Faz alguns anos que ouço sobre amigos médicos
que viajam pagos por empresas farmacêuticas. O processo de catequização
tem ainda outras muitas formas não republicanas. Deixemo-las para lá. A nata
dos convidados é composta dos grandes prescritores de remédios, dos
pesquisadores de renome e dos que seconsideram referências na sociedade. Há,
entre eles, os que acreditam estar fazendo – ou colaborando - pesquisas
científicas para determinadas curas e o mitigamento das dores de seus
pacientes.
O médico é um profissional com quociente de
inteligência acima da média e não deve cometer o autoengano de se acreditar
útil a um grande laboratório em pesquisa de drogas para um fim específico. As
multinacionais a controlar os medicamentos do mundo são insensíveis às dores
humanas e têm o seu próprio corpo científico. O doente é a sua presa. Como
deixá-lo sem dor, sem a dependência ou a crença de que um remédio o ajudará?
Neste século 21, entre tantas questões,
descobriu-se o evidente: faltam médicos no Brasil. Na realidade, não faltam
médicos no Brasil litorâneo, no Brasil asfaltado, no Brasil com aeroportos
internacionais. Faltam médicos para o Brasil cru dos subúrbios e do interior, o
Brasil sem esgoto, o Brasil com endemias, o país real com parcos postos de
saúde e muitas ambulâncias. No Brasil de hoje em que alguns prefeitos são
ilusionistas, pois ocluem os olhos dos cidadãos incautos para a realidade da
miséria continuada e a falta de assistência médica. Faltam médicos,
especialmente nos grotões. Em alguns deles, médicos se transformam em políticos
e tudo prossegue na mesma. Mas falava de viagens pagas a médicos em congressos,
estudos, mesas redondas, seminários e afins no mundo afora. Ano passado,
em Nevada, LV, havia um desses eventos no hotel em que estava hospedado. Ao
passar e olhar curioso para um amontoado de pessoas, vi
recepcionistas entregando pastas e mimos, em um coquetel.
Agora, vejo na imprensa brasileira e na
internacional analistas revoltados com os que mistificam esses vieses das
farmacêuticas. Apenas comento o que leio, não sei de nomes, mas seria bom
que as faculdades de medicina, os professores doutores, médicos
renomados, associações de classe e a ANVISA examinassem o assunto e
fossem mais explícitos sobre o que acontece nesse mundo tão rico. Em 18 de
dezembro passado, o British Medical Journal mostrou, através do médico
Sidney Wolfe, fundador e conselheiro sênior do Grupo de Pesquisa em Saúde
Pública Cidadã, que há “uma patológica falta de integridade corporativa em
muitas farmacêuticas”. Há crimes e violações às legislações.
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