quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Nestlé, investe no segmento de produtos alimentícios chamados de alimentos medicinais.


Nestlé compra farmacêutica de olho em novo mercado
Paul Sonne
The Wall Street Journal
A Nestlé S.A. adquiriu uma empresa farmacêutica novata do Reino Unido que está criando uma goma de mascar para ajudar pacientes com doença nos rins, a primeira iniciativa do esforço mais recente da empresa para formar uma divisão que venderá produtos alimentícios voltados para doenças específicas.
A aquisição da CM&D Pharma Ltd. pela Nestlé, a ser anunciada hoje, é provavelmente a primeira de muitas para a Nestlé Health Science SA, uma subsidiária que abriu as portas no mês passado.
A Nestlé confirmou a compra, mas não revelou o valor pago.
A Nestlé anunciou em setembro que ia criar a subsidiária e investir 500 milhões de francos suíços (US$ 530 milhões) em dez anos em um instituto de pesquisa a ela associado. A meta é dar um salto significativo num setor em que a Nestlé tenta penetrar desde pelo menos desde o fim dos anos 80.
Empresas de produtos alimentícios — principalmente a Nestlé e a Groupe Danone SA — têm feito um esforço para assumir uma liderança na fabricação de produtos voltados para doenças como o Mal de Alzheimer ou a diabetes. Embora a área seja considerada promissora, tanto do ponto de vista médico como de negócio, ela também gerou críticas do governo americano e de alguns setores da comunidade médica por fazer propagandas exageradas dos benefícios à saúde de seus produtos.
Agora, a Nestlé espera fazer a coisa direito, operando a empresa de alimentos medicinais como uma empresa à parte e injetando nela bastante investimento e pessoal.
Alguns médicos temem que os chamados alimentos medicinais não passem pela mesma fiscalização ou testes rigorosos que os remédios. Eles advertem que as empresas de produtos alimentícios têm um histórico ruim de exagerar os benefícios para a saúde de seus produtos para ganhar uma vantagem mercadológica. Em julho, por exemplo, a Comissão Federal do Comércio, agência americana encarregada da defesa do consumidor, obrigou a Nestlé a retirar a alegação de que o produto Boost Kid Essentials protegia o sistema imunológico das crianças.
"No caso de muitas dessas empresas de alimentos, as alegações de controle de doenças, prevenção de doenças, aumento da imunidade, aumento da função imunológica — todas essas coisas — são muito difíceis de se provar usando-se os padrões que a FDA e agências equivalentes usariam para julgar a segurança e a eficácia", diz Michael Starnbach, professor titular de microbiologia e genética molecular da Escola Harvard de Medicina.
Agora, a Nestlé espera acertar os ponteiros com a operação da unidade de alimentos medicinais como uma empresa separada, armada com investimento e talentos suficientes.
"Isso tem um potencial enorme. Vai ser na casa dos muitos bilhões", disse em dezembro o diretor-presidente da Nestlé, Paul Bulcke.
"Este é um jogo completamente diferente. (...) O que estamos fazendo aqui é ciência avançada", disse Luis Cantarell, ex-diretor da Nestlé para a região das Américas que está à frente da subsidiária.
A CM&D foi criada em 2007 por um ex-executivo da Sinclair Pharma PLC, Danilo Massari. Embora a empresa ainda não tenha feito o lançamento integral de seu primeiro produto, ela tem vários produtos alimentícios medicinais em testes, disse o diretor-presidente da CM&D, Stephen Appelbee.
Um desses produtos é o Fostrap, uma goma de mascar para pessoas que têm níveis muito altos de fosfato no sangue devido a uma falha dos rins. O fosfato na saliva cola na goma. Não há remédios na goma, e sim um nutriente. Como não é uma droga, não será necessário ter receita.
Appelbee disse que o Fostrap deve ser lançado nos Estados Unidos dentro de um ano. Embora não exija aprovação da vigilância sanitária, já que não é um remédio, a goma vai concorrer com farmacêuticos tradicionais, e para propósitos de marketing a empresa quer ter comprovação clínica de que ele funciona.
Um teste piloto do Fostrap foi feito com 13 pacientes na Itália, com os resultados publicados na revista médica "Journal of the American Society of Nephrology". Agora, os resultados de estudos com uso de placebo em 63 pacientes no Japão e 120 pacientes nos EUA estão sendo analisados, disse ele.
Entre outros produtos que estão sendo testados pela CM&D estão o Eviendep, uma mistura nutriente que desacelera a progressão de pólipos intestinais, e o Recoclix, um alimento medicinal para aliviar a dor resultante do Mal de Crohn e outras doenças inflamatórias do intestino.
Até agora, boa parte da Nestlé Health Science é formada pela empresa de nutrição medicinal que a Nestlé adquiriu da Novartis AG por US$ 2,5 bilhões em 2007. É essa divisão que comercializa vitaminas energéticas da marca Boost. A Nestlé já era investidora da CM&D por meio da Inventages Venture Capital Investments antes de comprá-la.
A Danone está com iniciativas semelhantes em alimentos medicinais. Um produto é o Souvenaid, uma vitamina que está sendo desenvolvida pela Nutricia, uma subsidiária da Danone, que supostamente repara sinapses cerebrais para mitigar os sintomas do Alzheimer. O Souvenaid ainda não chegou ao mercado.
Alguns analistas do setor veem os produtos direcionados para saúde como a próxima fronteira da indústria alimentícia, particularmente em mercados maduros como os EUA e o Reino Unido, que têm populações em envelhecimento e custos médicos em alta.
"É uma grande oportunidade", diz Andrew Wood, analista sênior da Sanford C. Bernstein & Co, que disse que, mais adiante, os consumidores vão comprar alimentos tanto por suas propriedades medicinais e farmacêuticas quanto pelo sabor.
Fonte: http://online.wsj.com/article/SB129660611221582215.html 

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