O sempre antenado médico de família e comunidade
Ronaldo Zonta chamou a atenção para uma coluna da Folha de São Paulo onde a
neurocientista Suzana Herculano-Houzel alerta para um risco do ultrassom
realizado durante a gravidez:
[...] Pasko Rakic, um dos maiores especialistas
mundiais no desenvolvimento do sistema nervoso, [...] descobriu que, aplicada a
camundongas gestantes em condições comparáveis às dos exames feitos com
mulheres grávidas, a ultrassonografia tem o potencial de perturbar a migração
dos neurônios que formarão o cérebro dos filhotes. Quanto maior o tempo de
exposição, maior a porcentagem de neurônios que se perdem ao longo do trajeto
de migração do local onde eles nascem até seu destino no córtex cerebral. A
porcentagem sobe de 5% nos animais controle para 19% em animais expostos ao
ultrassom por sete horas, o maior tempo testado no estudo. [...]
A pesquisa foi publicada em 2006 pela revista Proceedings of the National Academy of Sciences of the United
States of America e, ao contrário da coluna da Folha de São
Paulo, pode ser lida gratuitamente. Traduzo para vocês uma boa parte do resumo:
Neurônios do neocórtex cerebral
em mamíferos, incluindo humanos, são gerados durante a vida fetal nas zonas
proliferativas e então migram para seus destinos finais seguindo uma
sequência de dentro para fora. O presente estudo examinou o efeito de ondas de
ultrassom na posição dos neurônios dentro do córtex cerebral embrionário em
ratos. [...] Nossa análise de mais de 335 animais revelou que, quando expostos
a ondas de ultrassom por um total de 30 minutos ou mais durante o período de
sua migração, um número pequeno mas estatisticamente significativo de neurônios
falham em adquirir sua posição adequada e permanecem espalhados dentro de
camadas corticais inapropriadas e/ou na substância branca subjacente. A magnitude da
dispersão de neurônios rotulados foi variável mas aumentou sistematicamente com
a duração da exposição às ondas de ultrassom. Esses resultados pedem uma
investigação ulterior em cérebros maiores e de desenvolvimento mais lento em
primatas não humanos [...].
Em matéria
da revista Nature, o próprio
pesquisador explica a importância exata de sua descoberta:
Rakic diz não ter evidência de que o exame por
ultrassom prejudique o cérebro de fetos humanos. Os ratos afetados neste estudo
foram expostos a ultrassom contínuo por 30 minutos ou mais; o cérebro de um
bebê seria exposto a apenas uma fração desse tempo durante um exame de 30
minutos de seu corpo inteiro. E uma faixa estreita de ultrassom vai atingir e
afetar muito mais um cérebro pequeno de rato do que um cérebro humano, que é
maior.
[...]
“Não queremos apertar o botão do pânico,” diz
Rakic, “Seria muito errado se por causa disso as mulheres parassem de realizar
ultrassons indicados por seus médicos.”
Ao mesmo tempo Rakic diz ser razoável evitar os
exames de ultrassom prolongados que alguns pais e mães hoje em dia escolhem
para fazer vídeos de seus bebês. [...]
Em resumo, hoje em dia não podemos dizer com
certeza que o ultrassom não faça mal algum para os bebês. Mas, como o próprio
pesquisador destacou, seus achados só dizem respeito a ratos, e seus cérebros
receberam doses de ultrassom bem maiores do que as doses recebidas pelos
cérebros de fetos humanos durante exames pré-natais.
Assim como Pasko Rakic e Suzana Herculano-Houzel,
acredito que valha a pena fazer ultrassonografia pré-natal quando a gente sabe
o que tem a ganhar com o exame. Mas, com o conhecimento atual, parece ser mais
prudente deixar de fazer ultrassons desnecessários.
A publicação a acima é de total responsabilidade da fonte
citada captada da internet.
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