Por Bruno
Calzavara
Cientistas estão
desenvolvendo um tratamento médico que possui o mesmo efeito da cirurgia de
estômago para ajudar pacientes obesos a perder peso. Os pesquisadores criaram
hormônios de efeito duradouro, que fazem com que os cérebros dos pacientes
pensem que eles já comeram o suficiente. A abordagem imita o que acontece
quando pacientes obesos mórbidos são submetidos a operações bariátricas para
ajudá-los a se livrar da gordura extra.
Os cientistas da
Faculdade Imperial de Londres, no Reino Unido, acabam de terminar os primeiros
testes em pacientes com resultados positivos, e agora estão se preparando para
iniciar experimentos maiores. Eles esperam que o uso da droga se torne uma
alternativa mais segura para a cirurgia, que é cara e possui diversas
restrições, só podendo ser realizada em uma pequena quantidade de pacientes.
Segundo o
professor Steve Bloom, chefe da divisão de diabetes, endocrinologia e
metabolismo da faculdade e pesquisador do estudo, a cirurgia de balão
intragástrico (em que uma espécie de bexiga é colocada no estômago para
“roubar” espaço da comida e fazer a pessoa perder a fome) funciona muito bem em
pacientes. “Porém, há uma pandemia mundial de obesidade, que está levando as
pessoas a morrer de doenças relacionadas. Nós não podemos realizar a cirurgia
em metade da Europa, por exemplo”, diz.
Por isso, conta o
professor, a equipe se perguntou se não haveria outra forma de utilizar o
princípio da cirurgia, mas sem a necessidade da operação em si. “Se você tem um
problema com intestino e não aguenta muita comida, o órgão envia sinais para o
cérebro dizendo para que a pessoa não coma
tanto. A cirurgia engana o estômago, que pensa haver um problema e envia
essas mensagens de saciedade para o cérebro”, explica Bloom.
De acordo com
dados de 2012, 48,5% da população brasileira está acima do peso e 15,8% dos
brasileiros são obesos.
Nos países desenvolvidos, esse percentual é ainda maior: nos Estados Unidos,
por exemplo, a porcentagem
de obesos já chega a alarmantes 35,8% da população, o que ocasiona diversos
outros problemas de saúde, tais como doenças cardíacas, diabetes e aumento do
risco de câncer.
No Brasil, o que
assusta os especialistas é o grande crescimento do número de pessoas que
recorrem à mesa de cirurgia para perder peso. Segundo dados do Ministério da
Saúde, o país é o segundo em número de cirurgias de redução de estômago no
mundo todo, só perdendo para os EUA. São 72 mil cirurgias por ano, de acordo
com o presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica
(SBCBM), o médico Almino Ramos. E esse número tem crescido 10% ao ano. De 2006
para cá, o crescimento foi de 275%.
Muitos pacientes
que se submetem à operação sofrem complicações e precisam de uma nova cirurgia
e também já houve um pequeno número de mortes registradas após essas
intervenções.
Inicialmente,
pensava-se que a cirurgia bariátrica funcionava ao reduzir a quantidade de
alimento que pode ser digerida pelo estômago. No entanto, foi descoberto, em
pacientes operados, níveis elevados de hormônios da saciedade, os sinais
químicos liberados pelo organismo para controlar a digestão e a sensação de
fome no cérebro.
Os pacientes que
se submeteram a cirurgia também apresentam menos vontade de consumir alimentos
gordurosos, por isso acredita-se que os hormônios mudam o desejo dos pacientes
para comer.
O objetivo de
Steve Bloom e sua equipe é descobrir quanto peso é possível ser perdido usando
três desses hormônios. Em seus experimentos, pacientes obesos usarão uma bomba
intravenosa, mantida em torno de sua cintura, para liberar doses pequenas e
regulares dos hormônios GLP-1, OXM e PYY no organismo. Esses hormônios normalmente
duram apenas alguns minutos no corpo humano, por isso é preciso que sejam
liberados continuamente.
No entanto, o
professor Bloom e seus colegas também desenvolveram versões desses hormônios
que podem durar até uma semana. Isso significa que os pacientes poderiam
controlar seu apetite com uma única injeção semanal. “O objetivo, a longo
prazo, é desenvolver medicamentos de longa duração, de maneira que as pessoas
possam tomar uma injeção uma vez por semana, sem a necessidade de operação”,
conta.
“Cada paciente
reage de uma maneira diferente após a cirurgia. Talvez um terço dos pacientes
não perca peso o suficiente, talvez alguns percam demais e não se pode ajustar
esse efeito. No caso de um medicamento, você pode alterar a dose muito
facilmente e isso vai lhe dar muito mais controle sobre quanto peso cada pessoa
perde”, completa. [Telegraph]
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