sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Novo medicamento (comprimido) para tratar obesidade mórbida poderá chegar ao mercado até 2017.


Obesidade grave. Cirurgias poderão vir a ser substituídas por comprimido
por Marta F. Reis , Publicado em 04 de Fevereiro de 2011  
Start-up norte-americana promete alternativa para doentes obesos em 2016. Participantes em ensaio clínico perdem um quilo por semana
Investigadores norte-americanos acreditam estar perto de encontrar o primeiro comprimido eficaz no tratamento da obesidade, mesmo em casos graves. Uma start-up biotecnológica sediada em Cambridge, no Massachusetts, revelou este mês ter encontrado uma fórmula que permite a doentes diagnosticados com obesidade mórbida perderem peso, regularem o apetite e baixarem ao mesmo tempo triglicéridos e colesterol mau sem dieta ou exercício.

A confirmar-se a eficácia e a segurança da abordagem nas próximas fases de ensaio, o medicamento deverá ficar disponível entre 2016 e 2017, disse ao i o director da Zafgen, Thomas Hughes. Um dos objectivos é a substituição de intervenções invasivas como o bypass ou a banda gástrica, tratamentos a que todos os anos recorrem milhares portugueses.

A eficácia do ZGN-433 chamou a atenção dos especialistas. Além de perderem 3,1% do peso em 26 dias, as 24 participantes no ensaio reduziram os níveis de triglicéridos 38% e os níveis de lipoproteína de baixa densidade (colesterol mau) 26%. Não foram submetidas a uma dieta especial nem a um programa de exercício, embora os responsáveis defendam mudanças no estilo de vida. Nesta primeira fase, pediram-lhes apenas que "ouvissem o corpo."

António Sérgio, presidente da Sociedade Portuguesa de Cirurgia de Obesidade, espera que este medicamento possa preencher a lacuna deixada pela suspensão dos seus antecessores, que revelaram efeitos secundários graves como maior propensão a ataques cardíacos. "Hoje não temos nenhum medicamento que cubra esta área", frisa. O último a ser proibido pelos reguladores europeu e português foi a sibutramina, no ano passado, disponível na altura em oito medicamentos à venda no país - entre eles o Reductil. Em 2008, segundo dados da consultora IMS Health, tinham sido vendidas mais de 180 mil embalagens.

Regular o organismo O ZGN-433 muda a forma como o corpo armazena e queima gordura, diz Hughes. "Na base da obesidade estão várias adaptações na forma como o fígado processa a gordura, que vão tornando mais fácil ganhar peso do que perdê-lo." Neste caso, o investigador - que trabalhou 20 anos para a Novartis em áreas como doenças cardiovasculares e metabolismo de lípidos - explica que o medicamento bloqueia a produção da enzima MetAP2, associada a vários genes com um papel conhecido na obesidade, e assim consegue restabelecer a forma como um organismo saudável processa a gordura.

Com taxa de perda de peso demonstrada, para já sem efeitos secundários, a Zafgen acredita que é possível desenvolver um programa de redução de 20% a 40% do peso em seis a nove meses, sem recurso a cirurgia. "Apesar de serem processos muito eficazes e trazerem muitos benefícios para as pessoas obesas, as cirurgias estão associadas a uma taxa significativa de complicações como infecções, trombose, má absorção de nutrientes", diz Hughes.

António Sérgio concorda. "A cirurgia não trata a doença. Se revertemos o procedimento, 95% dos doentes recupera o peso", afirma o especialista. Contudo, acredita que mesmo neste caso não estamos perante a cura para a obesidade: "Sabemos que hoje serão muitos os factores por trás da doença - genéticos e ambientais. Até porque temos de tratar uma doença em última análise provocada por algo com que as pessoas lidam todos os dias, a comida."



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