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Até 2020, a Rússia passará a produzir as suas próprias vacinas. Muito a
esperar?
11.05.2015
A indústria biofarmacêutica
russa está se preparando para substituir os medicamentos biológicos e vacinas
importados, que com a atual situação econômica, tornaram-se uma questão de
segurança nacional. O surgimento dos produtos biofarmacêuticos e a ampla
aplicação da biotecnologia na medicina já são previstos por cientistas de todo
o mundo. No entanto, a química ficou em segundo plano.
Tradução de Mariana Villanova
Até muito pouco tempo os medicamentos russos
eram considerados um contrassenso, e o máximo que a farmácia russa era capaz de
produzir eram análogos de fármacos estrangeiros que perdiam a proteção
patentária, chamados genéricos. Hoje, segundo a chefe do
Ministério da Saúde Veronica Skvorsova, a Rússia desenvolveu vacinas contra
a gripe exclusivas e inovadoras, acompanhando a produção de empresas
farmacêuticas estrangeiras.
As empresas biofarmacêuticas russas anunciaram
que até o ano de 2020 serão capazes de atender a todo o calendário de vacinação
nacional com vacinas russas, e, um pouco mais tarde, suprir toda a lista de
medicamentos essenciais e vitais com medicamentos nacionais. Isso significa que
as bases de pesquisa e produção de empresas farmacêuticas
russas passarão para um novo nível, incluindo a realização de pesquisas
abrangentes e produção de produtos próprios, em conformidade com as normas
internacionais de padrão de qualidade GMP (Good Manufacturing Practice).
A primeira, e até agora única, vacina russa,
produzida no âmbito do ciclo completo de produção de acordo com a GMP, é a
vacina "Ultriks", produzida pela empresa biofarmacêutica e complexo
de pesquisa e produção "Fort", fundada há um ano na região de Ryazan.
Hoje na Rússia é realizado o mais rápido e
eficiente sistema de teste para a detecção de Ebola e outras doenças perigosas.
A primeira vacina contra a febre hemorrágica Ebola no Instituto de Pesquisa da
Gripe em São Petersburgo foi produzida em dezembro do ano passado,
as outras três vacinas estão atualmente em ensaios clínicos.
O surgimento de produtos
biofarmacêuticos e a ampla aplicação da biotecnologia na medicina já
preveem cientistas de todo o mundo, inclusive os russos. "A farmacologia
química está esgotado seus recursos - disse o diretor geral da empresa Fort,
doutor em Ciências Biológicas, Anton Katlinskyi, a jornalistas durante uma
mesa-redonda realizada recentemente na Academia Russa de Ciências. Há 15-20
anos, as preparações de síntese química reinaram no mercado farmacêutico, mas
agora a indústria está em estagnação: não há ultimamente excelentes descobertas
e inovações. A maioria dos fármacos que podem ser encontrados hoje nas
farmácias encarnam as realizações científicas de 50-60 anos atrás."
A tendência global da farmacologia química, de
acordo com o especialista, pode ser expressa da seguinte maneira: "o
mínimo de marcas campeãs de venda e o máximo de medicamento genérico".
Enquanto isso os medicamentos mais recentes e mais eficazes no tratamento e
prevenção de doenças virais, doenças hematológicas e oncológicas são
encontrados no campo da biotecnologia.
Agora na Rússia estão sendo formuladas novas
produções farmacêuticas e agrupamentos biotecnológicos inteiros, sobre os quais
são feitas pesquisas para o desenvolvimento de medicamentos biológicos em nível
mundial. Os cientistas do país acreditam que o futuro da farmacologia é em
biotecnologia, na qual a fonte da substância ativa é o próprio corpo humano.
"A taxa em medicina depende de abordagem personalizada. Acredito que nos
próximos 10 anos, os médicos mudarão para um sistema em que cada tarefa será
feita com base nos testes genéticos do paciente", diz Anton Katlinskyi.
No entanto, apenas a produção de novos fármacos
pode não ser suficiente, se não houver mudanças de comportamento dos russos
quanto a sua saúde e prevenção de doenças. Especificamente, na opinião pública,
a gripe e as infecções das vias respiratórias superiores (IVRS) ainda estão
longe de ser consideradas as doenças mais perigosas, em comparação com o
altamente "divulgado" vírus Ebola e as "famosas" versões de
gripe aviária ou suína. No entanto, de acordo com o Instituto de Pesquisa da
Gripe, todos os anos na Rússia, as gripes e as IVRS acometem até 8% da população,
ou 30 milhões de pessoas. De acordo com as estatísticas, cerca de 1.000 pessoas
acometidas morrem de complicações causadas pela gripe. E não devemos esquecer
que nas estatísticas, como se sabe, pode haver desvios -não é em todos os casos
que os médicos estabelecem a causa exata da morte, pois, para isso são
necessárias pesquisas laboratoriais significativas. Isso significa que, na
verdade, o número de mortes pode ser ainda maior.
Os fabricantes nacionais estão prontos para
prover aos russos vacinas nacionais. Por exemplo, apenas uma empresa estava
disposta a fabricar até 40 milhões de doses de vacina contra a gripe sazonal.
Além disso, a empresa na região de Ryazan está pronta para fornecer vacinas a
todo o país em caso de pandemia de gripe - suas instalações viabilizam a
produção de 120 milhões de doses de vacina contra pandemia.
Infelizmente, com as medidas destinadas a
impedir a gripe, os médicos muitas vezes se deparam com o preconceito dos
russos contra a vacinação. Os especialistas reconhecem que a vacinação não garante 100%
que o indivíduo não ficará doente, mas o risco pode ser minimizado. Além disso,
a criação de estratos imunes suficientes na população evita a propagação da
infecção. Portanto, a vacinação continua sendo uma das maneiras mais efetivas
para combater o vírus da gripe. Tantos os médicos quanto os seus pacientes
estão otimistas com o fato de que em breve poderão ser produzidos melhores
medicamentos de fabricação russa.
Anatolyi Sterhov
Especialista-Chefe do Instituto de
Especialização Regional
Alexandra Grigoreva (MedPulse.ru): "Tudo isso seria ótimo. Só
que surgem algumas dúvidas. Como teremos medicamentos inovadores se, em média,
gigantes farmacêuticas mundiais levam de 5 a 10 anos para desenvolvê-los? E em
termos financeiros, isso custa 1,5 bilhões de dólares... e os testes clínicos
levam pelo menos cinco anos. Depois de todos os esforços e investimentos, o
máximo que podemos esperar é que, em vinte anos de uso, quando estiver
terminando a patente, tenhamos alguma coisa. Portanto, o máximo que nos espera
são os genéricos e os produtos desenvolvidos de acordo com as normas europeias,
em que poderemos contar com a qualidade adequada dos medicamentos antigos.
Barato (nem caro) ninguém vende uma criação de medicamento. Trata-se mesmo de
apenas algumas vacinas? E em estoque, haverá varinha mágica?
Para cultivar um jardim e fazer a colheita são
necessários pelo menos cinco anos. Com medicamentos é necessário muito mais
tempo para tudo.
Para resumir, espera-se que as conversas
sussurradas sobre a substituição de importados no domínio dos medicamentos e
dispositivos médicos não se tornem um habitual otimismo superficial...
É esperar para ver."
Fonte: MedPulse.Ru
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