Andressa Dantas
Elas são coloridas e cheias de detalhes. À
primeira vista, o que chama a atenção é o aspecto estético. Para muitas
mulheres, as questões ambiental e econômica também são vantagens, mas a dúvida
sobre a qualidade e praticidade acaba deixando a alternativa como segunda opção.
No Grande ABC, são descartados por mês
aproximadamente 3.400 toneladas de fraldas e absorventes (somando dados das prefeituras de Santo André, São Bernardo, São
Caetano, Diadema e Ribeirão Pires). Pensando em diminuir a produção de lixo em
sua casa, a estudante Jéssica Bonizzi, 21 anos, optou pelo uso das fraldas de
pano. "Um dia me dei conta da quantidade de fraldas que jogava fora, mais
ou menos umas 20 a cada três dias. A minha filha Valentina vivia assada e,
quando conheci as fraldas de pano, resolvi arriscar. Foi paixão à primeira
troca. Elas não vazam, como as pessoas costumam pensar, e deixam a pele do bebê
respirar, ou seja, é muito melhor. E é bem prático para lavar."
O aspecto ambiental também foi decisivo para
a historiadora Carla Valezin, 28, ao escolher os modelos ecológicos.
"Quando estava grávida comecei a conhecer mais sobre as opções de fraldas e
quis pedir várias no meu chá de bebê, porém, sabia que as pessoas não
colaborariam com a iniciativa. O meu filho Mateus sofreu muito com as
descartáveis. Ele tem uma alergia muito forte, fica com a pele cheia de
feridas, e deve ser hereditário, pois tenho alergia aos absorventes também."
Algumas pessoas questionam se o uso das
fraldas de pano seria prejudicial à água, gerando aumento do consumo e
contaminação com o sabão. Para a professora de pós-graduação do curso de Gestão
Ambiental da Fundação Santo André Ângela Baeder, colocar o aumento de consumo
do recurso como vilão é um argumento com pouca fundamentação. "Atualmente existem inúmeras técnicas para
reutilização da água e processos de filtragem utilizados nas estações de
tratamento que proporcionam mais facilidade em tratar o líquido que sumir com o
lixo que produzimos."
Quando se fala em fraldas de pano, a primeira imagem que
vem à mente é um pedaço de tecido branco dobrado em formato triangular e preso
por um alfinete. Mas até mesmo as antigas tiras de pano evoluíram e hoje são
artigos de desejo de muitas mamães conscientes.
Carla lembra que, após o nascimento do filho, começou a
usar absorventes de pano e o coletor menstrual, um copinho de silicone
utilizado como absorvente interno, mas que é lavável. "Minha alergia
acabou. Logo que vi o resultado, comecei a comprar fraldas de pano para ele.
Foi como mágica, a alergia sumiu em apenas dois dias de uso."
As mães contam que a rotina das fraldas de pano não é tão
assustadora. "É tudo muito simples. É só deixar de molho em água quente e
depois colocar na máquina com sabão neutro", garantiu Carla.
Para a diretora do instituto ambientalista Morada da
Floresta, Ana Paula Silva, é necessária mudança de comportamento.
"Vendemos poucos produtos ecológicos se comparados aos números dos
descartáveis, mas se todos mudarem a postura, o mundo fica melhor."
Material corresponde a 5% de todo o lixo
descartado por mês
Das 68 mil toneladas de lixo produzidas por mês no Grande
ABC (soma dos dados de Santo André, São Bernardo, São Caetano, Diadema e
Ribeirão Pires), 3.400 toneladas são fraldas e absorventes descartáveis.
Uma fralda descartável demora cerca de 500 anos para se
decompor no meio ambiente, enquanto as opções ecológicas, além de serem
reutilizáveis por até três gerações da família, levam em média 90 dias para
decompor a parte orgânica e no máximo 20 anos para o tecido.
Em São Caetano, parte das fraldas e absorventes
recolhidos são incinerados com o lixo hospitalar, como forma de minimizar o
impacto ao meio ambiente.
Para as mulheres que trocaram fraldas e absorventes
descartáveis pelas opções ecológicas, há uma mudança de comportamento geral na
família. Não é apenas inserido um item sustentável na casa, mas são agregados
valores e novos hábitos. "Utilizo a água que fraldas e absorventes ficam
de molho para regar as plantas", destacou Carla Valezin.
É importante analisar as atitudes e o quanto elas podem
impactar em aspectos regionais e globais. "Para toda ação há uma reação.
Utilizar descartáveis aumenta o lixo, já as ecológicas aumentam o uso de água.
Mas temos que analisar o que é possível equilibrar", garante Ângela.
Pediatra alerta para cuidados com a higiene
dos tecidos
Para a professora de Pediatria da Faculdade de Medicina
do ABC e coordenadora da UTI Neonatal do Hospital Nardini, em Mauá, Sueli
Aparecida Bispo de Souza, o uso das fraldas de pano remete à sabedoria das
avós. "É intrigante ver as mães modernas voltando no tempo e adotando
novamente antigos hábitos."
Independentemente da contribuição ambiental e da economia
gerada pelo uso das fraldas ecológicas, a pediatra lembra que a prática exige
dedicação da mãe. "Apesar de os modelos modernos serem mais práticos,
utilizarem tecidos de alta absorção e terem sistema antivazamento, a mãe
precisa lembrar de uma questão primordial: a higiene. É necessário utilizar
água quente e lavar com sabão neutro. O mais importante é enxaguar muito bem,
se possível duas vezes. Passar a fralda com o ferro quente ajuda a eliminar
qualquer bactéria."
A médica diz que não há estudo comparativo entre fraldas
descartáveis e ecológicas, mas que a falta de produtos químicos no tecido
colabora para diminuir a incidência de reações alérgicas. "O tecido mostra
quando está molhado, assim a mãe fica mais atenta às trocas e preserva a pele
do bebê
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