Empresas farmacêuticas serão obrigadas a revelar médicos que
recebem dinheiro por consultoria
WASHINGTON - Para evitar conflitos de interesses, o
governo Obama decidiu exigir que as empresas farmacêuticas divulguem os
pagamentos feitos a médicos para a pesquisa, para consultoria, palestras,
viagens e até entretenimento. Pesquisadores encontraram evidências de que tais
pagamentos influenciam decisões dos médicos nos tratamentos de seus pacientes e
contribuiem para o aumento dos custos, através do incentivo ao uso de drogas
mais caras e a exames e aparelhos médicos mais dispendiosos.
Entidades de defesa dos consumidores e membros do
Congresso dizem que os pacientes podem se beneficiar das novas normas,
promulgadas como parte da nova legislação de saúde. Funcionários federais
disseram a divulgação das novas regras aumentou a probabilidade de que os
médicos tomem suas decisões no melhor interesse dos pacientes, sem levar em
conta os interesses financeiros da indústria farmacêutica.
Um grande número de médicos recebe pagamentos de
empresas farmacêuticas a cada ano _ muitas vezes, contabilizados em centenas de
milhares ou milhões de dólares _ em troca de consultorias ou dando palestras
empresariais. Análises feitas pelo jornal “The New York Times” descobriram que
cerca de um quarto dos médicos recebe pagamentos em dinheiro dos fabricantes de
remédios ou de aparelhos médicos e que quase dois terços aceitam presentes de
rotina, incluindo almoço para funcionários de seus consultórios e jantares para
eles mesmos.
“The Times” revelou que os médicos que recebem
dinheiro dos fabricantes de remédios muitas vezes praticam a medicina
diferentemente daqueles que não ganham dinheiro. Os médicos que estão na folha
de pagamentos de laboratórios estão mais dispostos a prescrever medicamentos de
forma arriscada, ou que não estão aprovados ainda, assim como prescrever
medicamentos antipsicóticos potentes para as crianças.
Sob as novas normas, se uma empresa farmacêutica
tiver um produto sequer coberto pelos programas públicos Medicare ou Medicaid,
terá que divulgar todos os seus pagamentos a outros médicos assim como o de
seus próprios funcionários. O governo federal vai postar os dados de pagamento
num site, onde estarão disponíveis ao público.
Fabricantes de medicamentos e aparelhos médicos
terão de apresentar relatórios ao governo, se pagarem médicos para ajudar a
desenvolver, avaliar e promover novos produtos _ ou se, por exemplo, agentes de
vendas de produtos farmacêuticos oferecem US$ 25 para pagar lanche (ainda que
sejam bagels e café) para que um consultório médico faça para uma reunião de
funcionários. Pagamentos de royalties para os médicos, por invenções ou por
descobertas científicas, e pagamentos aos hospitais de ensino para pesquisa ou
outras atividades também têm de ser comunicados à administração federal.
O governo Obama estima que empresas farmacêuticas
que produzem mais de 1100 drogas e dispositivos médicos terão de apresentar
seus relatórios, produzindo "uma grande quantidade de novos dados."
Autoridades federais disseram que iriam inspecionar e auditar os registros da
empresa de medicamentos para se certificar de que os relatórios foram precisos
e completos .
As empresas estarão sujeitas a uma penalidade de
até US$ 10 mil para cada pagamento que não apresentarem em seus relatórios. Uma
empresa que conscientemente não apresentar pagamentos será submetido a uma pena
de até US$ 100 mil por cada violação, até um total de US$ 1 milhão por ano.
Executivos do topo são potencialmente responsáveis
por funcionários da empresa _ especialmente o presidente-executivo, o diretor
financeiro e o diretor da área _ e todos devem atestar a exatidão de cada
relatório.
As novas exigências entrarão em vigor em breve. Sob
a nova lei de saúde, o governo está atrasado e já deveria ter estabelecido como
data de apresentação do primeiro relatório no último dia 1 de outubro. Agora, o
público terá até 17 de fevereiro de 2012 para comentar as propostas do governo.
Depois de analisar os comentários, os funcionários do Medicare e do Medicaids
vão publicar as regras finais para os relatórios, já com força de lei.
Entidades de defesa dos consumidores há muito
exigiam detalhes das relações financeiras entre médicos e empresas
farmacêuticas. Allan J. Coukell, farmacêutico e advogado de uma entidade de
defesa do consumidor chamada Pew Charitable Trusts, comenta a decisão:
_ Os pacientes querem saber que estão recebendo
tratamento justo, com base em evidências médicas, e não um almoço ou um produto
que resulta de uma relação financeira entre o seu médico e um fabricante. Eles
querem saber se o seu médico tem uma relação financeira com uma empresa
farmacêutica, mas são muitas vezes ficam desconfortáveis em pedir explicação ao
médico diretamente.
