Rob
Cameron Da
BBC News
Atualizado em 2 de junho, 2014 - 06:46 (Brasília) 09:46 GMT
Quem
completa a visita recebe um diploma em Mestrado de Administração de Corrupção
Atualizado em 2 de junho, 2014 - 06:46 (Brasília) 09:46 GMT
Visita percorre marcos da corrupção e
nepotismo
Quem visitar Praga, na
República Tcheca, terá a oportunidade de participar de uma visita guiada
inusitada.
Em vez de museus, igrejas e
outros pontos turísticos famosos, os visitantes poderão fazer um passeio oferecido
pela "agência do turismo da corrupção".
"A corrupção não é apenas
o dinheiro gasto da maneira errada. Corrupção é a quebra de confiança e a teia
de poder que se constrói com este dinheiro", diz Petr Sourek, fundador do
que ele diz ser a primeira agência de turismo de corrupção do mundo.
Por algumas dezenas de euros,
Petr e seus colegas lideram uma excursão pelos "marcos de corrupção e
nepotismo" que marcaram a transformação da República Tcheca de uma
economia socialista planificada para um mercado capitalista.
"Vejo isso como uma ameaça
à nossa liberdade, porque estas estruturas mafiosas são fortes o suficiente
para intimidar os cidadãos", ele disse à BBC.
Os passeios oferecem aos
visitantes uma visão do que aconteceu com as enormes somas de dinheiro dos
contribuintes que desapareceram nos bolsos de funcionários corruptos e
empresários misterioros.
A visita passa por mansões
monumentais, obras públicas superfaturadas e corredores de prédios do governo.
Ao final, os visitantes recebem
um souvenir de brincadeira: um diploma em Mestrado em Administração de
Corrupção.
Voldemort
Em uma das paradas, observamos
de fora os escritórios de Roman Janousek, um empresário bilionário cuja
influência em Praga já foi tão grande que ele chegou a ser chamado de
"segundo prefeito" da capital e apelidado de Voldemort (o vilão das
histórias de Harry Potter, o jovem feiticeiro criado pela escritora britânica J
K Rowling).
O apelido vem das acusações de
que teria fraudado licitações públicas e supervisionado a construção de vários
projetos fraudulentos. Janousek nega.
Em 30 de abril, o empresário
foi condenado a três anos de prisão por lesão corporal grave depois de um
acidente de trânsito em que ele teria avançado com seu Porsche Cayenne contra
outro motorista que teria saído de seu carro para protestar com ele.
Mas qual é o verdadeiro tamanho
da corrupção na República Tcheca? Certamente, é grande o suficiente para
derrubar governos.
Em junho do ano passado, o
então primeiro-ministro Petr Necas deixou o poder acusado de envolvimento em um
escândalo de corrupção, sexo, espionagem e suborno.
A policia invadiu a sede do
governo e escritórios de vários empresários, incluindo o de Janousek, para
recolher provas.
Foi um fim irônico e amargo
para um governo que tinha feito mais do que qualquer outro para aliviar o
trabalho de detetives e promotores encarregados de reprimir a corrupção de alto
nível.
Mas a corrupção é algo difícil
de se medir com precisão.
Um ranking de corrupção
compilado pela organização Transparência Internacional em 2013 põe a República
Checa em 57º lugar em uma lista de 177 países.
O Índice de Percepção de
Corrupção, divulgado anualmente pela Transparência, mede a percepção da
corrupção do setor público pelos cidadãos de um país.
Apesar de ter caído em relação
ao ranking de 2012, o país ainda fica à frente da vizinha Eslováquia (61º), mas
é considerada menos corrupto do que a Itália (69º) , Bulgária (77º) e Grécia
(80º). O brasil ficou em 72º lugar no ranking da TI.
Ventos
de mudança
Advogado cego foi demitido por soar alarme
sobre corrupção no governo
É o mesmo problema que
enfrentam muitos países que emergiram de um passado comunista", diz
Adriana Krnacova, que dirigiu a filial tcheca da Transparência Internacional
entre 2001 e 2007 e hoje é ministra do Interior.
"Somos um país muito
jovem. Existimos há apenas 20 anos e seria muito ingênuo pensar que, depois de
duas décadas, tudo mudaria", diz Krnacova.
"A maioria das pessoas
talentosas da República Tcheca e da Eslováquia deixaram o país na década de
1990. E, desde então, a política foi tomada por pessoas que não são muito
amigas da transparência", opina ela.
Mas há histórias que inspiram
esperança.
Em 2010, o advogado cego Ondrej
Zavodsky foi demitido de seu emprego como chefe do serviço jurídico do
Ministério do Interior.
Ele alega que sua demissão foi
em retaliação por ter alertado várias vezes sobre vários contratos suspeitos que
tinha sido encarregado de examinar.
Após sua saída, ele enviou
cópias dos documentos para o ministro do Interior e para a polícia e o
resultado foi uma séria de ameaças contra ele e sua família.
O caso ganhou grande
repercussão na mídia local e a pressão da opinião pública levou à abertura de
uma auditoria interna que revelou várias irregularidades no setor público do
país.
Hoje, Ondrej Zavodsky é
vice-ministro de Finanças.
"As coisas avançaram,
claro", diz ele à BBC enquanto seu cão guia observa um pavão que passeia
pelo esplendoroso Jardim Waldstein.
"Hoje sou vice-ministro de
Finanças para a propriedade do Estado e da loteria nacional - ou seja, um cargo
que traz consigo um dos maiores riscos de corrupção na administração do Estado.
E ganhei do ministro total liberdade para garantir a transparência dos vários
fluxos de dinheiro."
É, certamente, um sinal de que
as coisas estão começando a mudar.
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O conteúdo do texto e imagens acima foram
captados na íntegra de: http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/06/140602_praga_turismo_corrupcao_fl.shtml?ocid=socialflow_facebook
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