sábado, 2 de novembro de 2013

Médicos resistem a lavar as mãos

01/11/2013
(Portugal) - Os médicos são os profissionais de saúde que menos aderem às medidas de higiene das mãos em meio hospitalar, referem dados do relatório “Portugal: Controlo de Infecções e Resistência aos Antimicrobianos em Números”, apresentado nesta quinta-feira, avança o jornal Público, citando a agência Lusa.
O secretário de Estado adjunto da Saúde, Leal da Costa, disse ainda que, para evitar infecções, estes profissionais não deveriam poder usar anéis, pulseiras ou gravatas. O director do Programa de Prevenção e Controlo de Infecção e de Resistência aos Antimicrobianos (antibióticos), José Artur Paiva, diz que a criação de um código de vestuário seria “uma boa regra”

Ponto da situação: Portugal apresenta uma taxa de infecção hospitalar superior à média europeia — 10,5% no ano passado, face a 5,7% na União Europeia. Em 2011, morreram nos hospitais portugueses 11.357 doentes que tinham uma infecção, embora isso não queira dizer que essa tenha sido a causa da sua morte. Em todo o caso, o país tem um problema, admite José Artur Paiva.
Entre as medidas de prevenção da infecção estão as regras de higiene das mãos que implicam, por exemplo, que após o contacto com cada doente o profissional de saúde tenha que lavar ou desinfectar as mãos, para evitar ser portador de bactérias. Avaliando a taxa de adesão às medidas de higiene das mãos em hospitais e unidades de cuidados continuados, nos médicos esta fica-se pelos 52%. A taxa mais alta é a dos enfermeiros, com 75%, seguida dos assistentes operacionais, com 61% (dados de 2011/2012). “A boa higiene das mãos é um sector em que temos que melhorar, nomeadamente os médicos”, admite o responsável.

Um novo código de vestuário?
Na apresentação do relatório, o secretário de Estado disse que se deveria proibir os médicos de usarem anéis, pulseiras, alianças ou gravatas, por serem “veículos de transmissão”, notando que os riscos estão ainda associados “aos estetoscópios que se insiste em transportar por todo o lado” e “às batas com que se almoça e janta nos refeitórios e com que, a seguir, se vêem doentes”, cita a Lusa.
Comentando a sugestão, José Artur Paiva disse que a criação de um código de vestuário, que evite indumentária e acessórios onde as bactérias se possam refugiar, seria “uma boa regra”, mas que só teria impacto se somada a outras medidas. “Só é importante se houver uma boa higiene das mãos, um bom uso das luvas”.
O uso excessivo de antibióticos é outro dos grandes problemas apontados pelo relatório, que está associado à criação de resistência das bactérias e à crescente ineficácia daqueles fármacos para combater infecções. Portugal está no grupo dos dez países europeus onde mais se consome antibióticos na comunidade — é 7º num lote de 27.
Um dos problemas detectados é a nível hospitalar. Quando se é operado, dá-se por norma antibiótico para prevenir a infecção, mas o que se constata é que a sua administração se prolonga por tempo excessivo, refere o director do programa. A toma devia ser inferior a 24 horas mas, em 64% dos casos, é superior. Nesse sentido, vai ser emitida uma norma a tornar regra uma administração que não vá além daquele período, realçou. Portugal tem uma taxa de consumo de antimicrobianos em meio hospitalar de 45,4%, muito acima da média comunitária de 32,7%. “A crescente taxa de resistência dos microrganismos leva a que o antibiótico, menos de cem anos após a descoberta da penicilina e após ter contribuído para um marcado aumento da esperança de vida média, esteja em risco de perda de eficácia”, alerta o relatório.
Mas há melhorias: nos três últimos anos, diminuíram as infecções urinárias associadas a algálias, mas piorou-se na infecção da ferida operatória, referiu José Artur Paiva. O que este relatório também permitiu perceber foi que as infecções hospitalares em valores superiores aos expectáveis acontecem em cirurgias do cólon, da vesícula biliar e da prótese do joelho.
José Artur Paiva ressalva que o objectivo não é a taxa de infecção zero, porque quem é internado está em situação de crescente fragilidade — 51,4% das infecções são em pessoas com mais de 65 anos —, o que significa que há sempre uma taxa de infecção inevitável. O ideal será fazê-la descer para a média europeia, que se cifra hoje nos 6%.

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