As
'meias sujas' de um farmacêutico são a chave para reduzir a carga tributária da
Pfizer
Zachary R. Mider
02/11/2015
(Bloomberg)
-- Se conseguir comprar a Allergan Plc -- e evitar bilhões de dólares em
impostos --, a Pfizer Inc. deverá um agradecimento a um farmacêutico da Irlanda
do Norte chamado Allen McClay.
Em
1968, McClay criou uma empresa farmacêutica em Craigavon, a meia hora de carro
de Belfast. Sem cerimônias, ele às vezes realizava reuniões com os funcionários
enquanto descascava batatas na cozinha da empresa. Depois que abriu o capital
da Galen Holdings, em 1997, McClay se tornou um dos filantropos mais ativos de
seu país e foi nomeado cavaleiro pela rainha.
Mas
sua empresa pode ter um impacto maior do que McClay, que morreu em 2010, jamais
teria imaginado. Galen foi o veículo que permitiu que quatro empresas
farmacêuticas americanas maiores, uma atrás da outra, tirassem suas operações
do regime tributário americano. A Pfizer, maior empresa farmacêutica do mundo,
poderá ser a quinta a renunciar à sua cidadania americana e a reduzir seus
impostos corporativos.
A
forma como uma pequena farmacêutica da Irlanda do Norte é capaz de provocar um
buraco tão grande no Tesouro dos EUA dá uma mostra do bizarro sistema de
impostos corporativos dos EUA. Ele permite que as empresas multinacionais de
propriedade estrangeira que operam nos EUA paguem menos impostos que aquelas
com donos americanos. Desde 2004, a maioria das empresas americanas foi
proibida de simplesmente declarar-se estrangeira para eliminar a desvantagem.
Em vez disso, muitas delas estão comprando um endereço estrangeiro por meio de
uma fusão no exterior, em transações conhecidas como inversões.
Os
negócios começaram não muito depois de McClay deixar a Galen Holdings, em 2001.
O CEO, Roger Boissonneault, realizou uma aquisição alavancada e trocou o
endereço jurídico da empresa de Craigavon para as Bermudas e depois para
Dublin, na República da Irlanda, um país de impostos amigáveis. Enquanto isso,
comandava a empresa de Nova Jersey.
Em
2009, Boissonneault fechou um acordo para comprar uma divisão de medicamentos
da Procter Gamble Co., que tem sede em Ohio, nos EUA, que mais do que duplicou
o tamanho da empresa -- e cortou a carga tributária da unidade da P&G.
Depois,
em 2013, ele vendeu a empresa à Actavis Inc., com sede não muito longe de seu
escritório em Nova Jersey. Embora fosse maior, a Actavis conseguiu adotar o
endereço irlandês -- e uma baixa carga tributária --, segundo as regras para
impostos dos EUA.
Nos
dois anos seguintes, a Actavis realizou mais dois grandes acordos nos EUA,
adquirindo a Forest Laboratories Inc. e a Allergan Inc., a fabricante do Botox.
As aquisições de ambas mais do que duplicaram as vendas da Actavis novamente. E
geraram cerca de meio bilhão de dólares em economia anual com impostos. A
empresa combinada é conhecida, agora, como Allergan.
Subsidiárias
estrangeiras
Como
é que as empresas conseguiram economizar tanto simplesmente tornando-se
irlandesas? Os EUA têm a taxa de imposto corporativo mais elevada do mundo
desenvolvido -- 35 por cento --, combinada com uma política incomum de
tributação do rendimento das subsidiárias estrangeiras das empresas americanas.
As empresas de propriedade de estrangeiros conseguem reduzir os impostos
americanos mantendo suas operações no país separadas do restante de sua
estrutura corporativa; já as corporações americanas não têm essa opção. Muitas
empresas que realizam a inversão escolhem a Irlanda, que aplica uma carga mais
baixa de impostos sobre o rendimento corporativo, de 12,5 por cento, ou o Reino
Unido, que não cobra impostos sobre os lucros estrangeiros.
Não
está claro quais termos estão em discussão, mas é provável que a Pfizer, que
tem sede em Nova York, a maior das duas empresas, adote o endereço irlandês da
Allergan.
Um
analista estimou que um negócio semelhante proposto pela Pfizer no ano passado
com o objetivo de se tornar britânica reduziria sua carga tributária em cerca
de US$ 1,4 bilhão por ano. Os porta-vozes das duas empresas preferiram não
comentar o assunto.
Quando
se aposentou, em 2001, e vendeu sua participação, McClay disse que estava
consternado com o novo foco no mercado americano e com os cortes nos postos de
trabalho em sua operação na Irlanda do Norte. Segundo o Financial Times, ele
classificou a decisão como "tão fácil quanto tirar meias sujas".
Essas meias acabaram se tornando muito valiosas em pés americanos.
Título
em inglês: A Pharmacist's 'Dirty Socks' Are Key to Cutting Pfizer Tax Bill
Para
entrar em contato com o repórter: Zachary R. Mider, em Nova York, zmider1@bloomberg.net.
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