A
indústria farmacêutica recebeu com surpresa e preocupação o anúncio das novas
regras para os medicamentos similares. Segundo participantes do mercado e
analistas consultados pelo Valor, apesar de apoiar a intercambialidade do
similar com o medicamento de referência, o setor ficou surpreso com o momento
da divulgação – antes do esperado – e com a defesa do ministro da Saúde,
Alexandre Padilha, de que os similares sejam registrados com preço 35% menor
que o medicamento de marca.
“A
indústria se surpreendeu porque, dada a complexidade do assunto e a forma como
ele vinha sendo tratado, esperava-se um debate mais profundo e cauteloso sobre
o tema”, afirmou Antônio Britto, presidente-executivo da Associação da
Indústria Farmacêutica de Pesquisa (Interfarma).
A
revisão dos preços preocupa principalmente porque muitas empresas já investiram
no processo de equivalência de seus produtos similares ou estão em processo de
investimentos, sem contar, no entanto, com a nova regra do desconto, o que gera
dúvidas sobre o retorno desses desembolsos.
“Os
similares são diferentes no que diz respeito a suas características de mercado.
Não poderiam ser tratados de modo igual”, afirma Henrique Tada, presidente
executivo da Associação dos Laboratórios Farmacêuticos Nacionais (Alanac). Ao
contrário dos genéricos, os similares têm marca, ou seja, exigem maiores
esforços em marketing e em políticas comerciais. “As marcas consolidadas
ficarão fragilizadas e isso preocupa. A política governamental deve permitir
que quem participa deste mercado continue investindo”, explica Telma Salles,
presidente-executiva da Associação Brasileira das Indústrias de Medicamentos
Genéricos.
Além
do preço máximo, também não tinha sido discutida com a indústria a mudança das
embalagens. Pela nova regra, as embalagens dos similares trarão o símbolo “EQ”,
que significa equivalente, assim, a mesma prescrição médica que atualmente
permite ao paciente adquirir medicamento de referência ou genérico também
poderá ser usada para a compra do similar. Neste caso, a mudança pode ser
positiva para os fabricantes, já que procura deixar claro para o consumidor que
ele está consumindo um medicamento que pode substituir o de referência,
elevando assim, o “status” do similar, muitas vezes questionado com relação a
sua qualidade.
Outro
fator que está sendo questionado pelo setor farmacêutico é se os objetivos das
medidas o serão alcançados. O governo espera que, com as novas regras, a
população tenha mais acesso aos medicamentos, dada a redução de preços e o
aumento da oferta.
O
mercado, no entanto, está colocando em xeque o real alcance das medidas.
Segundo Pedro Zabeu, analista da Fator Corretora, as farmácias geralmente
repassam para o consumidor um desconto menor do que o dado pelo fabricante
(assim como já acontece com os genéricos), situação que fará com que o
consumidor não sinta uma diferença tão grande na hora da compra de um similar.
Além disso, as novas exigências farão com que empresas menores tenham mais
dificuldades em competir com as grandes neste mercado.
“Alguns
fabricantes não vão conseguir renovar seus produtos, dados os elevados
investimentos necessários. Vai diminuir a competição de similares”, afirmou o
presidente do laboratório Teuto, Marcelo Henriques.
Agora,
os representantes da indústria vão aproveitar o período de 30 dias de consulta
pública, para dialogar em Brasília. “Nós gostaríamos que houvesse uma discussão
mais profunda, para evitar prejuízos à política nacional de genéricos e para
que não se gere falsa expectativa sobre a ampliação de acesso a medicamentos no
país”, afirma o presidente da Interfarma.
Fonte: Valor
Econômico
Nota de C&T:
O que os executivos
da Indústria Farmacêutica de similares esqueceram de informar foi que para que
o mercado de similares exista é preciso destinar margens de até 100% de lucro além
de investir muito no pagamento de premiações e comissões para balconistas de farmácias
indicarem e trocarem prescrições. Não a nada de errado na medida tomada pelo
Ministério da Saúde, o que acontece é um banho de água fria nas estratégias
fáceis, antiéticas e altamente rentáveis. O cidadão brasileiro precisa exigir
que similares tenham qualidade e preço baixo justificados pela facilidade de
lançar e comercializar produtos científicos sem investimentos de pesquisas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário