pois era usado para tratar
um tipo de câncer. Depois de uma consulta feita por técnicos da autoridade sanitária,
soube-se que a substância deixou de ser aplicada no tratamento e, por isso, foi
proibida definitivamente. A Anvisa acrescentou que tem parceria com órgãos de
vigilância sanitária locais e policiais para coibir a venda irregular de
remédios. Há também, segundo a agência, o monitoramento de sites na internet
para impedir a venda online e sem prescrição de drogas como o Puran T4.
A advogada Renata Guerra já
tomou remédios com base em hormônios tireoidianos para emagrecer, apesar de
nunca ter tido até então problemas com a glândula.
— Tomei medicamentos com
hormônios T3 e T4 associados a outros remédios, todos prescritos por um médico.
Apesar de não poder provar a ligação direta, ano passado tive suspeita de
hipertireoidismo e hoje tenho alguns nódulos na tireoide que preciso monitorar
com exames.
Método já foi alternativa
Condenado por sociedades
médicas e pelas próprias farmacêuticas , o uso de formas sintéticas de
hormônios da tireoide para emagrecimento já teve prescrição no passado, há pelo
menos duas décadas, quando drogas mais modernas ainda não existiam, explica a
endocrinologista Maria Edna de Melo, diretora da Associação Brasileira para o
estudo da obesidade:
— Eram as chamadas
“associações magistrais”, que continham diuréticos, laxantes e hormônios
tireoidianos. O problema é que, para emagrecer, a a dose de hormônio tem que
ser grande, praticamente uma intoxicação.
Chefe do Departamento de
Endocrinologia do Hospital Universitário da UFRJ, Mário Vaisman diz que o
excesso de hormônio tireoidiano gera prejuízos para todos os órgãos e sistemas,
com sintomas como agitação, insônia, taquicardia e distúrbios menstruais. Nas
mulheres que chegaram à menopausa, pode acelerar a osteoporose e, em homens e
mulheres mais velhos, aumenta o risco de arritmias cardíacas.
— Deveria haver um controle
na venda dos hormônios de tireoide como há hoje com antibióticos — sugere
Vaisman, que defende uma distribuição mais eficaz de hormônios da tireoide pela
rede pública, assim como ocorre com o tratamento para diabetes
Fonte: http://oglobo.globo.com/saude/hormonio-da-tireoide-tem-onda-de-consumo-para-emagrecimento-7339685#ixzz2IXeLa1Hf
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