Em uma introdução para as regras propostas, o
governo Obama diz que os pacientes podem se beneficiar quando os médicos e a
indústria trabalham juntos para desenvolver medicamentos e aparelhos que salvam
vidas. Mas essas relações também podem, segundo Coukell, "levar a
conflitos de interesses que podem afetar a tomada de decisão clínica e ameaçam
a integridade do próprio sistema de saúde."
O governo não quer definir a diferença entre
pagamentos próprios e impróprios. As novas regras dizem simplesmente que os
relatórios públicos deven expor quaisquer laços financeiros entre médicos e
fabricantes de medicamentos e aparelhos, e que isto "permitirá aos pacientes
tomar decisões mais bem informadas ao escolher os profissionais de saúde e
optar por tratamento."
As novas normas cumprem legislação defendida pelos
senadores Charles E. Grassley, republicano de Iowa, e Herb Kohl, democrata de
Wisconsin. A legislação foi incluída na revisão dos cuidados de saúde de 2010.
_O objetivo é deixar o sol brilhar e disponibilizar
informações para promover a responsabilização", disse o senador Grassley.
Christopher White, vice-presidente executivo da
Advanced Medical Technology Association, que representa os fabricantes de
dispositivos médicos, comentou que os dados de pagamentos poderiam ser usados
por agências federais, advogados dos queixosos e denunciantes.
_ Algumas empresas temem que os médicos podem não
querer envolver-se em acordos de consultoria, e essa relutância poderia esfriar
programas de inovação _ disse White.
Medicare e Medicaid, os programas públicos para os
americanos idosos, para deficientes e para a população carente, gastam mais de
US$ 100 bilhões por ano em medicamentos e exames, por ano.
Embora o orçamento federal não preveja cortes
imediatas, funcionãrios do governo acreditam que ao longo do tempo, a
divulgação dos relatórios tem o potencial de reduzir os gastos públicos,
reduzindo sobretudo os casos de prescrição excessiva de medicamentos.
Como exemplo de pagamentos impróprios, o
inspetor-geral do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos EUA citou um
caso em que os fabricantes de aparelhos médicos haviam dado incentivos
financeiros _ na forma de contratos de consultoria, viagens luxuosas e outras
regalias _ para induzir os médicos a utilizar próteses e produtos de
substituição do joelho para pacientes que não precisavam deste tipo de
tratamento. Autoridades do governo contestaram o tratamento na justiça foi
feito um acordo: as empresas acabaram concordando em prescrever estes
procedimentos apenas em caso de necessidade efetiva.
A lei também exige que as empresas de medicamentos
e dispositivos médicos informem a quantidade de "propriedades, de qualquer
investimento, ou mesmo de pagamentos de juros", realizada por médicos ou
por familiares próximos, em função de associações com empresas de ações de
capital aberto. O governo pretende ainda aplicar os mesmos requisitos de
divulgação de relatórios para as empresas de propriedade de médicos que
distribuem dispositivos e medicamentos. Essas empresas permitem que os médicos
se beneficiem financeiramente com as vendas de aparelhos usados em exames e
cirurgias.
Fonte original da matéria acima (cópia na íntegra):
http://oglobo.globo.com/saude/obama-quer-investigar-folha-de-pagamento-de-laboratorios-3694179#comments
Nota C&T: Não entendo o que impede de uma ação enérgica das autoridades sobre o assunto OPME (órteses, próteses e medicamentos especiais). Tudo que a Indústria Farmacêutica investe em médicos especialistas para prescreverem medicamentos comuns não é nada diante da quantidade de dinheiro que Indústrias de Órteses e Próteses pagam para cirurgiões utilizarem seus produtos em diversas cirurgias. Ortopedistas, Neurocirurgiões e Cirurgiões Cardíacos são os campeões de comissões recebidas das referidas Indústrias citadas acima. Tem Indústria pagando até 40% de comissão para cirurgias que superam os R$200.000,00 de materiais. É muito dinheiro, têm médico formado a menos de 10 anos que está milionário. Será que todas as cirurgias são necessárias? A quantidade de próteses/materiais utilizados em uma cirurgia é necessária? Será que o paciente que foi recomendada uma cirurgia na coluna é preciso mesmo fazer?
Nota C&T: Não entendo o que impede de uma ação enérgica das autoridades sobre o assunto OPME (órteses, próteses e medicamentos especiais). Tudo que a Indústria Farmacêutica investe em médicos especialistas para prescreverem medicamentos comuns não é nada diante da quantidade de dinheiro que Indústrias de Órteses e Próteses pagam para cirurgiões utilizarem seus produtos em diversas cirurgias. Ortopedistas, Neurocirurgiões e Cirurgiões Cardíacos são os campeões de comissões recebidas das referidas Indústrias citadas acima. Tem Indústria pagando até 40% de comissão para cirurgias que superam os R$200.000,00 de materiais. É muito dinheiro, têm médico formado a menos de 10 anos que está milionário. Será que todas as cirurgias são necessárias? A quantidade de próteses/materiais utilizados em uma cirurgia é necessária? Será que o paciente que foi recomendada uma cirurgia na coluna é preciso mesmo fazer?
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